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Bloqueio total às cargas no MT

<p>Pode faltar combustível no Estado. Entradas e saídas estão com bloqueio total às cargas no Sul e Norte.</p>

Redação (10/05/06)- Desde ontem, todos os caminhões (carregados ou não) estão sendo impedidos de entrar ou sair do Nortão de Mato Grosso. O município de Sinop (503 quilômetros ao Norte de Cuiabá) foi o último a aderir à interdição total das carretas. A decisão foi tomada pelo movimento Grito do Ipiranga, após mais uma reunião sem efeitos práticos e imediatos, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Brasília.

Com a interdição total de cargas realizada na região Sul, principal via de entrada de produtos no Estado, e a adesão total dos municípios mobilizados no Norte, a expectativa é que comece a faltar alguns produtos não produzidos em Mato Grosso, como é o caso dos derivados de petróleo.

O primeiro sinal de alerta foi dado pelo representante do Sindicato dos Postos de Combustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo) no Nortão, Laércio Estrela. Estamos sem receber combustível há quase dois dias. Pelas estimativas dele, o estoque existente na região não durará mais dois dias.

Caso o bloqueio continue, faltará combustível, especialmente diesel. Laércio afirma que a maior parte do combustível que abastece Mato Grosso vem das bases distribuidoras localizadas nos estados de São Paulo e Goiás e está sendo impedido de entrar no Estado no bloqueio realizado em Rondonópolis (210 quilômetros ao Sul de Cuiabá). Além do combustível não estar sendo repassado para base distribuidora de Sinop, o produto sequer está chegando a Cuiabá, diz.

O representante do Sindipetróleo afirmou que vários municípios do Nortão já estão trabalhando com estoque baixo, e em alguns casos está faltando ou chegou a faltar diesel. Na semana passada, na maioria dos postos de Sorriso não havia óleo diesel, a situação ficará pior agora, pois não estão deixando as cargas entrarem no Estado, ressalta.

RONDONÓPOLIS

Depois de um impasse com os produtores rurais, na madrugada de ontem, caminhoneiros bloquearam totalmente o trânsito de veículos desde às 8h de ontem, em Rondonópolis.

As barreiras de caminhões foram montadas nas BRs 163 e 364, nas saídas para Goiás, Mato Grosso do Sul e Cuiabá, e, durante todo o dia, impediram a passagem de ônibus, carros de passeio e até mesmo ambulâncias.

O bloqueio teve início na segunda-feira, após uma trégua de três dias, mas só atingia caminhões. Ontem, entretanto, durou todo o dia e foi total. No fim da tarde de ontem, produtores rurais e caminhoneiros se reuniram no acampamento do Posto Trevão e, após vários impasses, decidiram manter o bloqueio total por tempo indeterminado.

As rodovias foram bloqueadas como forma de fazer com que os manifestantes do Grito do Ipiranga liberassem a passagem dos caminhões.

Protestos em Pontes e Lacerda
O movimento Grito do Ipiranga chegou a Pontes e Lacerda (448 quilômetros de Cuiabá, no Vale do Guaporé) e mobilizou toda a população local. Contou com a participação de pecuaristas, caminhoneiros, pequenos produtores, políticos e sociedade civil durante todo o dia na praça central da cidade. Segundo os organizadores, cerca de 2,5 mil pessoas participaram das manifestações e mais de 200 caminhões e carretas ficaram paralisados na BR-174 (CuiabáPorto Velho), das 6h às 18h, provocando um congestionamento de mais de três quilômetros.

A prefeitura municipal decretou ponto facultativo. A única instituição que se colocou contra o movimento foi o Banco do Brasil, que ganhou na Justiça, anteontem, uma liminar permitindo o funcionamento da agência local. Mas os manifestantes se concentram exatamente em frente ao banco, atrapalhando o atendimento.

Produtores mobilizados em Brasília
A reunião de ontem à tarde de lideranças rurais mato-grossenses com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em Brasília não surtiu resultados imediatos e efetivos, como esperava o setor. Como saldo do encontro, houve a promessa do ministro em agendar uma audiência das lideranças com o presidente Lula na sexta-feira, dia 12. O setor estima que as dívidas resultantes de duas safras ruins (04/05 e 05/06) tenham deixado um saldo de cerca de R$ 6 bilhões.

Vamos ficar mobilizados aqui em Brasília até a sexta-feira. Precisamos sair daqui com uma resposta do presidente, avisa o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Homero Pereira.

Homero resume o encontro com o ministro: Foi uma reunião de apresentações e encaminhamentos. Ontem, o ministro recebeu oficialmente dos produtores rurais a pauta de reivindicações do movimento Grito do Ipiranga.

Além da mobilização em Brasília, Homero explica que os produtores que organizam as manifestações pelo Estado permanecerão com os protestos até a sexta-feira, sem dúvida. Este movimento que começou nas bases — não foi instigado pela Federação — nasceu com o propósito de ser abandonado somente quando houver resposta concreta da União aos problemas que afetam o setor. Dependendo da resposta da União, tem produtor disposto a manter as interdições até o final do ano e tem ainda quem esteja pronto para agüentar até as eleições, em outubro, exclama.

O líder rural aponta que o setor não admite mais soluções paliativas. Precisamos de medidas estruturais. As paliativas não são mais capazes de desmobilizar o Grito do Ipiranga, justamente agora que ele contagia o Brasil. As estimativas são de que sete estados tenham aderido aos protestos, entre eles Sergipe e Alagoas.

A insatisfação é geral entre o setor produtivo. Agora a sociedade civil organizada está ciente do problema e está se solidarizando neste movimento (sic). Todos estão cansados da farra que o governo Federal tem feito com o nosso dinheiro. Ora com os valeriodutos, ora com os sanguessugas, critica.

Homero foi ríspido ao dizer que o governo Lula faz populismo com a produção agrícola (dizendo que a população nunca teve comida tão barata quanto agora ), mas está matando a galinha dos ovos de ouro, que são os produtores. Se ele (Lula) não entende de agronegócios, não tem problema, ele está cercado de pessoas que entendem, só precisa ouvi-las. O que existe neste governo é um preconceito com o produtor rural, principalmente com o grande. Neste movimento existem pequenos produtores que também passam por dificuldades. O município de Itanhangá é o maior assentamento da América Latina, para se ter uma idéia. A cidade destacada por Homero fica a cerca de 180 quilômetros de Sinop, no Norte mato-grossense. Em Ipiranga do Norte, onde nasceu este movimento, a característica local é de pequenos produtores, argumenta.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), Rui Ottoni Prado, disse também que Roberto Rodrigues reconheceu que o movimento foi um estopim que despertou outros setores do governo para a crise do agronegócio.

REIVINDICAÇÕES

A pauta específica dos produtores rurais de Mato Grosso pede um pacto de 180 dias com todos os credores, seja do setor privado ou bancário. Segundo as lideranças, neste período o segmento irá buscar um plano de refinanciamento dos débitos. Os produtores querem apoio efetivo para a agricultura familiar. Para as lideranças, esses itens devem ser atendidos imediatamente.