Há um ano, o mercado ficava perplexo com o anúncio oficial da falência de uma das instituições financeiras mais sólidas do mundo. A quebra do banco norte-americano Lehman Brothers teve efeito imediato e as bolsas de valores despencaram. A instabilidade fez o governo brasileiro anunciar medidas de apoio ao agronegócio, mas que na verdade, eram antigas reivindicações dos produtores rurais.
Com a crise, a oferta de crédito secou em todo o mundo. No Brasil, produtores rurais ficaram em situação delicada por causa das dificuldades de obter financiamentos em bancos oficiais e sem poder contar com as tradings, que suspenderam os financiamentos. O produtor Hilário Coldebella foi um deles. Morador de Sidrolândia, a 60 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ele encontrou nas cooperativas de crédito a salvação para a lavoura. “No ano passado nós percebemos que na hora que mais precisávamos delas (tradings) elas não nos socorreram. Por isso é que a gente está com tendência de buscar junto ao setor financeiro este recurso porque lá, pelo menos, a gente tem uma certeza de que, chova ou não chova, eles vão nos socorrer”, diz o produtor.
“O cooperativismo teve que ampliar o seu aporte financeiro para gerar produção, em torno de uns 10% pela ausência das tradings. Mas nós entendemos que o cooperativismo de crédito pode até financiar mais, então o governo precisa dar uma atenção especial, aporte de recursos”, explica o gerente de Mercados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Evandro Ninaut.
Nesse cenário, o governo acabou atendendo a antigas reivindicações dos produtores. “Naquele momento, além da falta de dinheiro, além da liquidez apertada, nós tínhamos uma tendência de queda nos preços dos produtos agrícolas. Então fizemos dois movimentos: melhorar a liquidez, disponibilizar mais recursos e nos preparar para um apoio forte à comercialização”, diz o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Edilson Guimarães.
A primeira medida foi antecipar R$ 5 bilhões para financiar o plantio da safra de grãos. Em seguida, a área econômica liberou mais R$ 2,5 bilhões da poupança rural para crédito agrícola. As usinas de cana conseguiram ainda R$ 1 bilhão para estocagem de álcool e o governo também adiantou recursos para as agroindústrias.
Mas apesar do esforço do governo, o crédito não chegava ao campo. Pressionado pelo Executivo, o Banco do Brasil, principal financiador da agropecuária, facilitou a liberação dos recursos. Em junho, a instituição financeira adotou novos critérios de avaliação do risco dos empréstimos. A medida beneficiou 94 mil agricultores que tinham problemas em conseguir dinheiro para plantar. “O resultado disso é que nos dois primeiros meses da safra 2009/2010 nós crescemos, em volume de recursos, 143% em relação ao ano passado e já liberamos R$ 6,5 bilhões até 31 de agosto”, explica o vice-presidente do Bando do Brasil, Luiz Carlos Guedes Pinto.