Pouco mais de seis meses se passaram desde que Sandra E. Peterson assumiu o comando e a direção da Bayer CropScience, o braço de sementes e proteção de cultivos do tradicional grupo alemão. Foi um período de muitas viagens. Os principais mercados da empresa e aqueles com grandes potenciais de crescimento foram visitados, em um giro quase obrigatório para qualquer executivo que assume as rédeas de uma multinacional.
Na Bayer, com seus quase 150 anos de existência, já houve dezenas de “tours” semelhantes. O de Sandra seria apenas mais um, não fosse essa americana a primeira mulher, de outra nacionalidade e sem qualquer experiência direta no segmento, a assumir um posto tão elevado no organograma da companhia.
“Prefiro nem saber quanto tempo já passei dentro de aviões nos últimos meses”, disse Sandra no fim da entrevista concedida ao Valor em sua primeira visita ao Brasil como presidente da Bayer CropScience. O riso fácil foge aos padrões alemães, mas quando questionada sobre quais as metas que pretende atingir e como fará isso, o pragmatismo emerge.
“Quando assumo um novo setor que não conheço, procuro dirigi-lo com foco no mercado e voltada aos clientes. No longo prazo, queremos disputar o reconhecimento do mercado na liderança que buscaremos tanto na área agrícola quanto na indústria química”, afirma ela.
Escolhida para o cargo nos próprios quadros da Bayer – desde 2005 fazia parte do comitê executivo da Bayer Health Care e chefiava a divisão de Medical Care -, Sandra tem a missão de conferir mais equilíbrio entre os negócios globais da empresa. Das vendas da CropScience no ano passado, que totalizaram € 6,83 bilhões, 80% foram provenientes do ramo de defensivos agrícolas e 20% vieram da área de sementes.
O desafio da nova executiva é colocar a companhia nos trilhos de uma tendência já vivenciada por concorrentes como a americana Monsanto e a suíça Syngenta, que já têm um equilíbrio maior entre os dois segmentos.
“O futuro não será apenas de químicos ou de sementes, mas de um conjunto. O sucesso desses dois segmentos estará também relacionado com a melhora nos serviços prestados aos agricultores. Nos próximos quatro anos, queremos ter um portfólio de produtos que nos permita ter um melhor equilíbrio”, diz Sandra.
É a busca por serviços melhores aos clientes que trouxe a nova presidente ao Brasil. Na sexta-feira, ela inaugurou, em Paulínia (SP), o primeiro Centro de Treinamento em Tratamento de Sementes da Bayer CropScience no país.
A ideia é que o novo polo centralize a transferência de conhecimentos e de novas tecnologias, além de oferecer treinamento para empresas de sementes e multiplicadores de soja, milho e algodão. A expectativa é comercializar equipamentos para o tratamento de sementes, bem como os produtos usados, oferecendo também suporte técnico.
“O Brasil está hoje entre os três maiores mercados para a Bayer CropScience em todo o mundo, e junto com a América Latina nossa expectativa é que os investimentos aumentem a cada ano”, afirma Sandra. “O Brasil é estratégico para nós e já planejamos investimentos em termos de pessoas, pesquisa e desenvolvimento e, no médio prazo, fábricas. O número não é insignificante para não ser dito, mas não posso lhe dizer qual é”, afirma a executiva.
A americana não detalha valores, mas acredita que a receita com a venda de produtos e serviços para o mercado de tratamentos de sementes tem potencial para dobrar no Brasil até 2016.
De fato, a América Latina vem apresentando resultados crescentes para a Bayer. No ano passado, as vendas na região – que no mapa da multinacional inclui África e Oriente Médio – superaram pela primeira vez o mercado da América do Norte. Do total de € 6,83 bilhões, € 1,68 bilhão foram provenientes dos países latino-americanos, enquanto o norte do continente gerou € 1,33 bilhão.
A principal região para a companhia ainda é a Europa, que registrou receita de € 2,38 bilhões em 2010. Mas foi a única que apresentou queda nas vendas em relação ao ano anterior, de 6,3%.