De partida para o México, onde assumirá em 1º de agosto o comando da divisão de alimentos da Cargill naquele país, Marcelo Martins levará na bagagem a experiência de ter conduzido um dos principais ciclos de investimentos da multinacional americana no Brasil, onde está presente desde 1965.
Aos 46 anos de idade, praticamente a mesma da subsidiária que passou a presidir em junho de 2008, Martins foi responsável por gerenciar aportes superiores a R$ 2 bilhões em sua gestão, que fortaleceram negócios tradicionais como a exportação de grãos, com destaque para a soja, e aceleraram a diversificação da empresa no mercado brasileiro.
Além disso, deixa em estágio avançado para seu sucessor na presidência da Cargill Agrícola S.A., Luiz Pretti, pelo menos dois grandes projetos, que deverão absorver investimentos adicionais de quase R$ 600 milhões.
O ponto alto desse período de expansão foi em 2011, quando a companhia surpreendeu muita gente e adquiriu o negócio de produtos de tomate da Unilever Brasil, por R$ 571 milhões. No mesmo ano, realizou um aporte de R$ 350 milhões na joint venture com o Grupo USJ, do segmento sucroalcooleiro, para a criação da SJC Bioenergia, com capacidade para processar 5 milhões de toneladas de cana por temporada.
Considerados os dois maiores investimentos realizados pela Cargill no Brasil em todos os tempos, essas transações ajudaram a elevar o passivo da subsidiária com financiamentos e empréstimos para R$ 4,3 bilhões em 2011, mas não comprometeram a melhora dos resultados.
Conforme balanço publicado no fim de abril, a receita líquida da Cargill no país alcançou R$ 18,9 bilhões no ano passado, 31% a mais que em 2010, e seu lucro líquido chegou a R$ 223,3 milhões, um incremento de 142%.
“A empresa como um todo vive um bom momento, com um papel cada vez mais importante do Brasil como provedor global de alimentos. Houve muitas incertezas globais desde a crise de 2008, mas fizemos investimentos corajosos nesse período”, afirmou Martins em entrevista concedida ontem em São Paulo.
Quando recebeu o Valor em dezembro de 2009, Martins reiterou que, devido à importância estratégica do Brasil no tabuleiro da Cargill – é a segunda maior operação, atrás apenas da americana -, os aportes no país não perderiam fôlego, apesar das turbulências globais que se avolumavam.
Naquele momento, uma das diretrizes traçadas pela múlti era que a fatia de seus ativos na América Latina e na região conhecida como Ásia/Pacífico chegasse a 30% do total até 2015, ante 26% na época. E, em 2009, a empresa deixou a área de carnes no Brasil, com a venda da Seara, que era administrada pela matriz nos EUA, para a Marfrig, por US$ 900 milhões.
Mesmo com essa couraça estratégica, realça Martins, não é tão simples assim disputar na matriz, com subsidiárias do mundo todo, recursos para investimentos em tempos de fragilidade das economias desenvolvidas e alta volatilidade dos preços internacionais das commodities. Nesse sentido, garante, não há “vantagem” no fato de o principal executivo financeiro global (CFO) da múlti ser o brasileiro Sérgio Rial, seu antecessor no comando da subsidiária.
Daí a importância dos resultados colhidos em meio aos solavancos, que apesar dos pesares não derrubaram os preços internacionais de commodities agrícolas como soja e milho, que seguiram sustentados pela demanda de países emergentes e por problemas na oferta provocados por adversidades climáticas em diversas regiões do mundo.
Além de voltar ao azul nesses últimos anos, após uma sequência de prejuízos, a subsidiária brasileira da Cargill viu a rentabilidade de seus principais negócios aumentar e o volume de produtos movimentados (originados, processados e comercializados), crescer. Em 2011, foram cerca de 22 milhões de toneladas.
Nesse contexto, o terreno já está pavimentado para que o novo presidente, Luiz Pretti, dê prosseguimento aos projetos de construção de uma nova fábrica de processamento de milho e mais uma usina sucroalcooleira.
Como já informou o Valor, a unidade de milho, que produzirá soluções em amidos e adoçantes, será erguida em Castro, no Paraná, a partir de investimentos de R$ 350 milhões; já a Usina Cachoeira Dourada, que será a segunda unidade da joint venture com o Grupo USJ, está em obras também em Quirinópolis, Goiás, e custará R$ 475 milhões – a parte da Cargill nesse aporte é de 50%.
“Com os investimentos recentes que fizemos, a operação conquistou um equilíbrio muito forte. Outras oportunidades de investimentos serão analisadas”, afirmou Pretti. “Para as multinacionais, investir no Brasil virou uma obrigação. Muitos dos nossos parceiros nos EUA, por exemplo, estão sempre em busca de informações sobre como fazer isso”.
Ao contrário de Martins, que já tem 25 anos de Cargill, Pretti, aos 53, começou a trabalhar na empresa há “apenas” sete. Ele continuará como o principal executivo financeiro da subsidiária e como presidente do Banco Cargill e da Cargill Prev.