Por Martin Riordan, Presidente da Associação dos Suinocultores de Santa Rosa (Assar)
Para analisar as perspectivas para a suinocultura gaúcha em 2011, precisa examinar os componentes da cadeia de produção separadamente.
1) Indústrias: a demanda interna nacional por produtos suínos cresceu em 2010, compensando a falta de crescimento das exportações. Por enquanto não vi nenhum argumento que esta demanda vai diminuir. A alta no custo dos alimentos para suínos é um fenômeno global que já está provocando o fechamento de granjas em vários países do mundo (este mês foi anunciado a desativação de uma das maiores granjas na Irlanda). Com a diminuição da produção, e o consumo global de carne suína prevista para aumentar 2% em 2011, o preço internacional vai subir, tornando o mercado de exportações mais atraente. Por estes motivos, acredito que as grandes e pequenas indústrias no Brasil terão um ano bom.
2) Produtores integrados: se as indústrias vão bem, seus produtores integrados não vão passar fome. No RS, algo em torno de 80-90% da produção vem de produtores integrados ou granjas das próprias indústrias e portanto este segmento representa a grande maioria dos suinocultores do Estado. Sabe-se que os ganhos dos integrados são determinados por contratos, que não permitem grande variação na renda do produtor, mas neste ano acredito que será acima da média.
3) Produtores independentes: os produtores relativamente pequenos podem ter um ano com preços acima da média de 2010. Sua rentabilidade vai depender principalmente do custo de alimentação, ou seja, o custo de soja e milho. Hoje estes custos são altos, e nada indica que vão baixar. Portanto, o preço precisa se manter num patamar mais alto para gerar lucro.
Os grandes produtores enfrentam um dilema. Por muito tempo não era viável vender suínos fora do Estado, pois a diferença de preço não cobria os custos de transporte e impostos. Neste período, estes produtores dependiam totalmente da única indústria grande que comprava no mercado. No segundo semestre de 2010, com o aumento do preço do suíno no Sudeste do país, vários produtores começaram a enviar a maior parte da sua produção para fora do Estado. Neste meio tempo, a indústria que comprava estes suínos tem se tornado altamente auto-suficiente em material de abate. E quando vier a próxima crise e não for econômico enviar suínos para fora do Estado? Onde estes suínos serão absorvidos? Eis a questão que os grandes precisam analisar com urgência.
Portanto, acredito que vai ser um ano misto, bom para alguns e difícil para outros. Com certeza o modelo típico de suinocultura está mudando, e os produtores precisam se adaptar a esta mudança.