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Avicultura Paulista

Para enfrentar as dificuldades do setor, os produtores de ovos de Bastos (SP) formam parceira com o Sebrae para investir em capacitação empresarial e na qualidade de seu produto.

Redação AI 01/11/20002 – Tsunehiro Nakanishi já passou por inúmeras crises desde que assumiu a granja de postura de seu pai em 1969. Em todas elas, segurou as rédeas de seu negócio

Família Nakanishi. Participação nas várias ações promovidas pelo Sebrae. Foto: Daniel R. da Costa

e atravessou o momento de turbulência com otimismo, mas nesta está preocupado. Na ponta do lápis ele vê seu custo de produção chegar a R$ 32 por caixa de 30 dúzias do ovo tipo extra (segunda quinzena de setembro), enquanto o mercado paga por esta mesma caixa somente R$ 26,50. Como ele, os outros produtores de ovos da região de Bastos, cerca de 500 quilômetros de São Paulo, enfrentam a mesma situação. Não sei se é a idade que vai deixando a gente mais pessimista, mas nunca senti tanta dificuldade, revela Nakanishi, hoje com 55 anos.

Um dos responsáveis pela crise é a alta do milho e soja, principais matérias-primas para a fabricação de rações. Com seus valores baseados em dólar, eles oneram a produção, cuja comercialização é feita em reais. Estes produtos viraram um commodity internacional para o Brasil, aponta Alfredo Onoie, diretor executivo do setor de ovos da União Brasileira de Avicultura (UBA). Como o País precisa de dólares para equilibrar sua balança comercial, está incentivando a exportação de milho, que não é suficiente nem para o mercado interno, critica.

Embora seja mais visível, e sentido diretamente no bolso, este não chega a ser o único fator responsável pela turbulência na atividade. O setor tem carecido de infra-estrutura e de adequação às novas exigências do mercado, algo que depende da ação direta dos produtores, o que parece estar começando a acontecer. Se toda crise tem realmente um lado bom, o desta parece ser o de estar aproximando os avicultores para discutirem a atividade. Nacionalmente vem ganhando força a idéia de se formar uma associação que defenda os interesses do setor. O presidente da Associação dos Produtores de Ovos do Estado de São Paulo (Apoesp), Edmir Donine, acredita que a nova entidade ajudaria na elaboração de estratégias de marketing, contribuindo para o aumento do consumo e equilíbrio do mercado.

Enquanto nacionalmente se discute esta nova associação, os avicultores de Bastos estão iniciando um movimento rumo a uma capacitação empresarial, ligada à qualificação do produto ovo, e que deverá resultar numa forma de união entre os produtores.

Um passo à frente do que está sendo feito no Brasil, graças ao apoio do Sebrae (Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), Escritório Regional de Marília, que abraçou a causa avícola no município. A parceria teve início no final de 2000, quando o Sindicato Rural de Bastos procurou a entidade para encontrar uma forma de combater a inadimplência, que estava prejudicando os avicultores. O diretor executivo do sindicato, Yasuhiko Yamanaka, relembra que inicialmente a intenção era de um trabalho específico de no máximo seis meses. Achávamos que até a porteira sabíamos como resolver e que nosso problema era da porteira para frente, mas o Sebrae achou que era necessário analisar todo o caminho da produção.

A mudança de rumos se mostrou certeira. Marcos Aurélio Pereira, gestor de ações do Sebrae em Bastos, explica que o calote era apenas a ponta do iceberg, sendo necessário buscar as causas disto. Um estudo realizado em 64 granjas mostrou uma realidade na qual o produtor praticamente abdicou da comercialização. Descobrimos que 73% da produção local estava sendo escoada para atravessadores e atacadistas, afirma Pereira.

Parceria com o Sebrae – Com o enfoque apenas na produção, o avicultor se distanciou do consumidor e dos pontos de venda. Sem comercializar bem seu produto, o resultado era a inadimplência. Para começar a reverter esta situação, o Sebrae, juntamente com os produtores, resolveram implantar entre outras ações, um piloto de gestão empresarial. A Granja Koga foi escolhida, acolhendo um consultor do Sebrae para desenvolver uma estrutura administrativa mais eficaz, a qual já começou a ser repassada em outubro às outras 29 granjas que integram o projeto.

Márcio Gohara é um dos conselheiros de gestão da granja piloto. Produtor há sete anos, ele é um dos responsáveis por avalizar as idéias que estão sendo implantadas na Granja Koga. Aceitar o desafio de um consultor foi uma das coisas principais, pois os produtores não aceitavam sugestões externas, diz ele, relembrando as dificuldades iniciais enfrentadas pelo Sebrae, que hoje tem o apoio de grande parte dos produtores.

Bastos em números

Foram catalogadas 84 granjas pelo Sebrae em 2001. Juntas elas possuem um plantel aproximado de 12,5 milhões de aves e representam cerca de 80% da receita do município. Destas:

45% possuem até 45 mil poedeiras
21% possuem de 50 mil a 100 mil poedeiras
21% possuem de 100 mil a 300 mil poedeiras
7%   possuem de 300 mil a 500 mil poedeiras
3%   possuem de 500 mil a 1 milhão de poedeiras
3%   possuem acima de 1 milhão de poedeiras
Fonte: Sebrae

Tsunehiro Nakanishi, relutante no início, é hoje um dos que mais apoiam o plano de capacitação e modernização que está sendo implantado nesta parceria Sebrae-avicultores. Tanto que não se imaginava mais retornando ao aprendizado, coisa que voltou a fazer ao participar do Empretec, Seminário de capacitação empresarial oferecido pela entidade. Seus dois filhos, James e Alfredo Nakanishi, foram seus grandes incentivadores. Atuantes no novo rumo que a avicultura vem tomando na cidade, James é um dos conselheiros de gestão da granja piloto e Alfredo está trabalhando na implantação do programa de APPCC (Análise de Perigos em Pontos Críticos de Controle) na propriedade de seu pai e em outras duas, um trabalho inédito em granjas avícolas.

A implantação do programa APPCC é uma parceria do Sindicato Rural de Bastos, Sebrae, Embrapa e Senai. As três granjas escolhidas para a implantação inicial fornecerão as informações usadas como base para a elaboração de um Manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF), que depois será repassado as outras integrantes do projeto.