Redação (19/02/2009) – A suinocultura brasileira vive um momento de ajustes. A redução das exportações no último trimestre de 2008, reflexo da falta de liquidez causada pela crise internacional, desequilibrou a oferta de suínos no mercado interno. Com a oferta superior à demanda e os estoques subindo nas indústrias, os preços pagos ao produtor caíram.
Como se não bastasse, a quebra parcial da safra brasileira de milho elevou o preço do insumo. O encarecimento dos grãos exerce hoje grande pressão sobre os custos da atividade. Em várias partes do País já existe produtor pagando para produzir. “Teremos um cenário complicado para atividade nestes primeiros três meses”, afirma Fernando Pereira, diretor-superintendente da Agroceres PIC. “Não podemos, no entanto, tomar esta situação como uma extensão para o resto do ano”, minimiza.
Segundo Pereira, apesar do atual quadro de desequilíbrio entre oferta e demanda, a suinocultura brasileira tem novas e boas oportunidades no mercado internacional. “Só precisamos trabalhar para transformar essas oportunidades em fatos concretos”, observa o executivo da Agroceres PIC.
Ao mesmo tempo, avalia Pereira, a tendência é que a demanda por carne suína também se mantenha aquecida no mercado interno. “Isso em razão do seu preço muito competitivo em relação a carne bovina e do espaço conquistado na preferência do consumidor no ano passado, mesmo em um contexto de preço muito mais elevado do que o atual”, explica.
Trabalho e cautela – Diante do atual cenário, Pereira recomenda cautela. Também adverte aos produtores que hoje, mais do que nunca, é preciso trabalhar para extrair a eficiência máxima de seu negócio. “Em tempos de mercado adverso manter-se competitivo é fundamental", diz. "Não deixe que o cenário adverso do mercado o faça perder o foco naquilo que está totalmente sob seu controle, que é a eficiência da sua produção", preconiza.
Para o diretor da Agroceres PIC toda crise traz em seu bojo algumas oportunidades e é preciso estar atento as que virão depois deste período de ajuste. “O produtor precisa ficar atento as nuances do mercado para ajustar sua produção. Precisa estar preparado para voltar a crescer na hora certa. E o melhor momento para expandir não é quando as margens estão há alguns meses consistentemente boas, pois os ciclos de expansão e ajuste da oferta continuarão a existir. Vai se dar melhor aquele que souber visualizar com antecedência o que vai acontecer mais à frente”, afirma Pereira.
Suinocultura Industrial aproveitou a participação do diretor da Agroceres PIC no Show Rural da Coopavel para bater um papo franco com ele sobre o desempenho da suinocultura brasileira em tempos de crise mundial, sobre a quebra da safra brasileira de milho e sua influência nos custos de produção do setor hoje e ao longo de 2009 e sobre como o produtor deve se comportar neste momento turbulento.
Os melhores trechos da conversa você confere a seguir.
Suinocultura Industrial – Tendo a crise global como pano de fundo quais as perspectivas para o setor suinícola para os próximos três meses?
Fernando Pereira – Infelizmente teremos um cenário complicado para a atividade nestes primeiros três meses. Principalmente em razão das exportações, que estão travadas por conta dos problemas de liquidez no mercado internacional.
Temos uma sobra de produção em função da baixíssima exportação nos últimos três meses [novembro e dezembro de 2008 e janeiro de 2009] e esse volume certamente vai influenciar o mercado pelo menos até abril.
SI – O senhor acredita numa melhora do desempenho do setor antes do segundo semestre?
Pereira – Uma melhora sim, mas nada parecido com os bons momentos vividos pelo setor no ano passado. Em 2009 teremos uma produção maior e portanto, a oferta de carne no mercado interno será maior. Por extensão, não se espera um ano com altas margens de lucratividade. Vivemos um período de ajuste entre produção e demanda que vai perdurar por todo o ano de 2009.
SI – Diante desse cenário qual o comportamento mais recomendado para o produtor?
Pereira – Cada produtor tem um perfil e vive uma situação particular. Não existe fórmula pronta. Controlar bem o fluxo de caixa é vital, uma vez que os custos financeiros, apesar da ilusão que se tem pela queda de juros promovida pelo Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central], que infelizmente não se reflete diretamente no custo do dinheiro que o produtor pode tomar. O cuidado com o fluxo de caixa, portanto, é absolutamente vital neste período.
Fora isso vale a regra de sempre: buscar extrair a eficiência máxima de seu negócio. Em tempos de mercado adverso manter-se competitivo é fundamental. Além disso, grande foco tem que ser dado à oportunidade que virá depois desse período de ajuste. O produtor precisa ficar atento as nuances do mercado para ajustar sua produção. Precisa estar preparado para voltar a crescer na hora certa. Vai se dar melhor na história aquele que souber visualizar com antecedência o que vai acontecer mais à frente.
SI – A quebra de safra no Brasil, Argentina e Paraguai já elevou o preço do milho no mercado interno. Em sua opinião quais são as perspectivas para o abastecimento e preço do milho no Brasil este ano? Há motivo para preocupação?
Pereira – Certamente a quebra de safra elevou o preço do milho. Entretanto, sob o ponto de vista do consumidor de milho, as perspectivas de abastecimento do insumo são melhores neste momento. E é simples de entender o porquê. Estávamos correndo um risco enorme devido ao grande excedente de milho existente no mercado brasileiro. Como se sabe, quando a oferta é muito grande os preços caem e essa situação desestimula o plantio da próxima safra. Se isso de fato acontecesse, nós consumidores de milho, teríamos que pagar um preço muito alto pelo insumo.
No entanto, a excelente exportação de milho registrada em dezembro e janeiro reduziu os estoques e estimulou o produtor de milho para o plantio da próxima safra [safrinha]. Para se ter uma ideia, em dezembro passado registramos recorde na exportação de milho com o envio de 1,34 milhão de toneladas e em janeiro exportamos 750 mil toneladas do cereal.
Essa situação é boa para a decisão de plantio da safrinha. Isso indica uma maior possibilidade de termos um abastecimento normal de milho em 2009, embora seja ainda prematuro uma quantificação mais segura disto. Por outro lado, é também provável que os preços não devem recuar de forma substancial durante o período de colheita.
Em todo caso, é melhor que o suinocultor tenha um custo um pouco maior na compra do milho agora, mas ainda dentro de parâmetros normais, do que ter que conviver com escassez de milho e preços proibitivos na maior parte do ano.