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Cadeia Alimentar

União Europeia e Brasil discutem desperdício de alimentos

Evento no Museu de Arte do Rio de Janeiro discutirá estratégias nacionais e outros instrumentos voltados para a indústria, o varejo e o consumidor, ou seja, para as etapas finais da cadeia alimentar

União Europeia e Brasil discutem desperdício de alimentos

AgostoSeminário Sem Desperdício – Diálogo União Europeia – Brasil, que ocorrerá em 31 de outubro, no Rio de Janeiro, pretende ampliar a discussão e o compartilhamento de experiências para reduzir perdas e desperdício de alimentos. O evento no Museu de Arte do Rio de Janeiro discutirá estratégias nacionais e outros instrumentos voltados para a indústria, o varejo e o consumidor, ou seja, para as etapas finais da cadeia alimentar.

Para tratar práticas pontuais ou estratégias mais amplas já em execução, serão apresentados casos de sucesso de países europeus que podem ser implementadas em outros locais e servir de base para a estruturação de ações.

Já para exemplificar o que ocorre nas etapas iniciais da produção de alimentos, os especialistas europeus visitarão uma propriedade rural referência em produção orgânica e aproveitamento de resíduos da colheita e do processamento, na região serrana do Rio de Janeiro. “Com uma produção diária de dez toneladas de hortaliças por dia, cinco são de resíduos”, informa Aline Bastos, analista da Embrapa Agroindústria de Alimentos, uma das coordenadoras do evento. Aline explica que as sobras da colheita e do processamento mínimo das hortaliças são usadas para compostagem: “Essa prática diminui o impacto ambiental, o custo com logística – já que não é necessário contratar caminhões para o transporte desses resíduos, e ainda gera um insumo para a produção orgânica”. As frutas e hortaliças da região abastecem os principais supermercados e restaurantes da capital e cidades vizinhas.

Durante o evento, que conta com a parceria da Rio Alimentação Sustentável, que reúne mais de 30 instituições governamentais e da sociedade civil, e apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, serão organizadas ações paralelas para envolver a população. Haverá uma exposição da campanha Sem Desperdício , liderada pela WWF-Brasil, Embrapa e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e ainda a Feira Rio Alimentação Sustentável, uma feira modelo com a participação de cooperativas agrícolas, produtores orgânicos e eco-chefs, que ministrarão oficinas sobre o aproveitamento integral dos alimentos.

O projeto para a organização do evento foi aprovado pela plataforma Diálogos Setoriais , parceria estratégica entre União Europeia e Brasil para favorecer o intercâmbio de conhecimentos, experiências e melhores práticas sobre temas de interesse mútuo. “A Embaixada da Dinamarca, país com diversas iniciativas interessantes para redução do desperdício no varejo e consumo, ao tomar conhecimento da campanha Sem Desperdício, colocou-se à disposição da Embrapa para contribuir com a iniciativa. Com a aprovação nos Diálogos Setoriais, a delegação da União Europeia estendeu o convite a outros países-membros e a receptividade foi muito positiva. Além da Dinamarca, as representações da Holanda, Suécia, França, Bélgica, Espanha e Alemanha já estão engajadas com o projeto”, explica Gustavo Porpino, coordenador de Comunicação Mercadológica da Secretaria de Comunicação da Embrapa e também um dos organizadores do evento.

Na plataforma, o projeto foi elevado à categoria Top-Down por proporcionar diálogo político de alto nível e estar enquadrado como área prioritária dessa convocatória, que inclui agricultura, ciência e tecnologia, compras públicas, direitos humanos, sociedade da informação e transporte aéreo. No Brasil, a iniciativa é coordenada pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e pelo Ministério das Relações Exteriores.

Ainda como extensão das ações, o projeto, que tem duração de um ano, contratará um consultor externo para conduzir um estudo quantitativo sobre desperdício de alimentos no Brasil, com foco no consumo das famílias, uma demanda da União Europeia e também uma lacuna identificada em estudos já realizados no Brasil. Os componentes do projeto deverão integrar uma missão à União Europeia para conhecer as iniciativas de comunicação voltadas para o consumidor, indústria e varejo.

Evento do Save Food Brasil 

Segundo a FAO, cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido. O tema está sendo debatido em diversas instâncias e se relaciona a um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: “Até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, em nível de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita”.

No entanto, não existe uma metodologia única, padrão, para mensurar as perdas que ocorrem em todo o mundo, explica o pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Murillo Freire Junior, também representante da iniciativa Save Food Brasil, idealizada pela FAO. No evento Desafios para Redução de Perda e Desperdício de Alimentos no Brasil, que acontecerá em São Paulo, no dia 26 de setembro, o diretor da World Resources Institute (WRI), Craig Hanson, apresentará um protocolo para cálculo de perdas e desperdício de alimentos. “A partir daí, avaliaremos suas características e verificaremos se o protocolo é viável de ser aplicado no Brasil e se há necessidade de adaptações para a nossa realidade. Temos que saber para quais produtos ele é válido – grãos, carnes, pescado, frutas e hortaliças – porque cada um traz suas especificidades quanto à validade”, explica Murillo.

O segundo painel discutirá a legislação brasileira, a doação e o papel dos bancos de alimentos, com apresentação de experiências como a do Sesc, com o programa Mesa Brasil, uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome. Em um terceiro momento, serão apresentadas tecnologias e inovações, como embalagens que podem proporcionar redução de perdas e o banco Ceagesp de alimentos, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo. 

Outro evento continuará as discussões em 2018. Murillo esclarece a importância dessas iniciativas: “A expectativa é dar mais foco ao tema, compartilhar informações com os principais atores da cadeia, saber o que as empresas estão fazendo e conhecer as iniciativas que estão sendo desenvolvidas em outros países, como na Argentina, onde a população faz uma sopa para aproveitamento de vegetais e folhosas e isso vira um grande evento que promove a discussão dos hábitos de consumo do país”.

Discussão em outros painéis

A Embrapa também está participando das discussões na Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan ), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA). Na última reunião, ocorrida em 24 de agosto no MDSA, foi analisada a proposta de estratégia para prevenção e redução de perdas e desperdícios de alimentos no Brasil, apresentada pelo consultor André Machado, contratado pela FAO Brasil. A proposta conta com quatro eixos de ação: 1. Promoção de pesquisas e inovação tecnológica; 2. Educação e comunicação; 3. Promoção de Políticas Públicas; e 4. Marco Regulatório. Os pesquisadores Murillo Freire, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Gilmar Henz, da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia, e o analista Gustavo Porpino, da Secretaria de Comunicação, participam do grupo de trabalho que avaliou os planos de ação.

Ao longo das quatro reunião realizadas pela CAISAN, foram discutidas iniciativas legislativas, como o projeto de lei nº 3070/2015, que propõem o estabelecimento de regras específicas para erradicar o desperdício, assim como questões relacionadas à rotulagem dos alimentos.

O Terceiro Diálogo Regional, que aconteceu em junho em Santiago, no Chile, reconheceu que as perdas e os desperdícios de alimentos têm importantes implicações ambientais, econômicas e sociais e impactam a sustentabilidade dos sistemas alimentares e registrou o avanço de iniciativas globais e regionais em curso e os atores-chaves envolvidos, bem como pontuou a necessidade da criação de um instrumento que harmonize esses esforços nos âmbitos urbano e rural nas dimensões local, nacional, regional e global.