Os R$ 600 milhões pagos nesta semana pelo Itaú Unibanco ao Grupo Pão de Açúcar vai reforçar o caixa da varejista, que pretende investir os recursos tanto em aquisições como na construção de novas lojas. “Ainda existem oportunidades de aquisições. Isso [o valor recebido] nos dá ainda mais tranquilidade para investir”, afirmou Enéas Pestana, vice-presidente financeiro do Grupo Pão de Açúcar, ao Valor.
O acordo foi fechado devido ao término da cláusula de exclusividade contida no contrato firmado entre o Itaú e o Pão de Açúcar, em 2004. Na época, o banco tornou-se sócio da FIC, braço responsável pelas operações financeiras do Pão de Açúcar. O contrato previa a fidelidade de ambas as partes: nem o Itaú poderia firmar uma parceria semelhante com varejistas concorrentes nem o Pão de Açúcar poderia operar com outras financeiras.
A cláusula de exclusividade deixou de fazer sentido após a fusão do Itaú com o Unibanco, que já possuía negócios com outras varejistas, entre elas o Wal-Mart, arqui-rival do Pão de Açúcar. Agora, não só o Itaú Unibanco está livre para ter o parceiro que quiser como o Pão de Açúcar não deve mais fidelidade à FIC.
O acordo envolveu vários aspectos, que terão um impacto positivo imediato e futuro sobre o caixa do Pão de Açúcar, afirmou Pestana. A entrada de R$ 600 milhões vai diminuir a dívida líquida e gerar uma economia anual de R$ 50 milhões com o pagamento de juros.
Além de receber do Itaú Unibanco R$ 550 milhões pela extinção da cláusula de exclusividade, o Pão de Açúcar não terá mais de pagar ao banco multas por não atingir metas de desempenho estabelecidas para a carteira de crédito da FIC. Só essa modificação vai proporcionar à rede uma economia de R$ 75 milhões neste ano, valor que teria de ser pago pelo Pão de Açúcar por não ter alcançado as metas para a carteira de crédito com juros.
Outro item acordado com o Itaú Unibanco que também vai engordar o caixa da varejista refere-se à garantia estendida. O Pão de Açúcar ficou com o direito de explorar sozinho esse produto financeiro, um dos mais rentáveis da FIC. A venda desse tipo de seguro deve gerar um lucro de R$ 40 milhões neste ano.
Com a quebra do contrato de exclusividade, a FIC terá ainda de entrar com a sua parte em dinheiro nas futuras aquisições feitas pelo Pão de Açúcar caso deseje participar da operações de crédito ao consumidor.
Até então, a FIC já assumia naturalmente o braço financeiro de qualquer negócio comprado ou lançado pelo Pão de Açúcar. A partir de agora, a FIC terá de formular um proposta para fazer parte de uma aquisição que esteja sendo negociada pela varejista, o que irá baratear o custo da transação para a rede. Se o Pão de Açúcar não aceitar a proposta da FIC, a varejista pode procurar outros parceiros financeiros ou mesmo manter o relacionamento que a empresa adquirida venha a ter com outro banco.
Apesar das modificações feitas no contrato com o Itaú Unibanco, o Pão de Açúcar reafirmou seu interesse em manter a parceria com a instituição financeira. O banco pagou outros R$ 50 milhões à varejista para estender a sociedade na FIC até 2029. “Estamos muito felizes com a parceria”, disse Pestana. Não havia, contudo, muitas alternativas para o Pão de Açúcar. Hoje, seria impossível para a rede encontrar um sócio financeiro que não tivesse vínculos com outras redes.
Mas as regras de governança da FIC foram alteradas para permitir que a varejista tenha um maior poder nas decisões da financeira.