O Grupo de Trabalho instituído pelo Ministério da Agricultura para discutir e apresentar propostas para regulamentar à coleta, processamento e destinação de animais mortos em estabelecimentos rurais, reuniu-se na sede da CNA, em Brasília, nesta terça (20), para ouvir a experiência dos Estados Unidos no assunto.
Um dos convidados para falar sobre o tema foi David Meeker, vice-presidente da área Científica da NRA – National Renderers Association/US. David também é membro do painel consultivo científico da World Renderers Organization (WRO) e membro do Comitê Consultivo do Secretário do USDA sobre doenças exóticas de animais e aves. Para ele, a utilização de carcaças de animais não abatidos nos frigoríficos é totalmente viável e benéfica, principalmente pela segurança, sustentabilidade e utilidade. Quanto à percepção pública, ele disse que esse tema é um desafio com ou sem a utilização dos animais não abatidos nos frigoríficos. Disse também que os consumidores podem optar por comprar ou não produtos com utilização de farinha animal pois há normas para descrição na rotulagem.
Atualmente o uso de animais não abatidos nos frigoríficos é uma rotina nos EUA, tanto para o uso em ração quanto para a produção de biogás, fertilizantes e subprodutos de valor agregado, pois é uma matéria prima de alto valor para a indústria, que não lida com animais podres, mas sim com animais que tenham viabilidade de serem aproveitados.
O outro convidado foi Peter Tabor, vice-presidente de Regulamentação e Assuntos Internacionais da Pet Food Institute – PFI/US. Segundo Peter, os membros do PFI não trabalham com a utilização de animais que não abatidos em frigoríficos para a fabricação da farinha de carne e ossos. Eles não utilizam na ração para cães e gatos nos Estados Unidos, principalmente pela interpretação dos proprietários de animais de estimação, que associam a carcaça de animais com preocupações de saúde e segurança dos seus mascotes. Explica ainda, que as empresas de pet food devem ter as ferramentas para garantir que atendem às preferências dos consumidores. No entanto, afirmou que o animal não abatido no frigorífico pode ser utilizado e que PFI é apoiadora e parceira do US Renderers e da National Renderers Association (NRA).
“A CNA apoia toda e qualquer inciativa que tenha base científica e, por isso, somos favoráveis ao debate para encontrar soluções e melhorar a vida do produtor rural. Muitas vezes, no campo, o produtor se depara com um grande problema que é a mortalidade natural que acontece principalmente na suinocultura e na avicultura”, comenta Bruno Lucchi, Superintendente Técnico da CNA.
O coordenador de produção animal da CNA, Juliano Hoffmann, explicou que o problema é sério há anos, principalmente na Região Sul do Brasil. Recentemente, na Região Sudeste e Centro-Oeste, com a expansão da suinocultura e avicultura acompanhando a produção da soja e do milho, a preocupação também é grande. “Esses animais que morreram antes de terminar o seu completo desenvolvimento ao ponto de atingir o peso ideal para serem abatidos nos frigoríficos geram um grande passivo que, além do prejuízo econômico ao produtor, tem impacto direto na atividade das granjas. O produtor precisa de uma estrutura adequada para fazer o descarte correto das carcaças, sem falar das desvantagens relacionadas à poluição ambiental, emanação de maus odores, necessidade de equipamentos e combustível, seleção de local não inundável e ainda evitar atração de outros animais”, disse.
O encontro desta terça-feira fechou um ciclo de sete reuniões realizadas pelo Grupo de Trabalho, nas quais foram debatidas as possibilidades de regulamentar a reciclagem de carcaças no Brasil. A CNA espera que, no relatório a ser elaborado, o grupo possa abordar os aspectos legais das opções viáveis ao produtor rural, um serviço que envolve coleta, transporte e processamento. Tudo isso com critérios adequados de biosseguridade, oficialmente regulamentados e com rastreabilidade, acompanhada pelo Serviço Veterinário Oficial, visando mitigar os riscos sanitários em todos os aspectos.
O Grupo de Trabalho foi instituído pela Portaria Nº 1.177, de 25 de maio de 2017. É formado por representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do Departamento de Saúde Animal (DSA) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, do Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária (Fonesa) e da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA).
Os estudos desenvolvidos pelo Grupo de Trabalho contam com a importante contribuição da Embrapa Suínos e Aves, com o desenvolvimento do Projeto TEC- DAM, a iniciativa privada e a CIDASC também com apoio da EMPRAPA, implantou um projeto piloto de reciclagem de carcaças em Seara (SC).
A unidade da Embrapa Suínos e Aves tem atuado na avaliação de práticas e tecnologias apontadas como alternativas: compostagem acelerada, biodigestão anaeróbia (decomposição de matéria orgânica que ocorre na ausência de oxigênio gerando o biogás), desidratação, incineração e reciclagem industrial de carcaças (rendering) para produção de farinhas, gorduras, fertilizantes, entre outros subprodutos. A avaliação das alternativas é realizada por meio do projeto Tecnologia para destinação de carcaças (TEC-DAM), que conta com a participação da Embrapa Gado de Leite (MG) e do Ministério da Agricultura (https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/tec-dam).
O próximo passo do Grupo de Trabalho de Sanidade Animal é concluir um relatório até o início de dezembro com as alternativas para criar normas para o tema.