Redação SI (11/04/06) – A informação é do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne-PR). Este volume representa 2% de toda a produção do Estado que, por ano, abate 2,228 milhões de cabeças de boi. O superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowalewski de Souza, alerta que há municípios pequenos do Estado que são abastecidos quase que inteiramente por carne clandestina.
Na área de suínos, o índice de clandestinidade é de 3% e representa o abate irregular de 140 mil animais por ano. A produção total do Estado neste segmento é de 4,680 milhões de cabeças por ano.
O economista do Sindicarne-PR, Gustavo Fanaya, disse que os problemas mais comuns no abate de bois são estabelecimentos que têm inspeção municipal (SIM) e vendem carne fora do município em que atuam. Outro aspecto muito freqüente é o animal apresentar problemas e ser encaminhado para um matadouro que não tem inspeção. Dessa forma, a carne é vendida sem o animal passar por análise sanitária. Ao cometer irregularidades, os matadouros correm o risco de fechar e perder a inscrição na inspeção federal (SIF) ou na estadual (SIP).
Fanaya explicou que 80% dos abates de bois se concentram nas empresas que têm SIF (o que equivale a 25 matadouros), 15% nas empresas com SIP (50 matadouros), 3% nos matadouros municipais (100 matadouros) e 2% é clandestino. “Nos municípios, 90% dos abates não contam com médico veterinário e são precários. Não podem ser chamados de clandestinos, mas o risco é o mesmo (de um abate irregular)”, disse.
Ele explicou que, quando o governo federal autorizou a delegação da inspeção para os Estados e os Estados para os municípios, a maneira de conduzir os abates não mudou. Segundo ele, as empresas que fazem os abates nos municípios continuaram precárias. “Poucos estabelecimentos nos municípios cumprem a lei ao pé da risca”, afirmou.
Fanaya destacou que a legislação é rígida nos quesitos manipulação e comercialização da carne. Ele alertou que boa parte da contaminação da carne acontece no varejo. Os matadouros também são obrigados a abater os animais na presença de um médico veterinário.
No caso dos suínos, ele ressaltou que o problema reside na produção artesanal de embutidos que, na maioria das vezes, acontece fora dos padrões. Nestes produtos existe até a irregularidade de falsificação de etiquetas do SIF, do SIP e do SIM. “O potencial de risco à saúde é imenso na produção artesanal de embutidos”, alertou.
O Paraná conta hoje com 90% dos matadouros de suínos com inspeção federal (SIF) que totalizam 20 empresas, 4% tem SIP (50 matadouros), 3% têm inspeção municipal (SIM) porcentual que representa 100 matadouros e 3% são clandestinos. “Precisamos ter avanço (na inspeção) do campo até o prato”, destacou. A fiscalização das carnes no comércio varejista fica a cargo dos serviços de vigilância sanitária dos municípios e dos Estados.
Carne sem inspeção traz riscos à saúde
Curitiba Consumir carne sem inspeção traz vários riscos para a saúde do ser humano como a transmissão de zoonoses, turberculose, brucelose, cisticercose e neurocisticercose. Valmir de Souza, que também é médico veterinário, alerta que a carne suína abatida clandestinamente pode provocar a cisticercose, doença na qual o homem desenvolve a solitária (tênia).
No caso da neurocisticercose, o ciclo começa com o homem ingerindo carne suína com cisticercose que provoca o desenvolvimento da tenia solium (solitária). Quando esta pessoa defeca no meio ambiente e as fezes entram em contato com a água utilizada para abastecimento ou com as lavouras, caso alguém tome a água ou consuma hortaliças e frutas, estará ingerindo os ovos da tênia. Esses ovos vão para o cérebro humano e para o sistema muscular causando sérias conseqüências. Além disso, Souza alerta que o consumo de carne sem inspeção pode trazer também infecções alimentares causadas por salmonelas.
Sem as mínimas condições de higiene
Policiais da Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon) descobriram no início de abril um abatedouro clandestino de bezerros, em Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba. O dono do local e dois funcionários foram presos em flagrante por vender produto impróprio para o consumo. A ação foi realizada em parceria com agentes da Secretaria da Agricultura, Instituto de Criminalística e técnicos da Vigilância Sanitária de Campo Largo, que interditaram o local. “Recebemos a denúncia de que o abatedouro trabalhava sem as mínimas condições de higiene. Investigamos e descobrimos que eles compravam bezerros de até cinco dias de vida de fazendas produtoras de leite da região de Castro, abatiam neste local e vendiam carne de vitelo”, disse a delegada da Delcon, Soraya Maria Mendes da Silva.
Além disso, os policiais constataram que os bezerros eram comprados por menos de R$ 30, de fazendas produtoras de leite, que descartam os animais machos. A delegada disse que ficou provada a clandestinidade do trabalho e a inexistência de qualquer condição de higiene tanto para o abate, quanto para a desossa, armazenamento e transporte. “Para poder comercializar a carne o abatedouro precisa de acompanhamento veterinário e a inspeção dos fiscais sanitários, caso contrário não há garantias de que o animal tenha sido vacinado e é saudável, podendo trazer doenças ao consumidor”, explicou Soraya.
A polícia e os fiscais foram até o sítio onde funcionava o abatedouro clandestino, em Campo Largo. No local, eles prenderam em flagrante o proprietário e os funcionários. A carne apreendida foi encaminhada para a incineração, por se tratar de produto impróprio para o consumo humano e a Vigilância Sanitária interditou o local. Os três presos foram encaminhados para o Centro de Triagem de Curitiba, não quiseram dar declarações sobre o assunto e disseram que vão se manifestar somente em juízo. Eles podem cumprir, se condenados, pena de dois a cinco anos de detenção. A Justiça e a Secretaria de Agricultura também poderão aplicar multa.