Após um 2009 de recuperação, sustentado por um vigoroso crescimento das exportações de soja em grão, a Caramuru Alimentos se volta para o mercado interno. Os dois principais projetos da maior processadora de soja de capital nacional para este ano envolvem o mercado de biodiesel e o fortalecimento da marca Sinhá, com a qual atua no varejo nacional.
A empresa, que manteve no ano passado o faturamento de R$ 2,15 bilhões de 2008, espera voltar a crescer em 2010. A expectativa é de um aumento de 7% na receita bruta, que deve alcançar R$ 2,3 bilhões. Desse total, as exportações representarão 35%, bem menos do que os 45% de 2009, quando as vendas externas da Caramuru totalizaram US$ 480 milhões.
“Não é que deixaremos o mercado externo de lado, mas temos que acompanhar o que está acontecendo no Brasil. Além disso, temos a necessidade de manter um certo equilíbrio entre o mercado interno e externo para poder utilizar os créditos fiscais que são gerados a partir das exportações”, afirma César Borges de Souza, vice-presidente da empresa. Ele acrescenta que a desvalorização do dólar em relação ao real também explica em parte a estratégia da empresa de priorizar o mercado doméstico.
A Caramuru investirá US$ 8 milhões na modernização do processo de empacotamento e armazenagem de produtos comercializados com a marca Sinhá, especialmente os da linha denominada “mix”, que envolve itens como amendoim, ervilha, grão-de-bico e lentilha. A ideia é complementar a linha dos produtos tradicionais à base de soja, milho e girassol, que sempre tiveram prioridade nas estratégias da empresa no varejo nacional.
Esse investimento de US$ 8 milhões faz parte de um aporte mais amplo, estimado em US$ 35 milhões para 2010, 30% mais do que no ano passado. Os US$ 27 milhões restantes serão destinados à manutenção e modernização de estruturas da empresa.
Além desse montante, a Caramaru obteve R$ 73 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção de sua segunda usina de biodiesel, em Ipameri (GO), e para elevar em 200 mil toneladas a capacidade dos armazéns da empresa, que subiu para 2,17 milhões de toneladas. O dinheiro do BNDES deve ser liberado este mês, mas os investimentos já foram realizados com recursos próprios.
O biodiesel é a segunda grande aposta da Caramuru para ampliar o faturamento no mercado interno. A meta da empresa, diz Borges, é que segmento represente 15% da receita da empresa até o fim de 2011 – hoje corresponde a 10% do faturamento.
A segunda usina de biodiesel da empresa entra em operação nas próximas semanas, de acordo com Borges. Ipameri agregará à Caramuru uma capacidade de produção de 110 milhões de litros por ano. Até agora, toda a produção do combustível vinha da unidade de São Simão, que tem capacidade de 180 milhões de litros.
Mesmo antes de a usina de Ipameri entrar em operação, a Caramuru já vendeu parte de sua produção, segundo o empresário. No último leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a empresa acertou a venda de 64,5 milhões de litros do combustível, dos quais 21,5 milhões de litros serão provenientes da unidade a ser inaugurada.
No mercado externo, a Caramuru segue com sua estratégia de atuar no segmento de produtos não-transgênicos. “Esse não é mais um mercado de nicho como se falava. Queremos consolidar o mercado na Europa e começar a fazer ações nessa região junto ao varejo e também às indústrias de ração”, afirma Souza, que também preside a Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange).