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Como amenizar a crise na suinocultura?

Pesquisadores de Economia e Nutrição Animal da Embrapa Suínos e Aves dão algumas dicas de como reduzir o impacto da atual crise na suinocultura brasileira.

Redação SI 11/10/2002 – Sabe-se que, historicamente (Figura 1), a suinocultura  vive em constantes crises, cujos ciclos têm duração aproximada de dois anos. Tal fato pode ser confirmado na análise dos últimos sete anos da atividade suinícola. Esta nos mostra que infelizmente na maior parte do período (1995 – 2002) o produtor operou com prejuízos. Uma das causas do período atual de vacas magras (ou de porcas magras), foi e é sem dúvida, a expansão no número de fêmeas instaladas, com descontrole entre a produção e oferta. Nos parece que os produtores através de suas associações precisam discutir melhor os incrementos de matrizes com todos os segmentos envolvidos, buscando identificar a real necessidade de se buscar aumentos na produção e oferta de carne suína. A busca da causa  da crise  é importante, todavia não basta só encontrá-la é preciso antes buscar a  “sobrevivência dos produtores”,  e depois tomar medidas de forma que as novas crises que vierem tenham menos intensidade e durabilidade.

Desta forma, se o produtor quiser continuar no mercado e obter algum lucro na atual conjuntura, o que ele pode e deve fazer, é descartar fêmeas com baixo desempenho buscando melhores resultados zootécnicos e,  de alguma forma,  reduzir os custos de produção.

Na proximidade do final do ano, sempre se verifica um aumento na demanda por derivados da carne suína, o que por sua vez gera alguma pressão sobre os preços praticados.  A possibilidade de que isto volte a se repetir neste final de ano, aliada as recentes notícias de aumentos nos preços praticados, especialmente na Região Sudeste, embora ainda um pouco tímidos e praticamente sem reflexos na Região Sul, está trazendo alguma luz (embora tênue) no fim do túnel ao produtor do Sul do Brasil.

Figura 1. Preço e custo de produção de suínos para abate, considerando número de leitões por porca por ano dento de série histórica recente.

Redução do peso de abate

O produtor de suínos, assim como todo bom gerente de empresas deve sempre buscar otimizar o uso dos fatores de produção à sua disposição. O peso médio de abate dos suínos é de cerca de 100 kg, com cinco a seis meses de idade. Entretanto, os fatores que determinam o peso de abate, tem mudado e o peso em períodos de normalidade tende a aumentar independentemente da relação de preços insumo-produto. Atualmente mesmo buscando sistematicamente a melhoria de seus índices de eficiência técnica e econômica, com a  incorporação constante de tecnologia, o produtor não consegue obter resultados positivos na atividade.  Desta forma, se não conseguir lucro na venda de seus animais, deve pelo menos tentar reduzir o prejuízo, e nesse caso  uma das alternativas que ele tem é enviar os animais com o menor peso possível para o abate.

Alguns dos principais indicadores  de desempenho da atividade suinícola são a conversão alimentar e a taxa de ganho de peso. Assim, se espera que, à medida que se alteram as relações de preços dos insumos (milho, farelo de soja) e do produto (preço pago por kg de suíno),  o ponto de máxima eficiência econômica se desloque, já que, em função da idade do animal, variam as taxas de ganho de peso médio, ou a produtividade marginal da ração. É importante então,  determinar  para as diferentes situações de preço insumos-produto qual o novo peso que maximiza o resultado ao produtor, por animal vendido. Portanto, dada a situação atual de preços dos insumos e do suíno vivo no mercado, e levando em conta os fatores de desempenho dos animais, hoje é aconselhável ao produtor enviar seus animais ao abate com o menor peso aceito pela agroindústria.

Redução do número de matrizes

Uma das razões da atual crise por que passa a suinocultura é o aumento do número de matrizes, o que gerou aumento de oferta de carne. O descarte de matrizes deve ser um dos primeiros passos a ser tomado em situações de crise. As fêmeas a serem descartadas deverão ser aquelas que apresentam pior desempenho ou que estejam muito magras ou com outros problemas como de aprumos, por exemplo. A porca é a principal unidade de produção de uma granja de ciclo completo. Quando falamos da fisiologia deste animal, devemos entender que sua “missão” na granja é produzir o maior número possível de leitões viáveis e de elevado peso. Para desempenhar esta missão, ela lança de todos os recursos visando a maior produção de leite e conseqüente aumento do peso da leitegada. Se houver restrição da quantidade de nutrientes necessários para a produção de leite, a porca irá mobilizar suas reservas corporais, perdendo peso, o que poderá resultar em atraso no aparecimento de cio pós parto e falhas reprodutivas, acarretando em maior custo de produção. Contamos com genótipos que apresentam consumo de ração muito distinto durante o período de lactação. Neste caso, deve-se seguir a recomendação dos manuais destes genótipos, evitando-se que as fêmeas sofram restrição alimentar. Em geral, porcas com nove ou mais leitões tem que consumir no mínimo seis kg de ração balanceada/dia para atender suas exigências nutricionais. Portanto é preferível reduzir o número de porcas em produção do que reduzir o fornecimento de ração para estes animais.

Restrição Alimentar

Sabe-se que a alimentação representa o maior valor relativo na composição do custo de produção dos suínos, conforme pode ser visto na Tabela 1. A restrição alimentar é um dos itens a ser considerado na redução desse custo, pois continua sendo um item lembrado nos momentos de crise da suinocultura. Entre as vantagens da restrição alimentar estão a melhoria da eficiência alimentar, a diminuição gordura carcaça e as melhores taxas de ganho no período pós restritivo. Além disso, a concentração de nitrogênio dos dejetos animais é diminuída, visto que há um aumento da digestibilidade dos  aminoácidos da dieta. A desvantagem é que aumenta o tempo necessário para o abate, uma vez que as taxas de ganho de peso são menores quando há restrição.

O quanto, quem e como  restringir ou controlar a alimentação devem ser perguntas daqueles que pretendem utilizá-la.  Uma vez que o consumo é função de vários fatores, onde a genética e a nutrição são muito importantes, o melhor é fazer uma avaliação do consumo diário de um lote de animais em dado peso de engorda e decidir por 6 a 8% de restrição em relação ao consumo voluntário. A restrição será mais eficaz para machos castrados do que em fêmeas e nas fases finais de produção (70 – 120 kg) apresenta melhor resultado. Na aplicação da restrição é muito importante que os comedouros sejam lineares, de forma que todos animais tenham acesso à ração ao mesmo tempo em que é oferecida. Isso evitará o maior consumo de animais dominantes sobre os outros de menor peso, o que aumentaria ainda mais a variabilidade do lote.

Tabela 1 – Custo de  produção  de  suíno para abate – SC  – Setembro 2002. – Em R$/animal de 100 kg de peso vivo.

Eliminar o desperdício de ração nos comedouros

Evitar o desperdício de comedouros é uma medida a ser implementada, pois sabe-se que as perdas de ração nos comedouros podem facilmente chegar a 5%. Essa perda contabiliza direta e negativamente sobre a eficiência do lote.  Os comedouros devem ser ajustados e revisados periodicamente quanto as perdas, sendo que pequenos sinais de perda de ração ao redor de comedouros podem representar de 3 a 5%.

Ingredientes Alternativos

A alimentação é o item de maior participação no custo de produção conforme pode ser visto na Tabela 1. Por isso, deve-se redobrar a atenção com a qualidade e o preço dos ingredientes. Duas situações tem acontecido com freqüência nas épocas de crise:

a. Um produto de mesma qualidade e especificação nutricional pode ser adquirido por diferentes preços;

b. Ingredientes considerados “alternativos”, muitas vezes, acabam tendo um custo maior do que o milho e o farelo de soja. Assim, características como concentração de nutrientes e seu valor econômico tem que ser levadas em consideração toda vez que se pensar em comprar ingredientes. Quando o milho e farelo de soja aumentam de preço e (ou) tornam-se escassos, ficam mais viáveis as dietas com ingredientes alternativos, mas devido as políticas agrícolas do país a disponibilidade de ingredientes alternativos é em geral baixa. Um ponto importante a considerar na busca de ingredientes alternativos é que ao se aumentar a demanda dos mesmos, tendem a aumentar de preço no mercado e ai passam a perder a vantagem diferencial que teriam pela falta ou aumento de preço dos ingredientes tradicionais (soja e milho). Por isso, sempre que se considerar a alternativa de ingredientes devemos estar atentos a disponibilidade comercial, qualidade e preços relativos aos ingredientes tradicionais, buscando a vantagem no preço, sem desconsiderar a qualidade.

De toda sorte, no presente momento valeria considerar a possibilidade de uso, como forma de diminuir o custo de produção das rações e consequentemente do custo de produção dos suínos, dos seguintes ingredientes alternativos:

Trigo e Triticale

O trigo e o triticale são cereais de inverno que os produtores de suínos devem redobrar a atenção em seus preços, pois a colheita ocorre no final do ano, justamente, na entre safra do milho. O trigo, historicamente, sempre foi destinado ao consumo humano sendo os subprodutos do seu processamento direcionados à alimentação animal, destacando-se, principalmente, o farelo de trigo e o resíduo de limpeza, erroneamente definido como “triguilho”. O triticale é um grão produzido com o destino principal para a produção de rações.

Os cultivares de trigo apresentam grande variação na composição química e valor nutricional, enquanto os de triticale são menos variáveis. Entretanto os dois cereais sofrem efeito marcante do ambiente e do clima em que são produzidos.

Na região sul do Brasil, maior produtora de trigo e triticale, não é rara a ocorrência de chuvas durante o período da colheita, levando ao aparecimento de grãos germinados, que deprecia, principalmente, o valor do trigo para a indústria moageira. Experimentos conduzidos pela Embrapa Suínos e Aves demonstraram que o trigo e o triticale são excelentes fontes de nutrientes para suínos, podendo substituir o  milho  de  maneira  satisfatória. Observou-se que houve aumento do conteúdo energético do grão com o aumento do percentual de grãos germinados. O preço deste produto tem que ser compensador, o que tem acontecido na prática, já que o valor do trigo com percentual de grãos germinados acima de 2%, muitas vezes cai pela metade do valor do trigo de melhor qualidade.

Em geral, o preço limite para compra do trigo e do triticale para uso em rações de suínos não deve ser superior a 90-95% do preço do milho.

Farinhas Animais

Outra alternativa importante para diminuir o custo de alimentação é o uso de farinhas animais, que possuem elevado teor protéico e contém fósforo em quantidades significativas. De uma maneira geral, as farinhas animais de boa qualidade (nutricional e sanitária), respeitando a legislação de não uso para ruminantes, podem ser utilizadas nas rações de suínos e aves. Uma simulação de formulações para suínos nas fases de crescimento e terminação foi feita para os preços de Outubro de 2002, encontrando-se os resultados da Tabela  2. A diminuição do custo de produção das rações foi de cerca de 6 a 12 % nessa simulação em que o farelo de soja está a preços altos no mercado conforme preços da tabela mostrada. As farinhas podem ser encontradas nos abatedouros das integrações, nos frigoríficos e nas firmas associadas ao Sindicato de Coletadores e Beneficiadores de Subprodutos Animais – Sincobesp.  Análises de qualidade devem ser solicitadas visando a garantia de qualidade (negativo para salmonela, putrefação,  sem rancificação,  etc.).

Tabela 2 – Preços  (R$/kg) das dietas de crescimento  (C1 e C2) e terminação (T1e T2) com farelo de soja e milho ou com ingredientes alternativos como farinhas de carne e ossos (FCO) ou de vísceras de aves (FSA), também disponíveis para formulação 1.

Mandioca

A raiz de mandioca pode ser uma alternativa para alimentação de suínos ?

A resposta é sim, mas devem ser tomados alguns cuidados especiais e naturalmente a resposta animal pode não ser igual a do milho se as dietas não considerarem o menor teor de proteína da mandioca in natura e o volume a ser ingerido. Por isso, deve ser fornecido concentrado com proteína entre 26 a 30 %, em quantidade controlada por fases da vida do leitão. No crescimento se oferecerá 1,1 kg e na terminação 1,5 kg de concentrado proteico e mandioca picada à vontade. A quantidade de lisina do concentrado deverá ser de 1,43%. Evidentemente que o uso de mandioca para suínos é dependente de conhecimento técnico que inclui a desativação de fatores tóxicos (HCN) da mandioca brava, uso de comedouros especiais para fornecimento de quantidades semelhantes para todos os animais ao mesmo tempo (disposição linear de comedouros para o concentrado para evitar que alguns comam mais do que outros), balanceamento da mandioca integral com concentrado proteico e mineral-vitamínico Há que se ressaltar ainda que a mandioca mantém sua qualidade ao longo do ano, sem custo de armazenagem o que pode não acontecer no sistema colonial de cultivo do milho, o qual apresenta severos danos causados por insetos e fungos com o final da safra, quando armazenado na lavoura.

Granulometria do milho

O milho é o principal ingrediente das rações e a granulometria recomendada para seu uso como alimento de suínos é ao redor de 500 a 650 micra. Milho moído finamente é um dos fatores para a ocorrência de úlceras gástricas o que pode acarretar em redução de eficiência e morte de animais. Além disso, há maior desperdício e perda de palatabilidade. Recomenda-se que se utilize a granulometria do milho próximo a 500 micra pois há um aumento da digestibilidade do milho, comparado a 650 micra, sem propiciar o aparecimento de úlceras gástricas. Para isto, é necessário promover os ajustes necessários no moinho, trocando a peneira e verificando o seu desgaste e dos marteletes, os quais influem sobre o tamanho das partículas do milho, sendo necessário certificar-se que se atingiu a granulometria correta através do uso do  granulômetro ou de outros equipamentos para esta finalidade.