A evolução das exportações brasileiras no primeiro bimestre de 2010 já reflete as perspectivas de recuperação estimadas para as vendas a alguns países e regiões. Nos primeiros dois meses do ano, o valor de todas as exportações brasileiras cresceu 21,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Para alguns países, porém, o aumento foi maior. Na América Latina, mercado importante para os manufaturados brasileiros, as vendas foram puxadas pelos sócios do Mercosul – 59,8% mais para a Argentina e 51,6% para o Paraguai. Para a Ásia, os embarques (em valor) aumentaram 29%, com destaque para os básicos (33% de alta) e manufaturados (36% mais).
Um dos maiores aumentos foi registrado nas vendas à Índia, que cresceram 206%, enquanto os embarques para a China aumentaram 39,4%. No Oriente Médio, a Arábia Saudita importou 45,9% mais do Brasil, e o Irã, 76%. São diversos os fatores que levaram à recuperação das exportações para esses países.
O desempenho nas vendas para essas regiões está muito acima dos embarques para a Europa e os Estados Unidos. No primeiro bimestre de 2010, a União Europeia comprou 16,62% a mais que no mesmo período do ano passado, enquanto os embarques do Brasil aos Estados Unidos cresceram 17,31% – em ambos os casos, abaixo do desempenho geral do período.
O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, observa que o aumento das exportações à Argentina está relacionado à perspectiva de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), que, após cair no ano passado, deve crescer em torno de 3,5% em 2010.
“As exportações no primeiro bimestre refletem o ritmo de recuperação econômica dos diversos países. Em alguns locais , mais lento. Em outros, um ritmo mais acentuado”, diz Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados. Ela lembra, porém, que a elevação em relação à Argentina deve-se também à base de comparação baixa, já que as compras do país vizinho de produtos brasileiros caíram mais no início do ano passado em relação aos demais países. No primeiro bimestre de 2009, as exportações do Brasil à Argentina tiveram queda de 48,9%. As vendas totais ao exterior de mercadorias brasileiras caíram 25,7%.
Silveira acredita que, apesar da base baixa, a elevação das exportações para a Argentina é um indicativo de um início de recuperação que deve se espalhar para os demais países da América do Sul, muitos deles com estimativas favoráveis de crescimento do PIB, como Paraguai, Peru e Colômbia. “Esse bloco deverá fazer a grande diferença em relação ao ano passado, levando em conta os motores do setor externo.”
A América Latina, lembra Silveira, é um mercado para os manufaturados brasileiros e uma oportunidade de recuperar um pouco a venda de bens com maior valor agregado. Entre os itens que puxaram as vendas brasileiras aos argentinos estão os automóveis, cujos embarques saltaram de US$ 176,2 milhões no primeiro bimestre do ano passado, para US$ 376,9 milhões nos dois primeiros meses deste ano. Os carros representaram 14,2% dos valores exportados à Argentina no período.
Para André Sacconato, economista da Tendências Consultoria, a Argentina promete ser um mercado mais interessante neste ano, no curto prazo, do que no longo prazo. “O país tem tomado uma série de medidas fiscais que deverão afetar seu desempenho.”
“De forma geral, a situação dos países da América Latina teoricamente melhorou este ano com o aumento de preços de metais, como níquel, cobre e prata, além do petróleo”, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “A questão é a concorrência dos países asiáticos, embora as perspectivas sejam boas, a menos que aconteça algum imprevisto.”
No campo dos imprevistos, o Chile é o exemplo dos economistas. “As estimativas para a economia do Chile iam bem, mas o terremoto deve afetar um pouco, embora o país tenha uma capacidade surpreendente de ajuste”, diz Sacconato. O impacto, diz, deve se estender para as compras de produtos brasileiros. No primeiro bimestre, as vendas para o país aumentaram 28%.
Para os economistas, um horizonte mais claro fica por conta da China e da Índia, cujas economias devem crescer pelo menos 10% e 8%, respectivamente, segundo estimativas da Tendências. As commodities dominam a pauta de exportação brasileira para os dois países.
No primeiro bimestre, o petróleo fez a diferença nos embarques para a China. As vendas brasileiras do óleo nos dois primeiros meses de 2010 alcançaram US$ 639,9 milhões. No mesmo período do ano passado foram US$ 90,6 milhões.
Nas vendas para a Índia pesou o açúcar, com exportações que passaram de US$ 109,9 milhões para US$ 256,2 milhões. Para Castro, da AEB, porém, o desempenho do valor de vendas de açúcar não deve se manter. “Os preços estão caindo e o açúcar não deverá mais ser a sensação das exportações brasileiras, como se previa.”
Beneficiados pelo aumento dos preços do petróleo, os países do Oriente Médio também chamam atenção no desempenho das exportações brasileiras. Levando em conta todos os países integrantes, o bloco comprou 52% a mais no primeiro bimestre de 2010, na comparação com o mesmo período de 2009. O crescimento fez o bloco ultrapassar o valor de produtos brasileiros adquiridos pela África, excluindo os países do Oriente Médio. Tanto no primeiro bimestre de 2009 quanto no fechamento do ano passado, as exportações brasileiras para a África foram maiores que as vendas ao Oriente Médio.
“Trata-se de uma região muito rica mas, em termos de manufaturados, há uma grande concorrência da China e do Japão”, diz Castro. O bloco, porém, tem sido grande comprador de commodities agrícolas brasileiras.
Dentro do Oriente Médio, destacam-se países árabes, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. “O item predominante na pauta são as carnes, tanto a bovina quanto o frango”, diz Wladimir Freua, vice-presidente de comércio exterior da Câmara Árabe. Levando em conta todos os países árabes, informa, a exportação de carne bovina e frango pelo Brasil atingiu US$ 401 milhões no primeiro bimestre de 2010. Em relação ao mesmo período do ano passado, o aumento foi de 42% em itens que equivalem a 26% da pauta de exportação brasileira a esse grupo de países.
Alvo de debate no último mês, em função da proposta feita pelos Estados Unidos ao Brasil para aplicação de sanção, o Irã é outro país do Oriente Médio para o qual o Brasil exportou no primeiro bimestre mais do que a média geral. As vendas de produtos brasileiros ao Irã aumentaram 76% no período. O grande item na pauta foram as carnes.