O governo deve aprovar um reajuste para os preços da gasolina e do diesel até o fim do ano. A ideia original, segundo uma fonte ligada ao Planalto, é corrigir os preços dos dois combustíveis em 5%. Ainda de acordo com a fonte, existe espaço em outubro para aplicar a correção dos combustíveis, devido à estabilidade recente da taxa de câmbio, no patamar de R$ 2,20, e a uma “certa folga” no Índice de Preços ao Consumidor Ampla (IPCA), o índice oficial de inflação do país.
Os dados de inflação sugerem que o Banco Central ainda tem uma pequena “gordura” para acomodar na variação do IPCA deste ano um reajuste de preços da gasolina. Desde janeiro que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) considera, para efeito da avaliação prospectiva da inflação, que “a projeção de reajuste no preço da gasolina se situa em torno de 5%, para o acumulado de 2013”. De lá para cá, no entanto, o aumento da gasolina na bomba foi de 2,5%, embora o reajuste de preço na refinaria tenha sido maior, de 6,6% no início do ano. Com isso, haveria uma margem de correção de preços já contabilizada nas projeções inflacionárias, mas não efetivada.
Com o adiamento da decisão do Federal Reserve (Fed), de iniciar a normalização da política monetária americana, e de uma certa acomodação da taxa de câmbio, abre-se uma “janela” para a presidente Dilma Rousseff decidir sobre os preços da Petrobras no curto prazo, seja em outubro ou novembro. A “gordura” do BC é relativa. Ela é considerada em relação ao objetivo da autoridade monetária de encerrar 2013 com uma inflação menor do que os 5,84% de 2012 e não em comparação com a meta de 4,5%.
No último boletim Focus divulgado pelo Banco Central, a expectativa de elevação do IPCA para este a no é de 5,81%. Com a taxa de câmbio na casa de R$ 2,20 a defasagem entre os preços internos e externos dos combustíveis seria de 10% na gasolina e de 18% no óleo diesel.
O aumento de 5% da gasolina na refinaria teria um impacto direto de cerca de 10 pontos base na variação do IPCA. Seria, pelo processo de indexação que ainda vigora na economia, uma inflação adicional para ser incorporada nos preços dos aluguéis, tarifas administradas, salário mínimo, benefícios previdenciários, dentre outros. Em contrapartida, equacionaria parte do problema da Petrobras e o governo estaria dando início à correção dos preços monitorados, atualmente sob estrito controle. Para uma inflação acumulada em doze meses de 8% nos preços livres, os monitorados tiveram reajuste de apenas 1,3%, o que se configura como uma distorção no sistema de preços que mais cedo ou mais tarde terá que ser resolvida.
Na última semana, o conselheiro da Petrobras Sergio Quintela afirmou que o conselho de administração da estatal reconhece a necessidade de alinhamento de preços dos derivados em relação ao mercado internacional. Ele, no entanto, disse que não havia decisão sobre quando o reajuste deveria ocorrer e de que forma – uma única vez ou parceladamente.
Em entrevista ao Valor, publicada na quarta-feira, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que tem conversado “permanentemente” e “insistentemente” com o governo e os conselheiros da companhia sobre o assunto. Mas, segundo ela, não está previsto um reajuste de preços dos combustíveis no curto prazo. Ela não definiu de quanto é esse prazo.
Graça admitiu que, com o dólar a R$ 2,20 e o barril do petróleo tipo Brent no patamar de US$ 110, a distância dos preços da gasolina e diesel no mercado doméstico, em relação aos valores pagos na importação desses combustíveis, “ainda é relevante”, mas não disse de quanto é essa diferença.
Graça acrescentou que o plano de negócios e gestão 2013-2017, que prevê investimentos da ordem de US$ 207,1 bilhões em projetos em implantação, foi desenhado considerando um novo reajuste de preços dos combustíveis neste ano, além dos 5% aprovados apenas para o diesel em março.
Segundo o diretor do Centro
Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, se o governo aprovar um reajuste de 5% para os preços da gasolina, praticamente vai zerar a defasagem em relação ao valor praticado para o combustível no mercado internacional. Ele avalia que a defasagem hoje é de 11% para a gasolina e de 23% para o diesel.
O especialista lembrou que, com a aproximação do inverno no hemisfério Norte, os preços internacionais da gasolina sofrem uma redução, enquanto os do diesel tendem a aumentar, com o uso desse combustível para aquecimento. Na prática, isso significa que, nos próximos meses, a tendência é de uma redução natural da defasagem na gasolina, que seria ainda mais rápida no caso de o governo permitir que a Petrobras eleve os preços do combustível na gasolina. No caso do diesel, mesmo com um possível reajuste, a defasagem deve permanecer.
De acordo com cálculos do CBIE, se fosse aplicado um reajuste de 10% para a gasolina e o diesel, seria gerado um ganho de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para a Petrobras de R$ 5 bilhões.
Pires, no entanto, ressaltou que, como a defasagem de preços caiu recentemente, em função do mercado externo e do câmbio, o governo pode desistir de conceder um novo aumento para evitar o impacto na inflação. “O governo esteve mais interessado em dar o aumento quando o câmbio chegou a R$ 2,45 e a situação na Síria ficou mais crítica, o que elevou o preço do [petróleo tipo] Brent para acima de US$ 110 [o barril]”, avaliou.
Na gestão de Graça Foster na presidências da Petrobras, iniciada em fevereiro de 2012, o governo já aprovou quatro reajustes de preço do diesel, que totalizam cerca de 24,5% e dois da gasolina, que somam em torno de 16%.