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Carne Suína

A solução está no mercado interno

Consumidor brasileiro gosta do sabor da carne suína, mas dificuldade em encontrar o produto em porções adequadas emperra o consumo.

A solução está no mercado interno

Rubens Valentini, na AbravesÉ muito comum ouvir que o baixo consumo da carne suína no Brasil está relacionado a determinados mitos que ainda a cercam. Possivelmente eles tenham sua influência, mas talvez já não sejam a principal razão e nem produzam o impacto que ainda hoje se imagina deles. O grande entrave estaria muito mais na apresentação do produto nas gôndolas dos supermercados, no fato de o setor suinícola acreditar que o consumidor não é responsabilidade sua e no foco da ampliação do mercado estar direcionado às exportações e não ao consumo interno.

Para o conselheiro de Relações com o Mercado da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Rubens Valentini, são estes alguns dos fatores que realmente emperram o crescimento do consumo per capita da carne suína no Brasil e não necessariamente os mitos em torno de sua produção e qualidade. Valentini analisou o assunto durante a palestra que ministrou na manhã de ontem (27/10), abrindo o 14º Congresso da Abraves em Uberlândia (MG).

“O setor precisa deixar de achar que o consumidor não lhe diz respeito. É a dona-de-casa que compra e prepara nosso produto e, por conseqüência, paga nosso salário”, explica Valentini. “Não adianta imaginar que é só colocar o produto no mercado e simplesmente ela irá comprá-lo”. Pesquisas encomendadas pela ABCS apontaram que o brasileiro gosta do sabor da carne suína. Este, entre outros resultados, serviram de base para a campanha “Um Novo Olhar sobre a Carne Suína”, responsável por aumentar entre 50% a 210% as vendas do produto nos supermercados onde foi implantada.

Exemplos internacionais – No mundo, o consumo per capita é bem mais elevado do que no Brasil. Na Espanha são 66 kg por habitante/ano, na Dinamarca 63 kg e na Alemanha 54 kg, para ficar em exemplos europeus.
O Brasil se mantém nos 13 kg per capita. Porém, diferentemente dos brasileiros, cujo consumo se concentra nos produtos industrializados, nestes países o maior percentual está na aquisição da carne suína in natura. Um espanhol, por exemplo, se alimenta por ano de 80 kg de carne fresca, incluindo todas as carnes, e somente de 30 kg do produto processado.

Segundo Valentini, um diferencial importante é a disposição da carne suína nos mercados. Na Europa e países da Ásia, elas ficam em porções adequadas ao atual tamanho das famílias, além de embaladas ou dispostas em cortes em balcões refrigerados. Também há uma diversidade grande de opções, que vão da carne moída ao hambúrguer e ao cortes mais tradicionais em porções menores. Quando aplicada estas mesmas práticas durante a campanha “Um Novo Olhar”, o consumidor brasileiro reagiu bem e comprou mais o produto. “Nestes países suas populações comem muito o produto in natura por isto o consumo é grande”, afirma Valentini.

O conselheiro da ABCS também explica que a carne suína é a de menor participação relativa no comércio internacional, com um percentual de 7,32%, ante 13,06% das aves e 14,49% dos bovinos. Ou seja, muitos países produzem o suíno e as importações são para atender o percentual que falta de suas demandas. Outro dado é que dos nove maiores exportadores, apenas o Brasil não é livre de aftosa com vacinação.
“Nos últimos seis anos não abrimos nenhuma mercado e temos mantido patamares estáveis de exportações”, aponta Valentini. “Só que nossa produção continua a crescer”.

A solução para Valentini é desenvolver o mercado interno, que registrou uma queda de 28% para 14% na participação relativa da carne suína no consumo de carnes. “Precisamos mudar a ideia de que ‘vendemos’ carne suína. Vender é para commodity. Nós precisamos ‘comercializar’ carne suína, que é um ato mais complexo e envolve identificar qual é nosso consumidor, desenvolver estratégias de marketing e criar o produto que ele quer e necessita”, concluiu o conselheiro da ABCS.