Redação (04/08/2008)- Nesta proposta de ação encaminhanda pela ACAB ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, o foco é o atual gargalo interno do setor para o franco desenvolvimento da cadeia produtiva do avestruz, que se encontra no pontual estrangulamento da produção de aves, frente ao consumo ainda pequeno da carne de avestruz no país.
Luis Robson Muniz, presidente da ACAB, afirma que apesar da carne de avestruz estar bem mais acessível nos dias de hoje, principalmente frente a recente alta dos preços do setor de carnes em geral, a carne de avestruz continua sendo preterida pela população.
A explicação de Muniz frente ao fato, só tem uma explicação: a falta de costume alimentar (tradição ) do brasileiro no hábito de consumo da carne de avestruz, aliado ao desconhecimento generalizado em relação às benesses nutritivas do produto.
Na proposta apresentada ao MDIC, a ACAB busca dar uma visão sistêmica à questão, visando estabelecer uma estratégia dentro da Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP do setor de carnes do MDIC, estabelecendo como premissa o apoio do governo ao fortalecimento das microempresas – MPEs do setor estrutiocultor, que atualmente atuam e desbravam o mercado da carne de avestruz no país.
Abaixo a ACAB apresenta a íntegra da proposta encaminhada e protocolada no dia 28 de julho pela Dra. Rita de Cássia Milagres Teixeira Vieira, Coordenadora Nacional do Agronegócio, no gabinete do MDIC em Brasília (DF).
1. Proponente
Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil – ACAB
CNPJ : 01.610.975/0001-02
Rua Natal , 500 – Vila Leopoldina – Santo André – SP – 09195-310
(11) 3657 8850 – email: [email protected] – site: www.acab.org.br
2. Ação proposta
Apoio sistêmico à cadeia da estrutiocultura industrial visando aumentar o consumo da carne de avestruz no Brasil
3. Alinhamento com a PDP – como a proposta se enquadra na PDP
Esta proposta se enquadra no PDP uma vez que vai de encontro a algumas macro metas, das quais citamos:
Fortalecer as MPEs : no sentido de que no Brasil já há pelo menos 30 agentes no mercado brasileiro atuando no cenário gastronômico com marcas próprias de carne de avestruz., onde a grandíssima maioria são de MPEs.
Ampliação da capacidade de oferta: no sentido de que atualmente temos pouca oferta em relação ao potencial comprador de carne de avestruz, buscando o ritmo compatível com o crescimento do consumo e produção.
Procurar dar robustez aos pagamentos brasileiros: no sentido de que a estrutiocultura industrial possibilitará a maior diversificação na pauta exportadora brasileira
Elevar a capacidade de inovação: no sentido de que a consolidação da pecuária do avestruz é uma inovação agroindustrial no Brasil e diversifica harmonicamente propriedades rurais que já trabalham com a pecuária bovina, caprina e/ou ovina.
4. Convergência com outras políticas/ações de Governo, se houver
A pecuária do avestruz converge com a política do governo de buscar valorizar a produção ambientalmente sustentável, uma vez que a estrutiocultura não impacta negativamente o meio ambiente, sendo seus dejetos e resíduos completamente reincorporados harmonicamente na natureza
5. Justificativa
5.1 análise crítica do quadro atual
De acordo com o censo de 2007 o rebanho brasileiro conta com aproximadamente 450.220 avestruzes (Fonte UBA / ACAB – Anuário 2008), sendo o segundo maior plantel do mundo, ficando atrás apenas da África do Sul que ostenta 500.000 aves.
Com relação ao número de produtores o Brasil é o país onde mais se concentram criadores de avestruzes no mundo, uma vez que a África do Sul, país mais populoso em avestruzes, ostenta um número ao redor de 600 criadores.
No entanto a expectativa, segundo dados da ACAB, é de que este pool de produtores que de 2006 para 2007 já decresceu de 3188 para 2540 ( diminuição de 20%), deve ter uma a queda ainda mais acentuada em 2008, uma vez que a cadeia produtiva encontra-se estrangulada pelo baixo consumo da carne de avestruz no país.
De acordo com o histograma abaixo, nota-se um franco aumento da produção industrial da carne de avestruz, a partir de 2006, mostrando que o segmento começa a se formatar industrialmente.
Acredita-se que em média o abate de avestruzes no mundo é de cerca de 400.000 aves, o que mostra que o Brasil com o abate de cerca de 30.000 aves em 2007, apresenta 7,5% da produção mundial, sendo portanto, o segundo maior produtor mundial de carne de avestruz, ficando mais uma vez atrás da África do Sul que sinalizou o abate de 300.000 aves em 2007 ( 75% da produção mundial).
