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Mercado Interno

Suíno desvalorizado

Suinocultores gaúchos continuam recebendo pouco. Margem de lucro não passa de R$ 5,00 por animal abatido.

Suíno desvalorizado

As projeções para 2010 para a atividade suinícola gaúcha são promissoras, tanto externamente, com a possibilidade de abertura de novos mercados externos, quanto internamente, com o desenvolvimento do Projeto Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS), que busca alavancar o consumo da carne suína no Brasil, aumentando em 2 kg per capita o consumo dos brasileiros. A iniciativa parte da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e SEBRAE Nacional, juntamente com os SEBRAE’s dos Estados e associações afiliadas, como a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs).

Para tanto, o Conselho Administrativo da Acsurs nomeou como Diretor Executivo do Projeto no Rio Grande do Sul, para os próximos três anos, o Engenheiro Agrônomo Rodrigo Ramos Rizzo, que já atuou como Diretor Executivo da própria entidade, alguns anos atrás, inclusive na Coordenação do Pavilhão de Suínos da Expointer. Com experiência internacional (está concluindo uma especialização na Sicília, Itália), Rizzo possui pós-graduação em marketing do agronegócio e MBA, também em Marketing, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), sem contar sua ampla experiência profissional.

No entanto, a situação dos suinocultores no Estado segue delicada. Ingomar Gens Neubuser, sócio da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) e suinocultor desde 1986, com granjas no sistema de parcerias (na qual cria e repassa os suínos, medicamentos e ração) localizadas nos municípios de Roque Gonzales, São Pedro do Butiá e São Paulo das Missões, reclama. “Hoje trabalho com uma margem de lucro que não passa de R$ 5,00 por animal abatido, quando, o ideal, seria ter um lucro de R$ 30,00 a R$ 40,00. Estamos saindo lentamente de uma crise que durou 15 meses, na qual amargamos muitos prejuízos, onde perdíamos, por animal, de R$ 40,00 a R$ 50,00. Recuperar estes prejuízos não será fácil. Devido a este contexto, deveríamos estar recebendo, no mínimo, R$ 2,40 pelo quilo do suíno. Hoje, recebemos apenas R$ 2,15.

Neubuser é suinocultor independente e proprietário de duas granjas (UPL e creche) e mantém parceria com outras 40 granjas, as quais empregam, aproximadamente, 100 funcionários.

Em outra região do Estado, no Vale do Taquari, um produtor da Doux Frangosul que preferiu não se identificar, trabalha com o sistema de criação UPL (unidade produtora de leitão), na qual cria 300 suínos por lote, empregando dois funcionários. Ele recebe, em média, R$ 19,50 por animal entregue, com uma média de peso de 6,5kg cada. O suinocultor reclama que desde 2007 este valor não é reajustado e, ainda assim, afirma estar contente com o valor pago “Pelo que tenho conversado com outros suinocultores, de outras empresas integradas, a Doux ainda é a que melhor paga”, afirma o produtor. Porém, ele reclama que o valor pago poderia ser maior, tendo em vista que as despesas com a manutenção dos galpões onde ficam alojados os suínos estão muito altas. Logo, com os valores praticados hoje, torna-se difícil manter as contas em dia, bem como fazer novos investimentos na granja. Neste sistema de produção, a empresa fornece a alimentação dos suínos, produtos veterinários, assistência técnica e as matrizes, estas em sistema de comodato, arcando, o suinocultor, com os custos de mão de obra, energia elétrica, instalações, entre outros.

Tarcisio Kleim, suinocultor que há pouco tempo era integrado da Perdigão e agora produz para a BRFoods afirma estar descontente com os valores que tem recebido, principalmente após a recente fusão de sua empresa. “Depois da fusão os preços pioraram, eles estão pagando menos para a gente”, enfatiza Kleim. Hoje, o suinocultor que está na atividade há 30 anos, trabalha no sistema de criação de UPL, tendo 1.800 suínos em sua granja e empregando quatro funcionários, sendo a atividade a única renda de sustento da sua família. “Estamos trabalhando sem lucros, zerado, recebendo em torno de R$ 80,00 pelo suíno de 21 kg quando, o ideal, seria recebermos R$ 90,00”, afirma o produtor do município de Três Arroios.

Darlei José Schneider, suinocultor e sócio da Acsurs é produtor independente tendo granjas nos municípios de Tupandi (4) e Pareci Novo (1), nas quais tem 13 mil matrizes e produz no sistema de criação UPL. Ele vende seus suínos para a Marfrig, Cooperativa Languiru e Ouro do Sul. “Hoje o preço base do kg está em R$ 2,00. Com este valor não nos sobra quase nada, muito pouco, tornando a permanência na atividade quase que inviável. Até pouco tempo atrás, cerca de três meses, estávamos recebendo R$ 1,70 pelo kg do suíno, um tremendo prejuízo. Felizmente, nas últimas semanas houve uma melhora no preço”.

Segundo Valdecir Luis Folador, Presidente da Acsurs, “a cadeia suinícola gaúcha vem passando por um momento delicado, principalmente os suinocultores. No final de 2009 projetávamos um ano de recuperação, com o mercado dando sinais de crescimento mais satisfatórios. Porém, hoje, ainda não está ocorrendo o que projetávamos. Estamos passando por uma recuperação lenta e gradual, na qual o suinocultor tem perdido muito, financeiramente, principalmente tendo em vista os 15 meses de dificuldades enfrentadas. Este período, muito longo, não será recuperado em seis meses”, enfatiza Folador.