O Mercosul e a União Europeia começaram ontem mesmo a cobrar concessões recíprocas, logo depois do relançamento da negociação do acordo de livre comércio que até o último minuto sofreu a oposição comandada pela França. Ao anunciar a retomada, o chefe do governo espanhol, José Luiz Rodriguez Zapatero, disse que uma maioria de países é a favor de voltar a negociar com vistas a concluir um acordo “equilibrado e ambicioso” com uma das regiões que mais crescem no mundo.
O governo espanhol estima que os principais beneficiários do acordo serão precisamente os países do Mercosul que mais precisam de desenvolvimento. Segundo ele, o Paraguai pode incrementar em 10% seu Produto Interno Bruto (PIB) como consequência do acordo, o Uruguai 2,1%, o Brasil 1,5%, a Argentina 0,5%, e a UE 0,1%.
Como o Valor antecipou, o comunicado dos dois blocos diz que a primeira rodada de negociação da fase final ocorrerá no mais tardar no começo de julho. Mas nada foi fácil. Pela manhã, o comissário europeu de Comércio, Karel de Gucht, dizia a empresários que “a situação está difícil”, com os ministros de Agricultura reunidos em Bruxelas. Mas houve um racha, com vários ministros do setor também manifestando apoio ao acordo, como a Alemanha e a Espanha.
Gucht voltou a advertir que a UE tem “graves obstáculos” para atender as pretensões do Mercosul na área agrícola. Ao mesmo tempo, cobrou do bloco do Cone Sul que faça concessões “suficientes” em produtos industriais, serviços, compras governamentais, proteção de patentes e de investimentos estrangeiros, desenvolvimento sustentável e indicações geográficas de produtos agrícolas.
Ele deu o recado em conversa com os representantes do Fórum Empresarial UE-Mercosul, o brasileiro Carlos Mariani e o espanhol Inaki Urdangarin, engajados na negociação em nome dos setores industriais dois dois blocos.
Por sua vez, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, tem suas duvidas sobre o andamento das “conversas”, ainda mais diante da posição da França, que considerou “decepcionante e surpreendente” vindo de um parceiro estratégico.
O ministro sinalizou que o Mercosul está pronto a negociar. Exemplificou que as discussões envolvendo o setor automotivo já giram em torno do prazo de dez anos para a derrubada das barreiras de importação no Brasil para carros europeus, em vez dos 15 anos que o bloco recentemente sugeriu, mas que evidentemente haverá muita divergência até se chegar a um compromisso diante de tantos interesses envolvidos.
O deputado europeu José Salafranca acha que a situação está complicada, mas que o desacordo está basicamente em 10% do comércio, que trata dos produtos sensíveis, e também sobre como compensar os agricultores europeus pela perda que terão na concorrência com os produtos do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A Europa está ainda mais na ofensiva em meio à sua pior crise econômica dos últimos tempos. “Comércio faz parte do plano de recuperação da Europa”, disse Gucht. “Nossa economia depende de mercados abertos e integrados”, disse.