Após anunciar, em outubro, a separação de sua tradicional área de químicos do restante da companhia, a americana DuPont inicia 2014 com a tarefa de justificar o aumento das apostas no segmento agrícola, para o qual redirecionou seu foco. “Nossa expectativa é que a receita global da empresa cresça em torno de 7% em 2014, e que a área agrícola cresça ainda mais que isso”, afirma James Borel, vice-presidente-executivo da DuPont, ao Valor.
Conforme o executivo, a unidade de químicos “tem uma forte posição competitiva e gera bons ganhos”, mas não vem experimentando um avanço tão acelerado quanto os demais negócios da companhia. “O mundo precisa produzir mais alimentos e de forma sustentável, e a ciência é que vai nos levar a resolver essa questão. Achamos que podemos fazer a diferença nesse processo”, sustenta.
A DuPont faturou US$ 36,1 bilhões no ano passado, 2% mais que em 2012. Mas, combinadas, as áreas de defensivos e sementes – as mais importantes da operação agrícola da companhia – apresentaram um desempenho bem mais robusto, com alta de 13%, a cerca de US$ 11,5 bilhões. O montante se aproxima de US$ 15 bilhões se incluída a área de ingredientes alimentares (que atende aos setores de panificação, lácteos, carnes e bebidas), englobada na mesma plataforma agrícola.
“No segmento agrícola, crescemos mais que o mercado no último ano e estamos no caminho para alcançar nossas metas de longo prazo. Pretendemos elevar nossa receita em 8% a 10%, em média, e o lucro, em cerca de 15% anualmente, nos próximos 10 a 15 anos”, afirma Borel.
A América Latina tem sido responsável por boa parte do desempenho da companhia. A região responde por 30% (em torno de US$ 1 bilhão) de todo o faturamento da DuPont com defensivos agrícolas, puxada pelo Brasil, que já é o maior mercado desses produtos para a múlti. É do país que vem boa parte da receita global de US$ 900 milhões com o inseticida Premio, um dos mais importantes do portfólio, usado no combate a uma série de pragas da soja – inclusive a helicoverpa, lagarta que tem causado prejuízos significativos no país.
Apesar dos resultados já superlativos, os planos da operação brasileira da DuPont são bastante ambiciosos. Em 2010, o Brasil era o quarto país do mundo em vendas gerais para a DuPont, atrás de EUA, China, Alemanha. “Desde então, batemos a Alemanha e nos aproximamos da China. O objetivo é ultrapassar o país asiático em dois a três anos”, diz Ricardo Vellutini, presidente da DuPont Brasil. Gás para chegar lá o país tem, acredita o executivo.
Em 2013, o faturamento total da DuPont no Brasil cresceu 11%, a US$ 2,63 bilhões. Juntas, as áreas de defensivos, sementes e ingredientes alimentares cresceram ainda mais: 20%. “Se olharmos para a frente, a perspectiva é excelente, porque estamos crescendo mais nesses segmentos que representam mais de 70% da nossa receita [o equivalente a US$ 1,8 bilhão]”, afirma Vellutini. A DuPont é a quinta maior companhia de defensivos do país, embora seja líder em sementes de milho e vice-líder no mercado de sementes de soja.
Entre as principais estratégias da companhia está o reforço no “pipeline” (conjunto de produtos em desenvolvimento) de agroquímicos, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina. A previsão da DuPont é de que as novas moléculas que serão lançadas pela companhia na região tenham um potencial de vendas entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão na próxima década.
“Estamos fazendo agora um investimento muito grande em marketing para posicionar esses produtos no mercado”, contou Vellutini, que acumula o cargo de vice-presidente da DuPont Produtos Agrícolas para a América Latina.
Este ano, a empresa deve lançar no Brasil entre três e quatro defensivos, além de um produto para o tratamento de sementes. Sem citar números, Vellutini diz que também há planos para novos aportes na produção local de sementes. O último investimento da companhia nesse setor foi há pouco mais de um ano, com a inauguração de uma unidade de beneficiamento de sementes de soja em Catalão (GO), onde foram aplicados US$ 62 milhões. A planta tem capacidade para ofertar dois milhões de sacas de 40 quilos de sementes por ano.
Existem, ainda, negociações em curso para a construção de uma planta-piloto de etanol celulósico. Em Iowa, nos Estados Unidos, a companhia já está erguendo uma unidade que inicialmente trabalhará com folhas de milho, mas também estuda o uso de palha e bagaço de cana como matérias-primas.