O parque fabril da estrutiocultura industrial, já conta com pelo menos 20 estabelecimentos habilitados pela Divisão de Inspeção de Carnes de Ruminantes , Eqüídeos e Avestruzes – DICAR, órgão do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA, onde as estatísticas levantadas pela ACAB, junto ao MAPA e agentes do setor, sinalizam que das 901 toneladas de carne de avestruz produzidas em 2007, 92% foram processadas em plantas frigoríficas com serviço de inspeção federal (SIF).
Com estes dados, a ACAB estima um consumo per capita de carne de avestruz de 0,005 kg/hab/ano para o ano de 2007, mostrando um crescimento de 223 % em relação ao ano anterior.;
Dentro do comparativo com outras carnes, nota-se que o avestruz em relação às pecuárias tradicionais mostra-se ainda muito incipiente; no entanto, quando relacionado ao mercado de carnes de aves mais saudáveis, como Peru , Pato e Marreco, já sinaliza que este é o seu nicho de mercado, representando hoje cerca de de 0,5 % da produção de carne de peru e, aproximadamente 25% da produção de patos e marrecos.
O consumo de carnes em nosso país está intimamente ligado ao valor econômico do produto, o que se pode constatar no gráfico abaixo ( fonte Anual Pec 2008), onde nota-se a queda sensível no consumo de carne vermelha no Brasil, face ao recente aumento do preço da arroba do boi vivo, que foi automaticamente repassado para as gôndolas dos estabelecimentos, mas que está sendo proibitiva para a maior parte da população brasileira.
5.2 porque a ação deve ser implantada
O mercado interno brasileiro, por falta de cultura de consumo e preço relativamente alto da carne de avestruz, ainda é muito incipiente para suportar o potencial de produção do setor estrutiocultor, pois, estima-se que de 25 a 30% da produção esta efetivamente sendo absorvida, ou seja, a grande maioria encontra-se em estoque rotativo nas câmaras frigoríficas, o que mostra pouca liquidez do produto, acarretando ônus excessivo na cadeia do frio, a ponto de muitos agentes do mercado terem seus empreendimentos comprometidos, pois, aos poucos o custo de armazenamento vai corroendo perigosamente os níveis de lucro das empresas e cooperativas do setor.
Outro aspecto importante, é o aumento vertiginoso da consciência do consumidor em adquirir produtos efetivamente ligados a processos produtivos sustentáveis, havendo pouco desenvolvimento de estudos que englobem este quesito na criação de avestruzes.Logo, é consenso por parte dos estrutiocultores que temos que atuar sistemicamente em três fatores na cadeia:
Produtividade: diminuir o custo de produção do avestruz, fazendo com que o valor de mercado da carne de avestruz para o consumidor final seja mais acessível. O custo de produção do avestruz está em sua maior parte, alocado na alimentação que a ave recebe em sua criação, algo em torno de 65 a 80%, dependendo de cada propriedade. Desta forma, vemos que o grande gargalo para redução do preço da carne de avestruz, está em seu arraçoamento de terminação ( engorda,) ou seja, no manejo nutricional da estrutiocultura de corte Muito pouco se investiu em pesquisa para desenvolver uma terminação utilizando forrageiras e silagens naturais, a exemplo da bovinocultura e ovinocaprinocultura.
Neste ponto, o apoio tecnológico da Embrapa Suínos & Aves ( Concórdia – SC) torna-se fundamental, onde faz parte desta proposta, que a Embrapa encampe oficialmente pesquisas na área de manejo nutricional para avestruzes, inserindo a estrutiocultura industrial dentro dos planos temáticos de pesquisa agropecuária da entidade, o que reforçará o apoio da Embrapa à inovação tecnológica, uma vez que esta atividade pecuária diversifica as propriedades rurais de nosso país, mas por ainda ser novicista, é carente de conhecimento tecnificado que foque a atividade industrial, ou seja, a estrutiocultura de corte.
Outro ponto importante, no quesito produtividade é o aperfeiçoamento da qualidade genética de nosso rebanho, onde deveremos envidar esforços mais efetivos no Programa de Selecionamento Genético do Avestruz Brasileiro – Progestruz , que ainda carece de apoio formal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.
Sustentabilidade: a criação de avestruzes com estudos preliminares desenvolvidos pela iniciativa privada ( cooperativas), em parceria com a Embrapa Meio Ambiente ( Jaguariúna – SP), demonstraram que a atividade não impacta negativamente o meio ambiente, o que a preconiza como atividade rural sustentável. Desta forma, propomos que a atividade de estrutiocultura seja incorporada nos planos temáticos de pesquisa agroecológica e tenha o apoio da Embrapa Meio Ambiente, ampliando os estudos já iniciados, buscando harmonizar as questões de bem estar animal, rastreabilidade, responsabilidade social, impacto sócio-econômico ( ex.: Ìndice de Desenvolvimento Humano – IDH ), conferindo subsídio de informação para que futuramente tenhamos um selo de qualidade ou certificação de origem, gerando maior competitividade, valor agregado e qualidade à carne de avestruz .
