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Alimentos devem subir, mas sem pressionar inflação

<p>Do início do ano até a terceira quadrissemana de julho, o grupo alimentos registrou variação negativa de 3,6% no município de São Paulo.</p>

Redação (01/08/06)- Determinantes para a manutenção dos principais índices que medem a inflação no país em baixo patamar de janeiro a junho, os preços dos alimentos deverão se manter “bem comportados” também neste segundo semestre. Segundo economistas e fontes ligadas ao setor dos agronegócios, isso não significa, contudo, que será mais um período de “âncora verde”. Em virtude do baixo patamar atual, variações positivas de preços são esperadas, mas de maneira geral incapazes de gerar surtos inflacionários ou mesmo de compensar os tombos já registrados até agora, em grande parte em decorrência da barreira imposta pelo câmbio.

“Os alimentos não representam riscos no segundo semestre. Mas é de se esperar alguma recuperação de preços”, afirma Paulo Pichetti, coordenador da pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Do início do ano até a terceira quadrissemana de julho, o grupo alimentos registrou variação negativa de 3,6% no município de São Paulo, segundo Pichetti, e para a maioria dos produtos que compõem esta cesta o sinal está verde do ponto de vista da inflação. Mas ele não descarta que álcool e arroz surpreendam.

Com a embriaguez global em torno dos biocombustíveis, os preços recebidos pelas usinas sucroalcooleiras pelo álcool subiram mais de 30% nos últimos 12 meses, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Segundo analistas desse mercado, deverão permanecer em alta no segundo semestre, mesmo com a já constatada queda da demanda nos últimos dois meses – superior a 13%, de acordo com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).

No caso do arroz, o que move a elevação das cotações é a queda da produção na safra 2005/06, em fase final de colheita em algumas regiões. Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção deve totalizar 11,5 milhões de toneladas, 13% menos que em 2004/05. “Como a quebra foi grande, é de esperar a valorização do produto no segundo semestre”, acredita o economista Fabio Silveira, da RC Consultores. A empresa faz um levantamento semanal de preços agrícolas no atacado paulista, e o trabalho apontou queda acumulada de 17,8% do arroz no primeiro semestre deste ano. Na média dos 17 produtos agropecuários pesquisados, a queda apurada no intervalo foi de 9,7%.

Entre os vegetais, o tombo do arroz só perdeu para o da soja, que registrou desvalorização de 21%, conforme a RC. Para o analista Renato Sayeg, da Tetras Corretora, o mercado não deverá mudar muito até o fim do ano, ainda que no momento existam dúvidas sobre o tamanho das próximas safras americana e brasileira, fundamentais para a direção das cotações internacionais e, por tabela, para os preços praticados no país.

Segundo Sayeg, apesar da crise de liquidez e renda dos produtores do grão, o ritmo de comercialização da safra 2005/06 não atravessou e cerca de 30% da produção – calculada pela Conab em 53,4 milhões de toneladas – não foi comercializada, o que tende a evitar apertos na oferta doméstica até dezembro.

Para os grãos, entretanto, o fator entressafra, que permeará os próximos meses, normalmente provoca aumentos de preços, e eles são esperados para soja e milho, e este último também sofre a influência da febre do biodiesel. O fantasma que ronda esses mercados é a estiagem, que hoje prejudica – sem reflexos consideráveis na oferta – algumas regiões e que, se durar muito, pode comprometer expectativas de plantio e resultar em soluços imprevistos.

“Como temos entressafra e o dólar não deverá cair mais, fatores benignos do ponto de vista inflacionário não estarão mais presentes. Daí a previsão de variações levemente positivas de preços agrícolas no segundo semestre”, afirma Silveira. Mas novas elevações de juros nos EUA ou o aprofundamento da crise no Oriente Médio podem resultar em guinadas cambiais.

No chamado complexo carnes, cujos preços estiveram convidativos como poucas vezes se viu no primeiro semestre, em virtude de problemas sanitários no Brasil (bovina e suína) e da queda da demanda no exterior (frango), as direções traçadas por especialistas não são muito diferentes. Os caminhos levam a preços mais caros, mas nada – pelo menos por enquanto – capaz de afugentar os consumidores brasileiros, que no primeiro semestre chegaram a encontrar nas gôndolas dos supermercados pechinchas como carne de frango por R$ 0,99 o quilo.

Para a carne bovina, a expectativa é de preços mais elevados no segundo semestre em relação ao primeiro, diz Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. O motivo é a entressafra do boi gordo, que afeta as cotações do animal para abate. No atacado, os preços dos cortes bovinos já refletem a alta da arroba do boi. Segundo levantamento da Scot, o preço do dianteiro subiu R$ 0,40 do início do mês até sexta, para R$ 2,60 o quilo no atacado paulista. O corte de traseiro teve alta de R$ 0,60, para R$ 4,20 o quilo no período. “A tendência é a carne bovina reagir no varejo. Isso pode contribuir para a alta da inflação, mas não de forma significativa porque outros alimentos estão em baixa”, afirma Tito Rosa.

A carne de frango, que geralmente acompanha a alta de outras carnes, também não gera preocupações inflacionárias, porque a oferta continua elevada. A produção de pintos de corte (que vão virar frangos para abate) caiu 2,4% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período de 2005, para 2,192 bilhões de cabeças, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco).
Apesar da queda, o número ainda é elevado, já que as exportações brasileiras de carne de frango foram afetadas por causa da gripe aviária na Europa e África. “Não há risco de inflação [por causa do frango]. Deve haver alta de preço, mas não significativa”, diz José Carlos Godoy, secretário-executivo da Apinco.

Para ele, nem mesmo se as exportações se recuperarem há risco de falta de produto internamente. “A capacidade de produção é elevada porque o setor se preparou para exportar 300 mil toneladas por mês”. Está exportando menos de 200 mil toneladas por mês.