Redação (30/10/06)– Avicultores da região de Jaraguari cobraram ontem uma ajuda de custo para enfrentar o período de aproximadamente 60 dias que ficarão sem alojar frangos, em função da rescisão unilateral dos contratos por parte da Seara Alimentos e do posicionamento da empresa de aguardar novos exames sorológicos em amostras de aves da região para, posteriormente, rever a retomada das atividades nas granjas de Jaraguari.
Representantes dos produtores, da empresa e de entidades sanitárias e ligadas ao agronegócio se reuniram ontem na Secretaria Estadual de Produção e Turismo (Seprotur), em Campo Grande, em busca de solução ao impasse que mantém os avicultores com a produção paralisada, enquanto as parcelas dos financiamentos realizados para construção dos aviários continuam sendo cobradas dos produtores.
Há dois meses, oito aviários de cinco avicultores de Jaraguari, que trabalhavam como integrados à Seara fornecendo aves para a unidade industrial da empresa de Sidrolândia, foram surpreendidos com a interrupção das compras e dos alojamentos de pintinhos, sem que soubessem o motivo da paralisação das atividades. Com os aviários vazios, mesmo depois de investir para cumprir as normas de biossegurança exigidas pela empresa e pelas entidades sanitárias, os produtores do município, localizado a 46 quilômetros de Campo Grande, ficam sem renda para garantir o próprio sustento.
Segundo informações discutidas na reunião de ontem, a Seara alega que a distância entre a unidade industrial e as granjas avícolas de Jaraguari dificulta os trabalhos na região. Outro argumento utilizado pela empresa é a espera por novos exames sorológicos em aves da região, uma vez que resultados de testes rotineiros, realizados em amostras colhidas há cerca de dois meses no município, apresentaram reagência à doença de newscastle com Índice de Patogenicidade Intracerebral (IPIC) de 0,25%, sendo que a enfermidade só é confirmada quando os resultados apontam índices superiores a 0,70%.
Desconfiança
Ainda que as autoridades sanitárias do Estado descartem riscos de newcastle em Jaraguari, a empresa demonstra desconfiança em relação à situação sanitária da região e cobra ações para eliminação da criação de frangos caipiras e de “fundo de quintal” nas proximidades dos aviários de frangos de corte. Para a empresa, as aves criadas próximo aos aviários representam uma ameaça sanitária à produção de corte.
No ano passado, depois de aves de Jaraguari apresentarem índice de reagência à newcastle também inferiores ao patamar que comprova a doença, o Japão suspendeu as compras do frango produzido na região em função do temor à doença. Durante a reunião de ontem, a empresa cobrou ações governamentais para recuperação do mercado japonês, alegando que a retomada das vendas àquele país é o primeiro passo para solucionar o impasse que resultou na rescisão contratual com os integrados.
Vendas para o Japão
Diante da solicitação da Seara, a Seprotur garantiu que irá solicitar, por intermédio da Superintendência Federal da Agricultura (SFA/MS), que o Ministério da Agricultura encaminhe um relatório técnico para o Japão pedindo a reabertura comercial daquele mercado, como forma de possibilitar que a empresa reveja a decisão de não alojar nos aviários dos integrados de Jaraguari.
A Seprotur recomendou ainda ao secretário de Agricultura de Jaraguari, Clelson Ramos, que seja realizada uma audiência pública naquele município para discutir a importância da atividade na região e para reforçar a necessidade de a população compreender que a avicultura comercial tecnificada não pode conviver com a atividade da avicultura caseira, principalmente, pelas exigências sanitárias dos compradores internacionais.
MS pedirá que Japão retome compra de aves
A economista e diretora da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Adriana Mascarenhas, que participou da reunião de ontem, lembrou que a Seara, ao se instalar no Estado, contou com a concessão de muitos incentivos fiscais por parte do Governo de MS e conhecia previamente a logística necessária para a produção de frangos no município de Jaraguari, o que derruba os argumentos da empresa de que a distância dos aviários estaria sendo um problema. “Ao se instalar, a Seara assumiu um compromisso com os produtores integrados de Jaraguari e, como contou com tantos incentivos, é preciso que ela garanta uma contrapartida a esses produtores e ao Estado”, cobrou a economista.
Ela comentou ainda que os avicultores têm sérios compromissos com o financiamento feito para construção dos aviários e por isso precisam ser amparados enquanto a produção está paralisada, devido ao vazio sanitário nas granjas. “Queremos chegar a um acordo em que nem os produtores, nem a empresa, fiquem no prejuízo”, frisou.
O Correio do Estado procurou a diretoria da Seara para comentar a situação, mas a assessoria de imprensa informou que a empresa, por enquanto, não irá se pronunciar sobre o assunto. No entanto, enquanto a Seara não apresenta uma justificativa oficial para a rescisão dos contratos com os avicultores, representantes dos produtores e das entidades sanitárias são unânimes em relatar a aparente indisposição da empresa em continuar com a criação em Jaraguari