Promoção e Marketing: investir maiores esforços no marketing da carne de avestruz, objetivando uma alavancagem na aculturação da mesma em nosso país. Um fato “sui generis” mercadológico vem chamando a atenção dos estrutiocultores no segmento de carnes, que foi recentemente o brusco aumento do preço da arroba do boi vivo, onde a mesma, aproximou-se relativamente ao valor da arroba do avestruz vivo, na razão de 1 : 2, proporção antes nunca atingida.
Nota-se que o mercado consumidor relaciona a carne de avestruz com a carne de boi, devido a aparência e paladar que a carne de avestruz possui com a mesma, embora seja uma carne de ave. Desta forma, dado estes dois fatores esperava-se em um efeito dominó, um grande aumento no consumo da carne de avestruz. No entanto, este comportamento inercial não se concretizou no mercado de carnes, deflagrando outro fator que está estrangulando a cadeia da carne de avestruz: a falta do hábito cultural no consumo deste produto.
Neste aspecto é parte integrante desta proposta o apoio do fórum de competitividade de carnes no levante de informações estatísticas que gerem um diagnóstico mercadológico da cadeia produtiva do avestruz, para auxiliar as empresas e cooperativas do setor a investirem de forma mais eficiente ações na promoção e marketing da carne de avestruz.
O setor vem buscando se organizar no estabelecimento de um Plano de Aceleração da Cultura do Avestruz, denominado de PAC do Avestruz, onde este estudo e diagnóstico mercadológico da cadeia produtiva do avestruz torna-se fundamental.
Como sugestão também gostaríamos que a carne de avestruz fosse sistemicamente mais veiculada dentro dos organismos governamentais, em eventos institucionais de caráter de divulgação da agropecuária brasileira.
5.3 conseqüências da não implantação da ação
Caso o setor estrutiocultor não consiga envidar uma reengenharia nos seus custos de produção , ao mesmo tempo, que não estabeleça um plano de ação de aculturação da carne de avestruz, no curto prazo teremos fatal e inercialmente um colapso da atividade, que já no ano passado registrou queda de 20% do número de produtores em relação ao ano anterior, apresentando um censo de 2500 criadores em 2007, onde este ano a tendência de queda será ainda maior, face ao atual desequilíbrio interno entre a oferta e procura do produto.
5.4 impactos positivos
O Apoio sistêmico à cadeia da estrutiocultura industrial visando aumentar o consumo da carne de avestruz no Brasil, possibilitará o paulatino aumento na ampliação do mercado interno e, desta forma, beneficiará toda a cadeia produtiva do avestruz, que atualmente possui cerca de 2500 criadores, que fixam aproximadamente 15000 produtores no campo, principalmente, pequenas propriedades, que fomentam uma agroindústria com mais de 20 frigoríficos sifados, e inúmeros estaduais e municipais, disponibilizando para o mercado de carne um produto de propriedades nutricionais e de saudabilidade diferenciadas, focando a tendência mundial por produtos alimentícios que promovam uma maior qualidade de vida, associada a um sistema produtivo que opera em perfeito equilíbrio ambiental sustentável; enfim, a adoção desta proposta irá gerir e conduzir ordeiramente o desenvolvimento e consolidação da estrutiocultura industrial brasileira.
5.5 impactos sobre as metas da PDP (metas setoriais e macrometas)
A referida proposta impacta positivamente três macro metas:
1- Ampliação das Exportações : ampliando o consumo interno da carne de avestruz, o Brasil efetivamente terá massa crítica produtiva e de qualidade, para ser competitivo internacionalmente. No curto e médio prazo, acreditamos que o Brasil passará a ser exportador de carne de avestruz, tendo grande potencial para no ser o maior exportador de carne de avestruz do mundo ( já é no momento o segundo maior produtor de carne de avestruz do mundo, segundo dados do último congresso mundial de estrutiocultura, que ocorreu em Riga ( Letônia ) de 18 a 19 de outubro de 2007).
