Na sua primeira entrevista no país, dois anos após assumir a presidência da filial brasileira da Ajinomoto, Etsuhiro Takato entoa um sonoro “muito prazer” ao cumprimentar a reportagem do Valor. Mas logo a intérprete toma um lugar à sua esquerda. “No primeiro ano de Brasil, tentei aprender português, mas desisti”, diz Takato, de 54 anos, que aos 22 ingressou na Ajinomoto. “É uma língua muito difícil”, diz o executivo, bem-humorado.
Takato tem a missão de capitanear o maior investimento dos últimos anos da Ajinomoto Brasil: entre 2011 e 2013, serão aplicados R$ 291 milhões. A meta é dobrar a produção das quatro fábricas até 2016, com especial atenção à área de alimentação fora do lar (food service), que hoje representa só 5% das vendas da divisão de alimentos, a maior do grupo.
“Junto com o Sudeste Asiático, o Brasil é prioridade para a Ajinomoto nos próximos anos”, diz Takato. O país é o terceiro maior mercado da multinacional, presente em 23 países e dona de um faturamento de US$ 14 bilhões em 2010. No Brasil, o faturamento supera R$ 2 bilhões, considerando-se a joint-venture com a Nissin, para fabricar o macarrão instantâneo Miojo.
Ex-presidente da Ajinomoto na Indonésia, a primeira missão do Takato no Brasil foi unificar duas empresas da Ajinomoto: a Biolatina (fabricante de aminoácidos e ingredientes para indústria alimentícia) e a Interamericana (produtos industrializados). A integração foi concluída em junho do ano passado. “Quisemos melhorar a gestão organizacional”.
No Brasil, a empresa atua em quatro áreas: “food” (produtos para o consumidor final e food service), que responde por 35% da receita; “food ingredients” (glutamato monossódico e outros aditivos para a indústria alimentícia), responsável por 25% das vendas; nutrição animal (aminoácidos aplicados em ração, especialmente de aves e suínos), 30%; “AminoScience” (aminoácidos para indústrias de cosméticos e farmacêutica), 10%.
Para este ano, apenas a Ajinomoto prevê faturamento 10% maior, para R$ 1,7 bilhão. Com a Nissin, as vendas ultrapassam R$ 2 bilhões. Em 2011, a maior aposta está nos alimentos preparados para a indústria. “O food service faturou R$ 75 bilhões no ano passado, contra R$ 50 bilhões em 2007. É um mercado atraente”, diz Makoto Kinoshita, diretor comercial da divisão food da Ajinomoto.
No food service, a estratégia é crescer com produtos de maior valor agregado, que não faz parte do mix que está nos supermercados, como azeite, molho de tomate e purê de batata. Só este ano, a divisão de food service deve crescer 54% – a previsão para todo o mercado é de 16%. “Não somos modestos”, brinca Kinoshita.
O carro-chefe da empresa no mundo é o glutamato monossódico, que teve origem a partir das pesquisas desenvolvidas em 1908 por Kikunae Ikeda, professor da Universidade Imperial de Tóquio. Ao fazer experimentos com algas marinhas, Ikeda identificou um quinto gosto percebido pelas papilas gustativas – além do doce, salgado, amargo e azedo. Esse gosto foi batizado de “umami” (saboroso, em japonês), provocado principalmente pelo glutamato.
Essa substância está presente naturalmente em alimentos como tomates maduros, frutos do mar, queijo parmesão e até no leite materno. Mas a indústria alimentícia o consome em peso através do Ajinomoto, nome comercial do glutamato monossódico que quer dizer “a essência do sabor”.
Dona de marcas como o tempero Sazón, a sopa individual Vono e o adoçante MID, a Ajinomoto também assina produtos pouco conhecidos do público, como a enzima Activa (que liga pedaços de carne para transformá-los em uma só peça) e a linha de tensoativos Amisoft (que confere efeito hidratante a sabonetes e xampus).