Redação (27/02/2009)- O valor pago pelo frango vivo ao produtor subiu em fevereiro, mesmo com uma maior oferta do produto no mercado interno. De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) o avicultor em São Paulo está recebendo, na média de fevereiro, R$ 1,77 pelo quilo do animal vivo, 8,5% mais que os R$ 1,63 da média do mês de janeiro. Apesar das exportações ainda menores, o mercado interno está sustentando os preços, sobretudo com a migração do consumo da carne bovina para a de frango, movimento ainda sem dados oficiais. Segundo informações do Sindifrio-SP (Sindicato da Indústria do Frio), o consumo de carne bovina já recuou neste ano de 5% a 6%. "Essa carne se manteve em nível elevado e a população migrou para o consumo de frango. O preço subiu buscando um equilíbrio", explica Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea.
O valor maior pago pelo frango torna-se mais vantajoso diante da tendência de queda nos preços dos grãos com a entrada da safra de verão no Brasil. O milho – que representa 70% o custo da ração – já teve arrefecimento dos seus preços em fevereiro. Na média do mês, a saca foi negociada a R$ 22,26, 4,6% menos que os R$ 23,34 da média de janeiro. Mas essa tendência pode tomar um rumo diferente por conta de maior procura pelo milho e pelo farelo de soja brasileiros.
Lucílio Alves, pesquisador do Cepea, explica que a quebra de safra na Argentina já está pressionando os preços do farelo de soja. De janeiro para fevereiro, o valor pago pela tonelada saiu de R$ 589 para R$ 927. "No caso do milho, além do fator Argentina, temos também uma incerteza sobre o tamanho da safrinha no Brasil", acrescenta.
De qualquer forma, flexibilizar a redução dos alojamentos – cuja meta é atingir 20% até março – está fora de cogitação, segundo Ariel Mendes, presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA). Isso porque ainda há uma "superoferta" de frango no mercado interno. "Desde outubro, estão sendo colocados, em média, 700 mil toneladas de frango por mês no mercado interno, quando o normal é 600 mil toneladas. Se compararmos esse volume com o mesmo período do ano passado, teremos uma alta de 18%", justifica.
Ele acredita que só será possível retomar alojamentos quando as exportações – por enquanto entre 270 mil a 275 mil toneladas mensais – voltarem aos patamares de 300 mil toneladas. Depois de atingir recorde de 496 milhões de pintos alojados em outubro, o setor registra em fevereiro 411 milhões de animais e a meta é chegar a 400 milhões em março. Mendes discorda que neste momento o avicultor esteja com boa remuneração. "Essa alta do preço não está sendo muito sentida pelo produtor e os custos estão em alta", afirma.
Para o consultor José Carlos Teixeira da Silva também é cedo para retomar alojamentos, principalmente porque o setor está com prejuízo acumulado. No primeiro semestre do ano passado, o custo médio de produção foi de R$ 1,67 por quilo, enquanto o preço vendido, ficou em R$ 1,48. No segundo semestre, continua Teixeira, a relação melhorou, com o custo se mantendo em R$ 1,67 e o preço ao avicultor elevando-se para R$ 1,78. "Em janeiro essa relação ficou em R$ 1,70 de custo e R$ 1,68 de preço médio e, em fevereiro, o valor pago ao avicultor deve estar um pouco mais alto", estima Teixeira.
Mas alguns frigoríficos que estavam em férias coletivas entre janeiro e fevereiro, estão retomando alojamentos e pode ser que a meta de reduzir até março não se cumpra. Depois de 30 dias parado, o Frigorífico Nicolini, de Garibaldi (RS), voltou a abater 100 mil animais por dia para a Sadia desde 23 de fevereiro e, a partir de 23 de março, retoma o segundo turno com mais 60 mil animais por dia. "Houve uma mudança de estratégia. Esses 160 mil animais são para o mercado interno, e equivalem a 240 mil frangos para o mercado externo", diz Pedro Carrer, diretor da Nicolini, que anunciou a contratação de 500 pessoas para recompor o quadro de 1,2 mil na unidade de Garibaldi.
A unidade de Araçá (RS), onde a empresa também abatia 160 mil animais para a Sadia, entrará na segunda-feira em férias coletivas de 30 dias. "Após o retorno, vamos produzir frango próprio e tentar conseguir outros parceiros", diz Carrer.