Redação (02/03/07) – A forte expansão dos depósitos à vista nos bancos e a elevação no volume de captação da poupança provocaram um excedente de R$ 1 bilhão no caixa do BB, segundo projeção feita até o fim do atual ano-safra 2006/07, em junho.
Os bancos privados também registram "sobras" próximas de R$ 1 bilhão, apurou o Valor. O cálculo é feito sobre a média mensal projetada das exigibilidades bancárias, a parcela de 25% sobre os depósitos à vista que os bancos são obrigados a destinar ao crédito rural. No fim de junho de 2006, o BB teve que pedir autorização ao Banco Central para remanejar R$ 2 bilhões em "sobras" da safra 2005/06 para o atual ciclo. Por lei, os bancos têm que depositar esses recursos, sem remuneração, numa conta do BC, além de pagar 40% de multa pela deficiência. "Vamos zerar essa sobra até 30 de junho. De março até lá, vamos emprestar um adicional de R$ 8 bilhões para custeio e comercialização da safra", disse o vice-presidente do BB, Derci Alcântara, ao Valor. De julho de 2006 até fevereiro deste ano, o banco emprestou R$ 25,2 bilhões ao setor rural.
A estratégia do BB para reduzir o excesso de crédito em caixa inclui a criação de uma linha de R$ 1 bilhão para antecipação da compra de insumos agropecuários pelos produtores. Como os preços dos produtos começaram a subir, o BB aposta na demanda pela nova linha. Essa espécie de pré-custeio deve transformar-se em custeio alongado, com vencimento para 60 dias após a colheita da safra. "Quem contratar essa linha terá o seguro embutido", disse o diretor de Agronegócios, José Carlos Vaz.
Como o BB trabalha com a hipótese de redução da atual taxa de juros do crédito rural a partir do próximo ano-safra 2007/08, que inicia em julho, os produtores terão a garantia de que devem pagar menos do que 8,75% ao ano em caso da alteração. "Os juros podem cair e os produtores serão beneficiados", disse Alcântara. O BB também elevará a oferta de recursos para as operações de estocagem da safra (EGF) de arroz, feijão, milho, trigo e soja, além do lançamento de notas promissórias rurais (NPRs) para os produtores de leite.
O vice-presidente do BB também anuncia uma modificação nas regras de hedge cambial oferecido pela instituição. Na semana passada, o conselho do banco reduziu de US$ 100 mil para US$ 30 mil o piso para as operações. Assim, os produtores poderão travar posição comprada ou vendida em dólar. "Quem aposta na alta do dólar, pode travar o preço para pagar uma dívida. Se achar que a cotação cairá, pode garantir preço melhor para uma venda", disse Alcântara.
Animados com a atual temporada, os executivos do BB acreditam na manutenção das boas cotações internacionais das commodities mesmo com a expectativa de uma "supersafra". E afastam a possibilidade de renegociações gerais de dívidas rurais. "Sem chances de rolagens generalizadas. Não há porquê o produtor pensa nisso num momento de recuperação de crédito", afirmou Alcântara.