Redação AI 25/05/2005 – O Brasil poderá ter problemas para exportar frangos para a União Européia a partir do final deste ano. É que, em janeiro de 2006, entra em vigor a proibição da UE ao uso de promotores de crescimento na criação das aves.
Só a UE foi responsável por 19% das receitas brasileiras com as
exportações de frango no ano passado. E a preocupação dos produtores é que outros países possam vir a adotar as mesmas exigências européias. Esses promotores de crescimento são antibióticos, usados de forma contínua na alimentação dos frangos em pelo menos 95% da produção brasileira.
E o tempo encurta para os produtores que exportam para a UE, que terão no máximo a possibilidade de criação de dois novos lotes de frangos com o uso dos promotores de crescimento. O terceiro lote já atingirá o limite máximo estabelecido pelos europeus para a eliminação desses antibióticos: 31 de dezembro deste ano. No ano passado, o Brasil exportou 278 mil toneladas de frango para a UE, 11% do total vendido ao mercado externo. As receitas vindas da Europa somaram US$ 469 milhões, segundo dados da Abef (associação dos exportadores de frangos).
O setor produtor está ciente dessas limitações que serão impostas pelos europeus, mas pintam diferentes cenários para as exportações. “É apenas mais uma barreira comercial e não vai se sustentar, principalmente porque eles precisam do nosso frango”, dizem uns. “A proibição é uma questão alimentar e veio para ficar”, acrescentam outros. Se eles têm opiniões diferentes sobre o cenário futuro, o mesmo não ocorre com a previsão de custos. São unânimes em afirmar que a eliminação dos promotores de crescimento vai aumentar os custos de produção e os europeus não parecem propensos a pagar essa diferença.
* Bactérias resistentes*
Os europeus exigem o fim do uso contínuo dos antibióticos na produção de carnes porque esses antibióticos podem criar bactérias mais resistentes, o que afetaria também a saúde humana, na avaliação deles. Não existem ainda estudos científicos provando que os antibióticos usados na produção de carnes causam resistência no organismo humano, mas uma coisa é certa: independentemente disso, os europeus não os querem mais. O frango exportado para os europeus é o mesmo consumido pelos brasileiros. Guilherme Minozzo, diretor da Alltech do Brasil, empresa que produz um substituto natural (sem química) para os promotores de crescimento, diz a posição dos europeus “é irreversível”.
“O Brasil, se quiser exportar para a Europa, terá de se adaptar [às exigências dos europeus]”. E acrescenta: “Muitos países vão seguir a legislação européia”.
Ariel Mendes, diretor da União Brasileira de Avicultura e professor titular de avicultura na Unesp de Botucatu (SP), concorda com Minozzo: “A posição dos europeus é irreversível; eles vêm sinalizando isso há muito
tempo”. Outra empresa que sente a necessidade de o Brasil se preparar para o mercado europeu no próximo ano é a Basf. A empresa desenvolveu um produto específico para a substituição dos antibióticos. Ansgar Wille, diretor da divisão de química fina da empresa, diz que “o objetivo é inovar, apresentando produtos naturais, sem a presença de antibióticos e sem restrições ao metabolismo humano e animal”.
A Macedo, Koerich S.A., de Santa Catarina, é uma das empresas que acreditam que os europeus vão até o fim com essa proibição. Após uma fase de testes, a Macedo começou a produzir, em escala comercial, “frango verde” (alimentado apenas com produtos naturais) a partir de fevereiro.
Patrícia Tomazini Medeiros, gerente de nutrição animal, está motivada com esse novo desafio, mas diz que os caminhos não são fáceis.
“Não existe um modelo de produção no mercado. Cada empresa vai ter que “reaprender” a produzir”, diz ela. Por ora, a Macedo vai produzir o “frango verde” para o mercado exportador e o convencional, para o interno.
* “Reinventar” a produção*
“A preocupação com o alimento seguro é legítima, mas existe muita pressão política e pânico injustificado”, diz Fernando Vargas, gerente de fomento da DaGranja, ao analisar a proibição européia. Com o abate de 115 milhões de aves por ano e responsável por 1,5% das exportações brasileiras de frango, a paranaense DaGranja também começa a desenvolver um projeto piloto para a produção sem os promotores de crescimento. Vargas diz que a passagem do sistema de produção convencional para o natural não é tão simples. “É reinventar a produção do frango industrial.”
A paulista Korin Agropecuária, empresa que produz “frango verde” há dez anos, sabe que o caminho inicial não é fácil. “A produtividade no início era muito ruim, mas, com o passar do tempo, já estamos com custo de produção próximo à do frango convencional”, afirma Luiz Carlos Demattê Filho, gerente de produção animal da Korin.
“No início, nosso modelo era visto com muita desconfiança”, diz esse
médico veterinário que desenvolveu mestrado no assunto. Atualmente, o “frango verde” da Korin já atinge o mercado externo e está em 400 pontos-de-venda no país.
* Custo igual*
Mendes diz que, para se adequarem às exigências, os produtores podem simplesmente não usar os dois promotores de crescimento ainda permitidos (avilamicina e flavomicina), mas haverá perda de produção. O professor acredita que cerca de 95% da produção ainda usa antibióticos.
Demattê concorda que produzir frango natural ainda é mais caro, principalmente porque a escala de produção é menor. “Quanto ao preço, há uma tendência em se pagar mais pelo produto, mas não são todos que aceitam esse pagamento.” O custo, segundo Demattê, pode variar de 10% a 20% a mais do que o convencional.
Minozzo diz que o país caminha para um estágio em que poderá produzir frango e suínos naturais com o mesmo custo de produção com o uso de antibióticos.
Demattê deixa claro, no entanto, que produzir carnes naturais não regredir no tempo. “É necessário buscar a condição mais natural possível, mas não voltar ao sistema de produção de cem anos atrás. A produção deve ser sustentável, com a utilização de tecnologia e de conhecimento.”
“O objetivo é atingir um padrão de produção melhor ou igual ao que utiliza produtos químicos”, diz Demattê. Para atingir esse objetivo, a Korin já desenvolveu um modelo próprio, inclusive para a produção da ração usada na alimentação das aves.