2- Dinamização das MPEs : hoje existem no Brasil pelo menos 30 marcas de carne de avestruz disputando o mercado interno, boa parte destas MPEs estão situadas na região nordeste, centro-oeste, sul e sudeste, notadamente esta última, principalmente no estado de São Paulo e Rio de janeiro ( atualmente o maior mercado consumidor da carne de avestruz ), onde o apoio a esta proposta de ação irá beneficiar diretamente esta MPEs, assim como, dar sustentabilidade à cadeia, para suportar um maior número de MPEs neste segmento de carnes.
3- Elevação do Gasto Privado em P&D : as empresas e cooperativas do setor terão todo interesse em aplicar investimentos no setor produtivo, visando o aumento da produtividade desta atividade pecuária, uma vez que a estrutiocultura estará contemplada nas pesquisas da Embrapa Suínos & Aves e Meio Ambiente, conferindo maior credibilidade ao setor, o que conseqüentemente atrairá um maior número de empresas e cooperativas para investirem sinergicamente nas pesquisas agropecuárias supracitadas nesta proposta de ação, visando contribuir para o aumento da produtividade da criação, e conseqüentemente, da competitividade da carne de avestruz no mercado consumidor.
5.6 impactos negativos (quando houver)
Não há.
6. Estimativa dos custos de implantação da proposta
A implantação das pesquisas agropecuárias no campo de nutrição e meio ambiente, estão orçadas em R$ 300.000,00.
A elaboração de um diagnóstico mercadológico para a cadeia produtiva da estrutiocultura está orçada em R$ 200.000,00.
7. Fonte dos recursos
Os recursos poderão ser fomentados por verbas do próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, MDIC, MDA, Embrapa, instituições de gestão do agronegócio ( SEBRAE, FINEP), entidades de classe (SENAR), entidades relacionadas ao agronegócio ( OCB ) e agentes do setor privado captados pela ACAB.
8. Balanços dos custos e benefícios quantificando os impactos nas contas públicas (quando for o caso)
9. Outras informações relevantes
No que tange a pesquisas junto a Embrapa Aves & Suínos, assim como, Embrapa Meio- Ambiente, a ACAB já estabeleceu contatos e estudos iniciais de aproximação destas entidades ao segmento da estrutiocultura industrial, tendo boa receptividade em ambos os casos.
O grupo Pensa ligado à Universidade Estadual Paulista – UNESP de Ribeirão Preto já foi sensibilizada em levantar o diagnóstico mercadológico da cadeia produtiva da estrutiocultura, mas por falta de investimentos o projeto ficou estagnado.
10. Medidas a serem tomadas
Agendamento de reuniões do Subgrupo de Estrutiocultura do Fórum de Competitividade de Carnes para formatar um plano diretor baseado nesta ação proposta
Captação do erário necessário para concretização das ações propostas
Oficialização de estudos agropecuários inserindo a estrutiocultura no plano diretor da Embrapa Suínos & Aves.
Oficialização de estudos agroecológicos inserindo a estrutiocultura no plano diretor da Embrapa Meio Ambiente .
Aceleração por parte do DIPOA/MAPA da normalização do Abate humanitário de Ratitas.
Acelerar por parte do DIPOA/MAPA da nomenclatura nacional dos músculos do avestruz.
Reconhecimento oficial pelo MAPA, do Programa de Selecionamento Genético do Avestruz Brasileiro – Progestruz .
Incorporação da divulgação institucional da estrutiocultura industrial nos eventos oficiais do MAPA, MDIC, APEX, entre outros .
11. Responsável específico
Luis Robson Muniz – Presidente da ACAB (gestão 2007/2008)
12. Cronograma de implantação (ações de Governo, bem como aquelas que independem de decisão de Governo, mas que contribuem para a condução do projeto).
Ago – Set / 2008 – Revitalização do Subgrupo de Estrutiocultura, agendamento de reuniões e ações
Out – Dez / 2008 – Captação do erário necessário para concretização das ações propostas
Até Dez / 2008 – Oficialização de estudos agropecuários inserindo a estrutiocultura no plano diretor da Embrapa Suínos & Aves.
Até Dez / 2008 – Oficialização de estudos agroecológicos inserindo a estrutiocultura no plano diretor da Embrapa Meio Ambiente .
Até Dez / 2008 – Aceleração por parte do DIPOA/MAPA da normalização do Abate humanitário de Ratitas.
Até Dez / 2008 – Acelerar por parte do DIPOA/MAPA da nomenclatura nacional dos músculos do avestruz.
Até Dez / 2008 – Reconhecimento oficial pelo MAPA, do Programa de Selecionamento Genético do Avestruz Brasileiro – Progestruz .
Out – Dez / 2008 – Incorporação da divulgação institucional da estrutiocultura industrial nos eventos oficiais do MAPA, MDIC, MDA, EMBRAPA, APEX, entre outros .
Veja tabelas aqui