A Ucrânia anunciou ontem (20) a suspensão das importações de carnes brasileiras, a exemplo do que aconteceu com a Rússia na semana passada. Da mesma forma, o embargo deve afetar mais os suinocultores, que tem os ucranianos como o terceiro maior mercado, com embarques médios de 40 mil toneladas por ano. Em contrapartida o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento fará, no dia 24 deste mês, uma visita a África do Sul, para tentar retomar os embarques de suínos para aquele país.
A situação da suinocultura brasileira parece ficar mais complicada a cada dia. Isso porque no dia 15 de junho entrou em vigor o embargo russo à carne dos estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. A medida que atingiu 85 frigoríficos do País, afetou principalmente o setor de suínos que permaneceu com apenas uma planta certificada para embarcar para a Rússia. Ontem foi a vez da Ucrânia suspender suas importações do Brasil, e mais uma vez os porcos foram o principal alvo. Segundo fonte ligada ao setor, o embargo não atinge todos os frigoríficos e é mais uma manobra russa para vencer a quebra de braço com o Brasil em relação à entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, afirmou ter sido procurado por empresas do setor alertando ao fato, entretanto não soube dar muitos detalhes. “As empresas receberam direto o comunicado da Ucrânia e algumas já falaram sobre isso comigo. Nem as empresas entenderam direito o que aconteceu. Então vamos esperar um pronunciamento do ministério”, disse.
Segundo fonte ligada ao setor de carnes, entre as primeiras empresas que receberam o comunicado estão a Brasil Foods e a Marfrig, que em nota afirmaram desconhecer o fato. O Mapa também informou que até o momento nenhum comunicado oficial foi enviado ao ministério.
Rússia – O Ministério da Agricultura brasileiro enviou ontem à Rússia o documento traduzido com as respostas sobre as indagações a respeito dos frigoríficos embargados. A atitude considerada muito tardia pelo setor não trouxe alívio aos suinocultores. “O Mapa demorou demais. Agora todos no setor pagarão o pato, e algumas empresas acabarão fechando, porque não tem como sobreviver. Não temos como diminuir a produção de suínos de uma hora para outra, como acontece com os frangos”, frisou Mário Lanznaster, presidente da Aurora.
Segundo ele, a única saída para a empresa que já não comprava suínos de produtores independentes há algum tempo, dada a demanda menor, será introduzir os animais no mercado interno brasileiro. “Com a Rússia, sofremos bastante. Com o corte do Rio Grande do Sul, levamos bastante prejuízo. Essas carnes terão que entrar no mercado interno, e vão tumultuar ainda mais os preços. Não temos como reduzir a produção de suínos de uma hora para a outra, porque a criação é diferente. Além disso, teremos que estocar boa parte da produção e isso é ruim, porque conservar carnes nas câmaras tem um custo muito alto”, finalizou o executivo da Aurora.
África do Sul – Enquanto rumores e expectativas tiram o sono dos suinocultores brasileiros, em relação à Rússia e a Ucrânia, o Ministério da Agricultura está em busca de outros mercados. Apesar de não ser nova, a África do Sul pode ser uma saída para minimizar a atual crise do setor. No dia 24 deste mês o diretor de Assuntos Sanitários e Fitossanitários do Ministério da Agricultura, Otávio Cançado estará na África do Sul, onde se reunirá com diretores do Departamento de Agricultura e Pesca do país, com o objetivo de discutir a reabertura do mercado sul-africano para as exportações de carne suína do Brasil, embargadas desde outubro de 2005.
Na época a África do Sul resolveu embargar as importações brasileiras de suínos por conta de focos de febre aftosa. Outros países que também resolveram vetar os embarques da carne do Brasil já voltaram a comercializar com o País há algum tempo. Entretanto, a África ainda resiste a reabertura. “A África do Sul é o último país a retomar as importações de carne suína do Brasil desde o foco de febre aftosa visto em 2005. Estamos indo lá negociar isso, porque não há mais elementos técnicos que justifiquem esse embargo. Eles já foram o terceiro ou quarto principal mercado do Brasil”, afirmou Cançado, de Bruxelas na Bélgica.