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Economia

Unctad pede intervenção no mercado de commodities

Unctad sugere que os governos façam uma "intervenção direta" nos mercados de commodities para evitar bolhas ou colapsos de preços.

A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) sugeriu ontem que os governos façam uma “intervenção direta” nos mercados de commodities para evitar bolhas ou colapsos de preços, que só costumam provocar mais problemas para a economia mundial.

A Unctad voltou a apontar a especulação financeira como um elemento chave nas fortes variações de preços globais de commodities nos últimos anos. Investidores como hedge funds e negociações aceleradas (high-frequency) seriam responsáveis, na visão da agência, por uma persistente oscilação nos preços, daí a necessidade de os governos agirem para impor mais transparência e controle nos mercados.

A Unctad estima que o volume de transações nos mercados futuros já é entre 20 e 30 vezes maior do que a produção física de petróleo, trigo, açúcar, oleaginosas e até gado vivo, e seu alerta ocorre num cenário de expectativas sobre o impacto nas commodities das recentes medidas de afrouxamento monetário do Fed, o banco central dos Estados Unidos.

Estudo do banco francês BNP Paribas mostra que com o “QE1”, o primeiro programa do Fed para conferir liquidez adicional nos mercados, o CRB Food Index registrou alta de 20%, o CRB Metal Index subiu 80% e os preços do petróleo Brent subiram 61%, enquanto o dólar recuou 7% em relação a uma cesta de moedas. Durante o “QE2”, o impacto foi menor, mas indiscutível: os preços dos alimentos subiram 16%, os de petróleo saltaram 29% e o dólar recuou 3%.

Com o anúncio do “QE3”, na semana passada, os grãos (soja, milho e trigo), por exemplo, logo subiram na bolsa de Chicago, mas realizações de lucros influenciaram quedas superiores a 4% só na segunda-feira.

Esse forte movimento de diversas commodities primárias, incluindo petróleo, tem esquentado os debates sobre causas e remédios. A crescente demanda de emergentes e frequentes choques de oferta são geralmente aceitos como os fatores mais importantes para explicar a vulnerabilidade, mais do que as centenas de bilhões de dólares em apostas em uma certa tendência de preços.

Mas estudo da Unctad avalia que os mercados financeiros estão guiando os preços das commodities mais do que questões ligadas à produção física. “A correlação entre preços de commodities e especulação financeira está se tornando mais forte que em 2009”, diz o economista-chefe da Unctad, Heiner Flassbeck.

Em 2011, a Unctad estimou que a especulação representava ao menos 20% do preço petróleo. Agora, propõe aos governos que adotem um preço-limite para a principal commodity global, da mesma forma que alguns bancos centrais estabelecem limites para a valorização de suas moedas, como a Suíça atualmente. Para produtos como açúcar e soja, a situação é outra, mas a agência também prega algum tipo de controle.

A agência sugere que a intervenção nos mercados poderia ser feita por meio de um fundo global de commodities ou dos bancos centrais. Mas sabe que isso está longe de se concretizar. O objetivo de Flassbeck ontem foi, mais uma vez, alertar contra o que ele considera uma “visão equivocada” dominante na cena internacional sobre as reais causas da enorme volatilidade de preços.