Redação (09/02/07) – Imagine uma granja de suínos totalmente auto-sustentável. Na qual os resíduos da atividade suinícola não só têm tratamento adequado e responsável como são usados para gerar vários tipos de energia – como gás e combustível – e para produzir fertilizante agrícola, sabão e desinfetante.
Produtos estes que, usados internamente, fazem dela uma granja ambientalmente correta, socialmente responsável e economicamente viável. Realidade distante? Modelo difícil de ser atingido? Projeto inalcançável para pequenos produtores?
A experiência de uma pequena granja no interior de São Paulo vem provando que não. Localizada no município de Caconde, a Fazenda Pork Terra vem ganhando notoriedade pela criatividade (e boa dose de coragem e ousadia) com que seu proprietário, o suinocultor João Paulo Muniz, vem transformado problemas rotineiros de uma granja de suínos – como a administração dos dejetos, por exemplo, – em soluções práticas e rentáveis para seu negócio.
Instalada numa área de 250 hectares, a Fazenda Pork Terra é bastante diversificada. Além da produção de suínos que hoje conta com 200 matrizes em produção a propriedade dispõe de um frigorífico e áreas de cultivo de milho e café.
Com um investimento de R$ 100 mil para a aquisição de biodigestores e para a construção de uma usina artesanal Muniz passou a aproveitar os dejetos suínos para produzir biogás e biofertilizante e a gordura animal, antes descartada no frigorífico, para produzir biocombustível.
Os resultados do investimento, conta o suinocultor, foram imediatos e surpreendentes. “Os problemas do passado viraram soluções no presente”, comemora Muniz. “Com essa opção consegui reduzir significativamente os custos de minha propriedade”, completa.
Biogás e “Pork Fuel” Hoje o biogás obtido a partir do tratamento dos dejetos é utilizado de várias formas na Pork Terra. É usado, por exemplo, para produzir energia elétrica. A produção atual atende a 50% da demanda por energia da propriedade. Muniz também substituiu 100% do gás GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) usado no refeitório e no frigorífico.
O biogás é usado ainda para o aquecimento dos leitões na fase de creche e para a secagem do café. Isso sem contar o biofertilizante, outro subproduto originado do tratamento dos dejetos, que é utilizado como adubo nas lavouras de café e milho. “Isso representa uma economia de 40%, já que hoje misturo o biofertilizante a outros produtos para adubar a lavoura”, diz o suinocultor.
A gordura dos suínos, por sua vez, antes um resíduo da industrialização dos animais no abatedouro, é usada para produzir biocombustível, apelidado por Muniz de “pork fuel”. Já seu subproduto, a glicerina, transforma-se em sabão e detergente.
Todo o processo de transformação da gordura animal é realizado numa mini-usina especialmente montada dentro da propriedade. “Trata-se de uma usina artesanal, bastante simples, composta por três equipamentos; um tacho para a fritura da banha, um transesterificador e uma panela de inox para acabar de apurar o biocombustível”, explica Muniz. De acordo com o suinocultor, 1 quilo de gordura, corresponde a 1 litro de biocombustível, litro de glicerina e litro de sabão ou detergente.
Para atestar a qualidade do biocombustível produzido na Pork Terra e obter autorização para usá-lo em sua frota de veículos, Muniz precisou encomendar um levantamento técnico junto à Agência Nacional de Petróleo (ANP). “O laudo comprovou a qualidade do biocombustível produzido na fazenda, atestando que ele cumpre todas as determinações da ANP”, explica Muniz.
Na ponta do lápis – Atualmente a Pork Terra produz, por semana, 400 litros de biocombustível, 40 quilos de glicerina e 100 litros de sabão (líquido ou pastoso). Toda a frota de veículos da propriedade (composta por carros, caminhonetes, tratores e caminhões) é abastecida com o “pork fuel” produzido na própria fazenda. “Não gastamos nem mais um centavo com combustível”, comenta Muniz. O sabão e o detergente são usados para a limpeza e desinfecção tanto da granja quanto do abatedouro.
De acordo com o suinocultor, o aproveitamento de todos esses subprodutos, que são usados exclusivamente na propriedade, tem representado à Pork Terra uma economia mensal de R$ 8 mil. “Além de toda essa economia, hoje a Pork Terra é uma propriedade auto-suficiente dentro de um modelo ambientalmente correto e sustentável”, afirma.
Muniz faz questão de enfatizar que a experiência da Pork Terra pode servir de exemplo para qualquer suinocultor, independente do tamanho de sua propriedade. “Tenho plena convicção de que essas tecnologias são acessíveis a qualquer produtor”, afirma. “Basta que cada projeto seja elaborado de acordo com a realidade e as características de cada propriedade”, conclui Muniz.