Capitalizada com a venda em 2008 da última unidade de abate de frangos do grupo, a Predileto Alimentos toca investimento de R$ 70 milhões para atingir até 2011 moagem de 10% do trigo consumido no Brasil. Com dinheiro em caixa e dívidas em repactuação, a empresa cresce principalmente no Norte e Nordeste, onde o baixo consumo per capita de trigo indica o potencial de crescimento que está por vir. É também nessas regiões em que há o menor número de moinhos e, portanto, onde a Predileto vislumbra as maiores oportunidades de consolidação.
A decisão de ampliar o investimento no cereal, por meio da empresa controlada Moinho Cruzeiro do Sul, foi tomada ainda na década de 90, mas se concretizou em projetos de maior porte há cerca de dois anos, após a venda do frigorífico Pena Branca por cerca de US$ 53 milhões para a Marfrig Alimentos. Foi quando a empresa deu iniciou às obras de ampliação que vão elevar a capacidade total de processamento de trigo de 700 mil toneladas por ano para 1 milhão de toneladas.
A capacidade de moagem da unidade de Belém (PA), de 350 toneladas diárias, está sendo ampliada para 600 toneladas, e ainda há expansões em andamento nas plantas de Recife, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, conta Antenor de Barros Leal, diretor de relações com o mercado da Predileto e do Moinho Cruzeiro do Sul.
O balanço financeiro de 2009 mostra que a decisão foi acertada. A Predileto, que agora só tem o Cruzeiro do Sul sob seu guarda-chuva, conseguiu reverter o prejuízo de 2008, quando ainda tinha em seu portfólio a divisão de carne de frango. Encerrou 2009 com lucro de R$ 26,8 milhões, ante o prejuízo de R$ 24,9 milhões do ano anterior.
O bom desempenho veio mesmo com a receita bruta menor, de R$ 914,5 milhões em 2008 para R$ 648,7 milhões em 2009, consequência do fim da receita oriunda da venda de frango. “Sob o balanço de 2009 ainda pesam também algumas obrigações financeiras. Somente o de 2010 estará exclusivamente com trigo. Por isso, esperamos que neste ano o resultado líquido cresça entre 5% e 8%”, diz.
A marca de frango da holding, Pena Branca, era bastante conhecida e tinha força no Nordeste do país. Mas os sócios da empresa já vislumbravam no início dos anos 90 que esse segmento iria demandar elevados investimentos para fazer frente à consolidação que estava por vir, conta Leal. Todas as unidades da empresa juntas chegaram, no auge, a abater 500 mil frangos por dia, um volume, que “em tempos de Brasil Foods”, resultado da união entre Perdigão e Sadia, ficou pequeno.
Leal enumera as razões para avançar em trigo e, não em aves. O espaço para crescer nesse segmento é vasto, diz ele. Há poucas indústrias no Norte e Nordeste do país, onde a empresa fortalece sua expansão. “Se há 200 moinhos no Brasil, 140 estão nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná”.
Do outro lado, o da demanda, há muito o que crescer, segundo o executivo. “O consumo per capita de trigo no Nordeste do país ainda está muito aquém do potencial existente. Enquanto que no Brasil essa média anual é de 50 quilos por habitante, na região Nordeste cai para 20 quilos”.
Há ainda, na avaliação de Leal, várias empresas de pequeno porte que, nos recorrentes momentos de escassez de matéria-prima – o Brasil é um dos maiores importadores de trigo do mundo – perdem competitividade. O motivo são as deficiências de infraestrutura para estocar produto e, consequentemente, lidar com volatilidades no preço do trigo. “Essas empresas são potenciais oportunidades de parcerias”, afirma Barros Leal.