Existem motivos para preocupação quanto ao comportamento da inflação nos próximos meses? Nos últimos meses, as atenções dos empresários, do mercado financeiro e dos economistas, voltaram-se para outro indicador. O nível de atividade da economia, ou mais precisamente a retomada ou não do crescimento, passou a ser olhado com mais cuidado do que a evolução dos preços, o que é facilmente explicável diante da crise financeira internacional e da ansiedade criada por ela nos meios empresariais e no governo quanto aos seus efeitos negativos no Brasil. Comprovando que havia – e há – base para apreensão sobre o ritmo econômico, hoje já se sabe que o país terá uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) muito modesta neste ano, certamente abaixo dos 2,7% registrados no ano passado.
No primeiro semestre, em contrapartida, a inflação apresentou um comportamento bem menos alarmante, apesar dos seguidos cortes das taxas de juros, que, na opinião de alguns especialistas, poderiam animar os índices de preços. O principal termômetro inflacionário do país, o IPCA coletado pelo IBGE e que serve de base para a meta de inflação, caiu em relação ao ano passado. Nas últimas semanas, porém, ressurgiu o receio de novas pressões inflacionárias, primeiramente vindas dos alimentos e ontem com a possibilidade de o governo aprovar aumentos dos combustíveis.
O principal indutor do aumento das cotações dos produtos agropecuários foi, sem dúvida, a seca nos Estados Unidos, a mais severa em décadas. No primeiro semestre, a média de temperatura em seis de nove regiões americanas bateu recorde de alta, fazendo com que os preços futuros dos grãos se elevassem de forma muito expressiva, em especial num momento em que boa parte dos países enfrenta desaceleração ou mesmo recessão econômica. Um exemplo da alta das cotações basta – o milho subiu 60%.
O medo de um repique da inflação no Brasil ganhou força ontem com a divulgação do IPCA de julho, que subiu para 0,43%, após alta de 0,08% em junho. Em igual mês do ano passado, o índice havia sido de 0,16%. No acumulado do ano, o indicador avançou 2,76%. O grupo alimentação e bebidas foi o responsável por essa aceleração porque passou de alta de 0,68% em junho para avanço de 0,91% em julho. Mais importante do que todos esses dados foi a constatação de que nos 12 meses encerrados em julho, a inflação medida pelo IPCA ficou em 5,2%, acima dos 4,92% relativos aos 12 meses imediatamente anteriores, “invertendo o movimento decrescente que vinha sendo observado desde setembro de 2011”, segundo notou o próprio IBGE.
A recente valorização das commodities no mercado internacional já foi identificada também por outros institutos de pesquisa de preços. Pães, biscoitos e óleos já incorporam as altas nos preços da soja, do milho e do trigo nas últimas semanas. Até agora, as carnes ajudaram a amenizar as pressões sobre os alimentos. Mas esse cenário, segundo os especialistas, tende a mudar porque com a chegada do período de seca, os criadores passarão a confinar o gado, trocando o pasto pela ração. A alta dos grãos vai ter impacto no preço da ração e esse custo vai ser repassado ao consumidor.
O Banco Central também apurou essa pressão – o preço médio das commodities relevantes para a inflação brasileira, medido pelo Índice de Commodities Brasil (IC-Br), subiu 7,81% em julho. O aumento foi puxado principalmente pelo preço das commodities agropecuárias, que ficaram em média 10,37% mais caras do que custavam em junho. No acumulado do ano até julho, o IC-Br registrou elevação de 8,71%.
Esse panorama de maior preocupação com a inflação ganhou ainda novos contornos com as declarações de ontem do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que confirmou que o aumento dos preços dos combustíveis tem sido constantemente avaliado pelo governo, embora uma decisão nesse sentido ainda não tenha sido tomada.
Lobão enfatizou que a elevação dos combustíveis está no campo da possibilidade, mas que o aumento pode sair neste ano. Disse também que, de um lado, o governo se preocupa com a inflação e, de outro, com os resultados da Petrobras. “Há preocupação com o processo inflacionário; a possibilidade de ocorrer o reajuste este ano existe, mas não há decisão”, afirmou o ministro. “É uma avaliação que vem sendo feita para reduzir o prejuízo da Petrobras”. O ministro disse ainda que o governo gostaria de esperar mais para realizar novo reajuste nos combustíveis, mas que isso pode não ser possível, já que a elevação autorizada em 22 de junho (de 7,83% na gasolina e de 3,94% no diesel) não foi suficiente para cobrir as necessidades da petroleira.