Abordando o mercado da carne suína, Valdomiro Ferreira Junior, presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), proferiu palestra no dia 21 de maio durante o Zootec 2009. O evento promovido pela Universidade de São Paulo (SP) foi realizado em Águas de Lindóia (SP) e reuniu estudantes de todo o País. Durante a conferência, Ferreira abordou pontos importantes, como as tendências da suinocultura, a fusão das empresas Sadia e Perdigão e a gripe A H1N1.
Ferreira iniciou sua aparesentação falando das mudanças de cenário no agronegócio que, antigamente, era um universo exclusivamente masculino. “Atualmente temos a participação feminina em larga escala”, disse. “O cenário mudou bastante. O setor de agronegócio era machista, e hoje, a presença das mulheres é predominante no setor, tanto que a Confederação Nacional de Suinocultura é presidida por Kátia Abreu”.
Na sequência, o presidente da APCS apresentou números do mercado nacional e internacional, ressaltando a importância do agronegócio para a economia brasileira. “O setor de agronegócios representa 36% das exportações brasileiras. Desde 1991, somos responsáveis pelo superávit da balança comercial”, afirma. “Com base nas últimas décadas, teríamos muitos problemas sem o bom desempenho de setores como a a suinocultura, a pecuária, a cafeicultura e a plantação da cana de açúcar”.
Para Ferreira, um dos grandes desafios a serem quebrados é a desmistificação da figura do suíno. O feito deve gerar um aumento do consumo da carne suína entre a população brasileira. “O consumidor ainda imagina que o suíno se alimenta de resíduos alimentares. Mas, na realidade, os suínos consomem grãos nobres, vitaminas e aminoácidos”, explicou.
Outro desafio, na opinião de Ferreira, é a competição mundial, em que prevalecem os interesse políticos, comerciais e tributários. “A competição com o mercado internacional é diferente da exercida com o mercado interno, onde o que interessa é a relação compra e venda. Já no mercado internacional prevalecem os interesses políticos, comerciais e tributárias”, disse. “No Brasil, temos uma das maiores cargas tributárias do mundo. Em um mesmo estado, podemos ter 44 tributos. Nos Estados Unidos, em 33 estados não tributam os alimentos, e no Reino Unido, não tributam alimentos”. E seguiu analisando o quadro do mercado brasileiro. “Diante desse quadro, não há como competir. Outros problemas que enfrentamos se referem à infraestrutura e logística. O transporte de mercadoria é realizado praticamente pela rodovia, onerando assim o valor do produto final”.
Consumo e exportação
Segundo o palestrante, a ingestão de carne suína no país é mais um obstáculo a ser suplantado pois o consumo de carne suína no Brasil é outro entrave bastante significativo. Ele explica que um brasileiro consome 80 kg de proteína animal por ano, porém, o consumo da carne suína é inibido por outras carnes. “Atualmente, a carne suína evoluiu muito geneticamente. Temos um grande mercado para conquistar, mas precisamos trabalhar muito na questão sanitária, como por exemplo, no que diz respeito à febre aftosa”.
Para Ferreira, alguns desafios enfrentados para aumentar as exportações estão relacionados às questões sanitárias. “Culturalmente, num primeiro momento, os suínos são atrelados a dejetos com o meio ambiente. A questão ambiental da suinocultura não é o problema e sim a solução, porque através dos dejetos de suínos, temos a possibilidade de produzir gás e biofertilizantes”, enfatiza. “Os dejetos dos suínos podem ser usados como fertilizantes, já que um dos grandes impactos econômicos em uma produção agrícola é o fertilizante”.
Tendências
Durante sua palestra, Ferreira afirmou que a suinocultura tem a capacidade de empregar muitas pessoas. “A tendência é aumentar a produção de alimentos no mundo, ou seja, nos próximos 25 anos, a demanda de alimentos vai aumentar, e o mundo começa a enxergar no Brasil uma capacidade real de produzir carne suína de qualidade”.
Para finalizar, o presidente da APCS explicou que o hábito alimentar do brasileiro sofreu alteração nos últimos dez anos. “As pessoas buscam facilidades. O consumidor compra o produto pela marca e não pela origem. Nem todos os produtos suínos aparecem nas gôndolas do supermercado, com isso não há uma valorização do produto, porque os supermercados compram a carne suína, fazem cortes específicos e colocam o seu selo, agregando um valor maior ao produto. Para efeito de consumo, precisamos estudar métodos de comercialização, criação de uma marca e um selo de garantia”.
Gripe
Durante a palestra, Ferreira esclareceu dúvidas sobre a gripe, e pediu ao público presente que façam o mesmo junto à população. Equívocos e desconfianças cercam a doença, que comumente é relacionada ao consumo da carne. “A gripe tipo A é um vírus H1N1. Peço que vocês ajudem a informar a verdade com responsabilidade e buscar o máximo possível de informação sobre a questão. Podemos garantir que não há nenhum suíno no mundo que tenha transmitido o vírus a um ser humano. Hoje, é um vírus gripal, e o contágio é transmitido entre os homens”.
Concluindo, ele ressaltou que, apesar dos casos confirmados da doença seguirem aumentando, as pessoas podem obter a cura rapidamente seguindo as orientações médicas.”O barulho realizado na grande mídia foi excessivo. Fato que, infelizmente, fez com que o preço do suíno despencasse. Mas a situação será revertida, pois temos capacidade de informar que a gripe é um vírus. Peço que ajudem a melhorar a imagem para o consumidor”.