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Quem não ganha com a doença? - por Bruno Pimenta

A higiene tem papel fundamental no processo de redução de antibióticos, uma vez que resulta em um nível maior de saúde

Quem não ganha com a doença? - por Bruno Pimenta

A redução mundial do uso de antibióticos na produção animal é uma realidade cada vez mais presente no Brasil, ainda que em diferentes intensidades. Diferente de alguns países europeus, onde há um rígido controle da utilização de antimicrobianos, as propriedades agropecuárias no Brasil permanecem escravas do leviano trio doença/antibiótico/vacina.

Os esforços atuais para essa redução no uso de antibióticos não se aplicam somente para a produção animal, mas também para a saúde humana. O assunto é tão importante que a OMS – Organização Mundial de Saúde lançou uma campanha evidenciando o papel da lavagem de mãos na prevenção de doenças em pacientes hospitalizados, e afirma ainda que a maioria das infecções associadas ao contato das equipes médicas com o paciente são prevenidas através de uma boa higiene das mãos.

Quando pensamos em sanidade animal, a higiene é o principal fundamento base, e via de regra, prevenir é mais barato do que curar. Entretanto, são raras as campanhas publicitárias que estimulam uma boa higiene e desinfecção das granjas, e que mencionem a importância dos detergentes e desinfetantes nesse cenário. A indústria farmacêutica no Brasil e no mundo continua mantendo um crescimento importante aos longos dos anos, e é natural que não tenham interesse em estimular outras formas de prevenção a doenças, portanto cabe um pensamento crítico a respeito disso por parte dos produtores e médicos veterinários.

A higiene no dia a dia das granjas se traduz principalmente em lavagem e desinfecção. Quando realizada corretamente, a limpeza é a principal forma de reduzir a população microbiana e diminuir a pressão de infecção do ambiente. No entanto, grande parte das granjas ainda “lavam” as instalações usando apenas água, sem qualquer tipo de detergente que de fato remova a matéria orgânica e os dejetos. A sujeira é o substrato perfeito para a disseminação de patógenos que nos aprisionam ao trio doença/antibiótico/vacina.

O uso de detergentes faz parte do cotidiano das pessoas desde quando se lava uma louça até o shampoo para cabelo. É curioso que ainda assim tantas pessoas insistam em usar somente água, produtos de baixa qualidade ou extremamente diluídos para lavar os pisos e baias das granjas.

Um bom detergente deve ser capaz de dissolver a gordura e a proteína presentes nas instalações e eliminar o substrato para crescimento de patógenos. O esquema abaixo evidencia a importância dos detergentes na sanidade de uma granja:

grafico

Logo após desalojar os animais as instalações abrigam cerca de 50.000.000 de microrganismos por cm2. Após a lavagem com água a quantidade cai para 20.000.000 microrganismos por cm2, uma redução de 60%. Entretanto, o número cai para 100.000 microrganismos por cm2 quando usamos um detergente, uma redução de 99,8%. É a partir daí que uma boa desinfecção pode então começar a ser feita.  

Aspectos como a proporção de diluição e o poder de penetração fazem toda a diferença quando se imagina a situação real no momento da lavagem. Os funcionários que aprendem a limpar uma baia da forma correta e com um produto de qualidade geralmente não voltam mais atrás. Os resultados são visíveis: ao associarmos uma boa limpeza a outras medidas de prevenção é possível reduzir doenças na granja e diminuir a utilização de antibióticos.

Fica evidente a necessidade de nos voltarmos aos fundamentos. Há urgência em resgatarmos conceitos simples, eficazes e de baixo custo para prevenirmos problemas que geram soluções de alto custo. A higiene tem papel fundamental no processo de redução de antibióticos, uma vez que resulta em um nível maior de saúde dos rebanhos, ou seja, menor ocorrência de enfermidades. Certamente os produtores que souberem entender e aplicar estratégias de sanidade eficazes terão melhores resultados.

O Brasil tem um papel importante como fornecedor de alimentos no mundo e precisará se adaptar a essa nova realidade. Produzir mais e melhor será vital para que os pecuaristas brasileiros possam concorrer de igual para igual com outros exportadores de carne.

É nesse sentido que cabe a reflexão: qual a real preocupação das empresas ao atenderem o mercado? O produtor está sendo imediatista na resolução de problemas sanitários? Quem é que está ganhando ou perdendo com a ocorrência de doenças dentro das granjas? Provavelmente o produtor sempre perde.

Refletir sobre isso é, no mínimo, esclarecedor.

Já parou para analisar o que aconteceria na sua granja se você não precisasse gastar com tantos medicamentos?

*Bruno Pimenta é médico veterinário da MS Schippers.