Redação SI (19/06/06)- O ministro Roberto Rodrigues, de volta de sua visita a Moscou, nos traz poucas novidades: tudo o que conseguiu do ministro russo Aleksey Gordeev foi marcar a vinda de uma missão técnica para dentro de duas semanas. É, na verdade, a mesma visita que já estava prometida há meses. O nosso ministro da agricultura relata que os russos, diante de sua insistência, foram muito firmes e, seguidamente, repetiram que devemos criar mecanismos domésticos de compensação para o caso de eventualidades como a que vivemos agora.
O relato do ministro Rodrigues dá o que pensar: (1) será a visita desses técnicos russos o prenúncio da breve abertura da Rússia para as carnes suínas brasileiras, ou pelo menos de Santa Catarina? Ou, por outro lado, (2) será que os russos vão continuar nos cozinhando em fogo brando?
Caso a visita sirva para (1) comprovar que a aftosa está debelada
Mas, se por outro lado, a missão técnica (2) achar que ainda devemos ficar em recuperação e prolongarem o embargo? Mesmo que as nossas informações oficiais digam que está tudo bem, os técnicos russos poderão usar o pretexto sanitário para nos manter fora do mercado. E, a propósito, será que a questão sanitária já não estaria sendo usada como pretexto?
Numa situação como essa segunda, seria bom começarmos a pensar em redefinir os horizontes comerciais da suinocultura brasileira. Ou, no mínimo, deveríamos começar a imaginar alternativas de uso para as nossas pocilgas.
É bem possível que os russos tenham outras razões para reduzir drasticamente as importações de carne suína do Brasil. Já apresentei em artigo no Argumento Suíno três razões que poderiam levar os russos a não quererem importar muito do Brasil: (a) reduzir a dependência do Brasil; (b) equilibrar a balança de comércio bi-lateral com o Brasil; e (c) promover a produção doméstica russa. Cada uma dessas razões é bem razoável e precisamos pensar nelas sob pena de morrermos na inocência. E a melhor forma de analisá-las é metendo-nos no sapato deles e imaginar o que faríamos se estivéssemos no lugar dos russos.
(a) Dá para ficar na dependência de um único fornecedor? A resposta mais provável é que não: acontece uma zebra qualquer e a gente fica na mão (é bem o reverso da nossa situação!). (b) Será que o Brasil deveria importar muito de um país que não compra da gente? No comércio internacional a regra é procurar o equilíbrio nas contas, pelo menos para quem está por baixo. Esta é a política perseguida pelo Brasil, embora nem sempre com sucesso. E, pelo que se sabe, nosso País não tem feito um esforço coordenado para importar mais da Rússia, nem para cobrar algumas gentilezas que fizemos para eles! (c) Gostaríamos que algum país viesse aqui vendendo o mesmo produto que o nosso a preços muito mais baixos? Mesmo que esse país fosse muito eficiente na produção e, até, tivesse um produto melhor que o nosso, iríamos espernear muito! E se eles não oferecessem alguma colher de chá para o Brasil, nosso governo iria acabar dando um jeito de complicar a entrada do produto.
Peço desculpas pela crueza do raciocínio, mas acho que é mais prudente bancar o chato e alertar a todos do que ficar empurrando a realidade com a barriga e só acordar (?) com a espada russa cravada no nosso peito. Ficar parados, pensando que a Rússia vai abrir na semana que vem, como temos feito desde que ela se fechou às nossas carnes, é suicídio.
Vamos juntar as forças que nos restam e trabalhar em conjunto para criar alternativas. Se eu estiver errado, melhor pra todos. E pra mim também.