A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) fez ontem duras críticas à Monsanto, acusada de comercializar sua nova variedade transgênica de soja (“Intacta RR2 Pro”) antes da liberação para importação pela China. A entidade fez um apelo para que os agricultores não plantem a variedade nesta safra 2012/13, a menos que tecnologia seja aprovada no país asiático, principal destino das exportações brasileiras do grão.
Em nota publicada ontem, a associação manifestou “forte preocupação” com as “enormes consequências de uma possível presença de soja Intacta em carregamentos com destino a nosso principal mercado” e evocou as “amargas lembranças da enorme crise de preços causada pela recusa de várias cargas de soja brasileira pelos chineses em 2004”. À época, a China devolveu carregamentos de soja contaminados com sementes tratadas com fungicidas.
A entidade lembrou que a Monsanto havia se comprometido a não comercializar a nova tecnologia, já liberada no Brasil, até sua aceitação por todos os importadores, acordo que estaria sendo descumprido. “A Monsanto está vendendo para alguns produtores e distribuindo gratuitamente para outros com o pretexto de testar a nova tecnologia”, disse ao Valor Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja em Mato Grosso.
Segundo ele, a empresa já testou a variedade em cerca de mil hectares no ano passado, mas a produção foi destruída após a colheita. “Neste ano podem ser cerca de 500 mil hectares, e a empresa está incentivando os produtores a esmagar a soja e vender para outros mercados”, afirma.
A Aprosoja-MT manifestou, ainda, temor com os contratos assinados entre produtores e a multinacional, que, conforme a entidade, responsabilizam os agricultores em caso de contaminação. “[O produtor] pode ser obrigado a pagar indenização à Monsanto e a terceiros, multa à administração pública, pode ter sua atividade suspensa, sua fazenda embargada e ainda ser preso”.
A Aprosoja-MT considera a ação da Monsanto “um flagrante desrespeito ao compromisso assumido pela empresa com o setor em 2011 e comparou a postura da empresa com a de concorrentes (Basf, Embrapa e Bayer) – que, de acordo com a entidade, aguardam a aprovação dos importadores para lançar biotecnologias já aprovadas no Brasil. “Esta é a postura que consideramos correta e responsável”.
A crítica marca uma mudança de temperatura na relação entre Aprosoja e Monsanto. Há algumas semanas, a Aprosoja Brasil interveio junto ao governo federal em favor da Monsanto. A entidade solicitou à Casa Civil que ajudasse a múlti a obter a liberação da soja Intacta RR2 Pro na China. A Monsanto inicialmente negou que tivesse solicitado o apoio, mas depois recuou e reconheceu ter pedido ajuda à entidade. Procurada pela reportagem desde as primeiras horas da manhã de ontem, a companhia não comentou as novas declarações feitas pelos sojicultores.