Encarada por muito tempo como uma “empresa-projeto”, a ETH Bioenergia deverá se firmar nesta safra entre as três maiores produtoras de etanol do país, com uma oferta prevista de 1,6 bilhão de litros do biocombustível – sendo 350 milhões de litros de anidro. Nesta temporada (2011/12), a disponibilidade de cana permitirá à companhia moer entre 18 milhões e 19 milhões de toneladas, o dobro do ciclo passado.
O faturamento também deverá dobrar, de R$ 1 bilhão para entre R$ 2,2 bilhões e R$ 2,3 bilhões na mesma comparação. As duas últimas usinas em obras da ETH estão programadas para entrar em operação no último trimestre deste ano, o que elevará o número de unidades para nove e fechará a primeira fase de investimentos da empresa, que tem foco em etanol e bioeletricidade.
O volume de etanol produzido pela ETH em seus primeiros quatro anos de existência praticamente empatou com o da Raízen (Cosan/Shell) e o da LDC Bioenergia, do grupo francês Louis Dreyfus. Mas a façanha teve um preço. No fim da última safra, a dívida bruta da companhia estava em aproximadamente R$ 4 bilhões. Quando a maturação de todos os seus investimentos estiver completa, a ETH estima faturar R$ 5 bilhões.
Se neste ciclo a ETH promete brigar pela liderança em etanol no país, no próximo (2012/13) tem a chance de assumir finalmente a tão esperada dianteira, caso nenhuma grande fusão ou aquisição aconteça. E essa posição de destaque vem à tona justamente em um momento em que o etanol é reconhecido pelo governo como produto estratégico para a política de combustíveis do país.
Recorrentemente questionado sobre eventuais negociações com a Petrobras – que claramente busca assumir uma posição de relevância na produção de etanol no Brasil -, José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia, nega com veemência que haja qualquer conversa ou aproximação com a estatal. Mas não destila críticas à posição do governo de se mostrar disposto a exercer algum controle sobre o mercado de etanol. “Vejo como um instrumento de ajuste da oferta com a demanda”, resume.
Ele pondera, no entanto, que deixar essa questão em aberto contribui para um clima de instabilidade e pode significar insegurança na decisão de investimento. “Uma variável como essa não pode ser desconhecida do setor. Os produtores estão dispostos a se comprometer com a mistura de 25%, mas as distribuidoras [de combustíveis] também precisam estar dispostas a fazer contratos de compra no começo da safra”, acrescenta.
O executivo, que já ocupou cargos elevados na Rhodia e na Braskem, não fala mais com tanto entusiasmo dos planos que sempre teve de ir ao mercado de capitais para se financiar, já que no fim desta safra a empresa deverá concluir sua primeira fase de investimento e atingir capacidade instalada para processar 40 milhões de toneladas de cana.
Mas abrir o capital é tratado com distanciamento pelo executivo. “Esse não é um objetivo, mas um meio para implementar um programa de crescimento. Não dissemos que iríamos abrir o capital em 2012, mas que essa data era um horizonte possível. Essa decisão ainda não foi tomada”.
No primeiro trimestre de 2012 a ETH terá investido, no total, R$ 8 bilhões em suas nove usinas (todas com cogeração de energia elétrica), que juntas terão capacidade instalada para fabricar cerca de 3 bilhões de litros de etanol, 2,7 gigawatts/hora por ano de energia e 600 mil a 700 mil toneladas de açúcar. O montante é superior aos R$ 7,3 bilhões previstos inicialmente. O valor adicional veio, principalmente, da necessidade de implantar mais canaviais do que o planejado, segundo Grubisich.
“Com a crise dos últimos anos, produtores rurais não mostraram interesse em implantar canaviais e acompanhar o nosso crescimento industrial. Por isso, tivemos que assumir esse investimento”, diz.
Com isso, atualmente de 75% a 80% da cana da ETH vem de canaviais próprios, proporção que a empresa quer reduzir nos próximos anos para 55% a 60%. Grubisich estima que do total de R$ 8 bilhões que estão sendo investidos, R$ 2 bilhões alimentam a parte agrícola da operação, o que inclui a mecanização de 100% das áreas. “São 100 mil hectares em canaviais novos por ano”, diz o executivo. Mesmo assumindo o projeto agrícola, a empresa corre contra o tempo para alinhá-lo com a capacidade industrial.
Apesar de a ETH prever que em abril do ano que vem já disporá de fábricas para moer 40 milhões de toneladas de cana, sua disponibilidade de matéria-prima só permitirá o processamento de 32 milhões de toneladas na safra 2012/13, que começará em abril. Grande parte desse atraso decorreu de problemas financeiros das quatro usinas da antiga Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), que foram incorporadas em 2010 pela ETH.
A companhia está empenhada em fechar parcerias com produtores rurais e empresas com expertise em produção agrícola para reduzir sua participação em cana, uma parte cara do negócio. Recentemente, afirma Grubisich, a ETH fechou parceria com a Agroterenas, que tem como principal acionista José Eugênio de Rezende Barbosa Sobrinho, antigo acionista da NovAmérica. A empresa vai atender com cana as unidades da ETH de Eldorado e Santa Luzia, Mato Grosso do Sul.
A Brasil Agro também está entre as grandes fornecedoras de cana da ETH em Goiás – no caso, para a unidade Morro Vermelho. “A crise passou, as perspectivas de preços melhoraram. Estamos vendo interesse maior nesses parceiros em investir em produção de cana”, conclui Grubisich.