Redação AI (05/10/06)- Pela primeira vez o consumo per capita de carne de frango deve superar o de carne bovina no Brasil, segundo estimativa da Safras&Mercado. A previsão é que este atinja 36,4 quilos este ano ante 35,4 quilos da carne bovina, que sempre ocupou o primeiro lugar na preferência do brasileiro mesmo com o avanço da oferta de frango desde o fim dos anos 1990. Em 2005, a carne bovina ainda estava à frente, com 36,5 quilos, enquanto o consumo per capita de frango somou 35,8 quilos.
A Safras estima ainda que o consumo de carne suína deve ficar em 11,6 quilos por habitante ante 10,4 quilos em 2005. Os números referentes ao consumo de carnes correspondem à disponibilidade interna (produção menos exportação) dividida por população estimada de 187 milhões de habitantes. O resultado é a disponibilidade per capita.
O analista Paulo Molinari, da Safras, afirma que o aumento da produção e do consumo de frango é uma tendência mundial, e que já vem se verificando no Brasil nos últimos anos. Mas em 2006 alguns fatores reforçaram esse quadro no país.
Apesar das restrições à carne bovina brasileira em alguns mercados por causa do ressurgimento da aftosa, as exportações continuam crescentes e devem chegar a 2,350 milhões de toneladas este ano, acima dos 2,098 milhões de toneladas de 2005. Já a produção de carne bovina cresce num ritmo menos acelerado – de 8,768 milhões de toneladas em 2005 para 8,940 milhões este ano. “A produção cresce menos do que o necessário para manter o ritmo de crescimento das exportações e a demanda interna”, avalia Molinari.
Ele acrescenta que à medida que as exportações avançam diminui a disponibilidade de carne bovina no mercado interno e, em decorrência, o consumo per capita é afetado. Outro efeito é nos preços do boi, em alta hoje por causa da entressafra. Ontem, a arroba era negociada a R$ 63,50 em São Paulo, segundo a Scot.
Já a situação do frango é inversa hoje. A produção segue crescente, ainda que em ritmo menor, mas as exportações devem recuar no ano por causa da retração da demanda em decorrência do avanço da gripe aviária na Ásia, Europa e África.
Segundo a Safras, a produção deve alcançar 9,420 milhões de toneladas (foram 9,348 milhões em 2005). Mas as exportações de carne de frango devem cair, de 2,762 milhões de toneladas em 2005 para 2,606 milhões este ano. O resultado é uma maior disponibilidade interna de frango. Situação que, no primeiro semestre, levou empresas como a Sadia a fazerem “liquidação” de frango no varejo.
Esses fatores afetaram o mercado este ano, mas Molinari observa que o frango já tem vantagens em relação ao bovino no que tange à produção. O ciclo de produção de frango (abate aos 40 dias ) é muito mais rápido do que os bovinos (dois a três anos). O frango também é mais competitivo do que o boi. “O frango atende a grande massa, tem preço baixo e seus subprodutos são mais acessíveis”, observa o analista.
Assim, mesmo em alta, como atualmente – ontem o frango vivo subiu mais R$ 0,05, para R$ 1,85 o quilo -em São Paulo, segundo a Jox – é competitivo.
José Carlos Godoy, secretário-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco), concorda que o frango é a opção mais barata entre as carnes, mas acrescenta que o aumento da produção e do consumo nos últimos anos decorre também da maior demanda por carnes brancas, consideradas mais saudáveis.
Pelos números da Apinco, o consumo per capita este ano deve ficar em 35,99 quilos, considerando dados até agosto deste ano, quando a disponibilidade interna somou 4,487 milhões de toneladas de carne de frango. Godoy observa, porém, que a produção e disponiblidade tendem a crescer no últmo trimestre, elevando também o número do consumo. O secretário da Apinco pondera que no primeiro semestre o número do consumo per capita estava muito mais elevado porque muitas empresas estavam estocadas, por conta da queda das exportações. Dessa forma, ele não representava a realidade.