Pesquisadores da área de tecnologia de alimentos da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram, em Bauru (a 267 quilômetros de Campinas), uma carne em pó, que deve ser comercializada a partir do começo do ano que vem. A novidade vai ser útil, principalmente, para pessoas que têm dificuldade para mastigar ou não podem ingerir alimentos sólidos, como os pacientes com lábio leporino ou então que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), além dos que foram submetidos à cirurgia de redução de estômago, são portadores de Alzheimeir e até quem está em quimioterapia ou possui alguma anomalia na boca.
No processo de produção, que está em registro de patente e por isso é mantido em segredo, pedaços de carne são cozidos. Em seguida, são secos e moídos. O resultado é um pó bastante fino e facilmente solúvel em água, que pode ser adicionado a sopas ou caldos. Na composição, não é feita a adição de nenhum tipo de tempero, estabilizantes ou corantes industrializados. O processo é bastante parecido com o que produz os alimentos liofilizados ou desidratados. A diferença é o acréscimo de alguns componentes químicos, que ainda não podem ser divulgados. O prazo de validade do produto é de um ano.
Como a novidade foi pensada para ser consumida por pessoas com saúde frágil, os pesquisadores utilizam cortes magros de carne bovina. O processo é submetido ao controle de qualidade do Serviço de Inspeção Federal (SIF), órgão do Ministério da Agricultura responsável pela supervisão de produtos de origem animal. De acordo com a nutricionista do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, responsável pelo projeto, Suely Prieto de Barros, a técnica de fabricação da carne em pó preserva praticamente todos os nutrientes, com a vantagem da quantidade mínima de gordura. Cerca de 80% de toda a mistura é composta de proteínas e, a cada 100 gramas do novo produto, apenas 1,6 grama são de gordura.
A título de comparação, a nutricionista explica que, em cada 100 gramas de contrafilé magro e grelhado, por exemplo, são encontrados 2,3 gramas de gordura. Já num lombo grelhado, esse valor sobe para 3,3 gramas. Outra vantagem é o preço. O custo de produção do novo alimento é, em média, 60% menos que os suplementos de proteína já existentes no mercado.
O produto foi testado em cerca de 200 pacientes. “Essa inovação vai ajudar todos os que têm dificuldade para ingerir nutrientes presentes na carne. Como muitos doentes precisam de uma alimentação líquida, quando colocávamos carne nas sopas e depois coávamos, ela ficava praticamente totalmente retida na peneira. Isso significava um aproveitamento muito pequeno dos nutrientes, além de desperdício”, explica Suely. Componentes presentes na carne são, inclusive, importantes para a cicatrização cirúrgica. Num adulto, uma porção de 15 a 20 gramas do produto é capaz de suprir as necessidades diárias de proteína animal, ao lado da ingestão de leite e ovos.
Sabor – Particularmente sobre o sabor, a carne em pó foi testada em um hospital de Jaú (a 211 quilômetros de Campinas). Oferecida a 32 pacientes que passaram por cirurgia por redução de estômago, ela foi aprovada. “Eles, em geral, consideraram a carne leve e saborosa”, conta a nutricionista. O novo produto está em processo de adaptação para ser fabricado em escola industrial e, nessa fase, foram desenvolvidas receitas que o utiliza para a produção de purês, patês, cremes, molhos e até doces. “O único problema é que, em misturas que envolvam leites, pode haver uma competição entre o ferro presente na carne e o cálcio, o que pode gerar perda de alguns componentes”, explica Suely.
A ideia é que, no futuro, a mistura possa ser usada também como complemento da merenda escolar. O produto não tem contraindicações. O consumo deve ser feito de acordo com as necessidades de proteínas de cada pessoa e, por isso, pode fazer parte de uma dieta balanceada. A carne em pó está atualmente em fase de registro na à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).