A francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC), uma das maiores companhias de agronegócios do mundo, com faturamento global de US$ 60 bilhões em 2011, promoveu em janeiro a mais profunda mudança dos últimos anos na cúpula que comanda suas operações no Brasil.
Até então CEO no país, Kenneth Geld deixou o cargo e foi substituído por André Roth, que era diretor da área de trading de soja. Além de continuar na presidência do conselho deliberativo da empresa e de seu braço sucroalcooleiro brasileiro, a LDC-SEV, Geld passou a fazer parte do comitê executivo global da multinacional, como representante do Brasil.
Outra mudança importante aconteceu na própria LDC-SEV. O executivo Bruno Melcher, até então CEO da divisão, deixou o cargo e a empresa, onde trabalhou por mais de 20 anos. Cristophe Akli, que era o braço direito de Melcher, assumiu o posto. “Foram promoções internas”, esclarece Geld sobre os novos cargos de André Roth e Cristophe Akli.
Ele reitera que o rearranjo na cúpula, que o tirou de funções executivas, não muda os planos já anunciados da empresa de investir R$ 7 bilhões no Brasil entre 2012 e 2016. “A mudança se fez necessária justamente para reforçar o gerenciamento sênior do grupo no Brasil, de forma a dar suporte para esse crescimento”, explica o executivo. Os aportes previstos são 120% superiores aos investidos entre 2006 a 2010.
Geld garante que a saída de Bruno Melcher da LDC-SEV foi uma decisão pessoal do executivo, que já tinha o desejo de tocar negócios próprios. Ele nega veementemente que seu desligamento tenha tido relação com os resultados obtidos na operação de açúcar e etanol nesta safra 2011/12.
“Trata-se de uma especulação descabida. Os fornecedores conhecem a competência do Bruno e os investidores financeiros não exercem esse tipo de interferência na empresa. Além disso, a Dreyfus jamais faria isso com um profissional do gabarito do Bruno, há 20 anos na empresa”.
De acordo com fontes consultadas pelo Valor, as sinergias obtidas com os ativos adquiridos da Santelisa Vale não foram consideradas satisfatórias pelos acionistas minoritários da empresa – as famílias Biagi e Junqueira Franco. Também teria havido insatisfação com o resultado desta temporada, na qual a múlti teria processado apenas 28 milhões de toneladas de cana, diante de uma capacidade instalada de 40 milhões de toneladas.
“Nossa moagem será maior do que 28 milhões de toneladas, mas divulgaremos [o volume exato] mais adiante”, contesta Geld. Ele reconhece que o segmento passa por um momento difícil, provocado pela quebra da safra, mas destaca que a LDC-SEV registrou produtividade 5% maior que a média das usinas do Centro-Sul do país.
Geld reforça que as mudanças no board da empresa no Brasil também não têm relação alguma com os resultados gerais da múlti no país. Ele reitera que, apesar de as concorrentes estarem mostrando lucros menos vultuosos – em parte por conta da enorme volatilidade nos mercados internacionais, inclusive de commodities – o resultado brasileiro da Dreyfus foi “recorde” ou “muito próximo” do recorde em 2011. Em 2010, a multinacional registrou no Brasil faturamento de R$ 10,8 bilhões, 45% mais que no ano anterior.
Em entrevista ao Valor publicada na segunda-feira, a viúva e herdeira de Robert Louis-Dreyfus, Margarita Louis-Dreyfus, reconheceu que o lucro global em 2011 deve ter caído entre 20% e 30% em relação aos US$ 1 bilhão obtidos em 2010 – apesar de um faturamento 30% maior, de US$ 60 bilhões.
Nesse contexto, ela afirmou que vai adiar qualquer decisão sobre uma eventual capitalização do grupo (lançamento de ações em bolsa, venda de participação ou fusão). “Temos apoio dos bancos para expandir os negócios. Por que perder a independência?”, questionou.