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Volta da Agrenco

Empresa que trabalha com grãos na produção de biocombustíveis, em recuperação judicial, quer voltar a operar em março.

Se o processo de convalescença financeira da Agrenco ainda está apenas no início, o principal medicamento necessário para tratar a empresa, que é a retomada das atividades operacionais, deverá começar a ser aplicado em março.

Segundo o Valor apurou com fontes familiarizadas com a recuperação judicial da companhia, a fábrica de Alto Araguaia, em Mato Grosso, terá condições de rodar nas próximas semanas. Já a unidade de Caarapó, Mato Grosso do Sul, estará pronta em abril ou maio.

A conclusão das unidades foi beneficiada pela liberação de parte dos recursos obtidos com a venda da fábrica de Marialva, no Paraná, para a gaúcha BSBios, no primeiro semestre de 2009. Estima-se no mercado que a Agrenco investiu cerca de R$ 65 milhões nos últimos meses para terminar as plantas do Centro-Oeste. Juntas, elas valem cerca de US$ 300 milhões.

Diferentemente de antes do pedido de recuperação judicial, em setembro de 2008, o foco da Agrenco deverá, na provável retomada, ficar mais centrado no biodiesel e menos nos serviços de originação de grãos e produção de derivados “sob medida” para seus clientes, sobretudo no exterior.

A capacidade de Alto Araguaia será de 600 toneladas por dia de biodiesel, enquanto em Caarapó o volume diário ficará em 300 toneladas. Exceto pelo tamanho, são plantas com as mesmas características, inclusive com cogeração.

A matéria-prima para o biodiesel de partida das unidades será a soja, cujo grão também poderá ser processado para a produção de óleos comestíveis ou farelo. No biodiesel, as fábricas também podem rodar com outras matérias-primas, como caroço de algodão e pinhão manso. Em Alto Araguaia, os testes começaram. Em Caarapó, o sebo bovino também pode ser usado para biodiesel.

Analistas concordam que o biodiesel está mais atraente após a entrada em vigor da mistura de 5% do produto no diesel, em 1º de janeiro. A demanda está aquecida e a companhia precisa fazer caixa.

Quando o início das operações das fábricas marcar a retomada operacional da Agrenco – se essa expectativa for de fato confirmada -, as chances de surpresas nessa frente operacional será pequena.

No acordo que fechou com sua parceira operacional, a suíça Glencore, está prevista a possibilidade de um aporte emergencial de até US$ 50 milhões para capital de giro, dependendo das circunstâncias. Fora isso, eventuais “sobras” futuras servirão para ressarcir os credores da companhia.

Ao aprovarem o plano de recuperação, os credores da Agrenco admitiram receber as dívidas com a geração líquida de caixa da companhia, o que poderá levar de 12 a 14 anos, a depender do fluxo. Recursos para manter as novas fábricas poderão ser utilizados, mas qualquer projeto maior precisará da aprovação dos credores.

Não é um modelo tão comum no Brasil. Na prática, é como uma conversão de parte da dívida total – que, após as recentes oscilações cambiais, caiu para pouco mais de R$ 1 bilhão – em participação, mas sem risco para os “sócios”.

A parceira operacional Glencore, por sua vez, será remunerada com cerca de 10% da geração de caixa. A Glencore vai orientar a compra de matérias-primas e a venda de produtos finais da Agrenco, mas os negócios serão realizados pela própria Agrenco – cuja gestão continua nas mãos da Íntegra Associados, já por acordo firmado com os credores, entre os quais mais de 30 bancos.

No acordo que firmou com a companhia convalescente, a Glencore acertou o direito de preferência para adquirir os ativos da parceira caso os credores decidam se desfazer da empresa antes de 12 ou 14 anos. De qualquer forma, a opção só poderá se materializar após três anos da retomada operacional, nos termos da recuperação.

Nesse contexto, os acionistas da Agrenco também terão de esperar, porque não haverá recursos para remunerá-los antes de cumprido o plano de recuperação. “Para qualquer recurso gerado na operação chegar ao acionista, será preciso que os credores tenham sido satisfeitos primeiro”, afirmou uma fonte.

Independentemente disso, a Comissão de Valores Mobiliário (CVM) cancelou, em 11 de fevereiro, o registro da empresa em razão do atraso na entrega de balanços.

Enquanto a questão dos balanços não for regularizada – e no mercado ninguém arrisca quando isso vai acontecer -, as ações da companhia não poderão ser negociadas na BM&FBovespa, como já informou o Valor.

No último dia de negociações, os papéis fecharam a R$ 2,89, com a empresa avaliada em R$ 445 milhões – menos da metade do valor da dívida. Quando fez seu IPO, em 2007, a Agrenco foi avaliada em R$ 990 milhões.

Outros planos da atual administração da Agrenco, segundo quem a acompanha, são acelerar a simplificação do organograma, onde ainda aparecem quase 30 razões sociais, e vender ativos na Argentina, onde não há operações mas a empresa tem terminal portuário.