O Mercosul e a União Europeia (UE) vão fazer uma nova reunião no início do próximo ano para tentar relançar a negociação do acordo de livre comércio birregional, que poderia ampliar em alguns bilhões de dólares suas exportações. A ideia é de, uma vez retomada a barganha, fechar o acordo “super-rapidamente”.
Depois de três dias de reunião em Lisboa, encerrada na sexta-feira (06/11), negociadores dos dois blocos concluíram que ainda havia “distância considerável de expectativas”. Mas saíram com o acerto de nova reunião, estimando que vale a pena continuar tentando aproximar as posições, ainda mais que os setores econômicos, sobretudo da UE e do Brasil, querem concluir o acordo em 2010, bem mais do que no passado.
O setor automotivo europeu, por exemplo, indica que prefere muito mais um acordo com o Mercosul do que com a Coreia do Sul. A indústria europeia tenta convencer os Estados-membros a não dar aval para o acordo já negociado com os coreanos. A preferência ao bloco do Cone Sul favorece montadoras europeias, enquanto o acordo com os coreanos abre o mercado europeu para alguns de seus principais concorrentes, com preços bem mais baixos.
Os europeus se mostram mais flexíveis sobre os parâmetros para a retomada da negociação. Quando a negociação foi suspensa, há cinco anos, o Mercosul tinha recuado na área automotiva e reduzido a cobertura do acordo de 90% para 74% do comércio bilateral. Até recentemente, Bruxelas insistia que só voltava a conversar se a cobertura de 90% fosse restabelecida.
Agora, segundo fontes brasileiras, os europeus parecem dispostos a aceitar cobertura menor até porque o próprio conceito do que isso significa continua nebuloso. Afinal, argumenta o Mercosul, o percentual de 90% para liberalização poderia ser alcançado facilmente se Bruxelas abrisse mais o comércio agrícola, em vez de insistir em comércio administrado com o bloco através de cotas (limita a quantidade dos produtos que entram em seu mercado).
Ficou claro, e sem surpresas, em Lisboa, a persistente e grande diferença nas expectativas de ganhos na área agrícola, enquanto o setor industrial brasileiro sinaliza com novas ofertas de maior abertura do mercado.
Também parece evidente para negociadores que um acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul incluirá ofertas diferenciadas do bloco do Cone Sul. Ou seja, o Brasil fará mais concessões aos europeus do que a Argentina. Mas essa questão da diferenciação, e seu percentual, não vão aparecer na retomada da negociação, e sim no fechamento do acordo.
Na sexta-feira, coincidindo com o fim da reunião UE-Mercosul em Lisboa, Bruxelas divulgou um estudo mostrando que os exportadores europeus enfrentam mais de 200 novas barreiras comerciais restritivas desde o começo da crise econômica global.
A Argentina é o segundo país com mais barreiras contra produtos europeus, num total de 35, comparado a cinco do lado brasileiro. Só a Rússia supera os argentinos e, número de barreiras, com 43 medidas.