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Cooperativas do Sul miram rentabilidade

<p>Depois de "boom", alguns dos principais grupos do país encaram reflexos do cenário desfavorável.</p>

Da Redação 16/08/2005 – Acostumadas a colher resultados cada vez melhores e a ampliar investimentos em expansão desde o início da década, as cooperativas agropecuárias da região Sul, algumas das quais figuras fáceis em qualquer ranking das maiores do país, encaram o desafio de manter o equilíbrio em um ano marcado por alta de custos, quebra da produção de grãos e câmbio desfavorável ao motor de seu avanço, as exportações.

Com faturamento comprometido pela queda física das vendas, margens por um fio e inadimplência dos associados, esses grupos partem para a safra 2005/06 mais cautelosos e procurando manter em terreno positivo sua rentabilidade, principal objetivo de qualquer agroindústria. Para tal, assistencialismo e paternalismo, ligados à origem do cooperativismo e deixados de lado no desmanche do setor nas décadas de 1970 e 1980, seguem proibidos. Nos últimos anos áureos, foi fácil manter a postura. Com os problemas atuais e seus reflexos sobre a saúde financeira dos cooperados, nem tanto.

Maior cooperativa do país, a paranaense Coamo, de Campo Mourão, já informou que deverá conseguir manter em cerca de 4,5 milhões de toneladas o volume de produtos agrícolas recebidos por seus associados este ano, mas admitiu que, por conta de preços e/ou câmbio, suas exportações de soja, milho, algodão e café deverão render US$ 150 milhões a menos que no ano passado, quando os embarques totalizaram US$ 500 milhões. O faturamento total do grupo, que alcançou R$ 3,9 bilhões em 2004, deverá recuar 20%. A também paranaense Cocamar, de Maringá, evita as projeções pessimistas, mas reconhece, como publicou o Valor, que será difícil repetir, em 2005, a receita bruta de R$ 1,2 bilhão do ano passado.

Em 2004, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), as exportações do setor atingiram US$ 2 bilhões, ante US$ 1,3 bilhão em 2003, com destaques para os embarques de soja, açúcar e carne de frango e para a performance dos grupos paranaenses, responsáveis por praticamente metade das vendas. No primeiro semestre deste ano, as exportações consolidadas se mantiveram aquecidas e atingiram US$ 1,029 bilhão (US$ 1,054 bilhão de janeiro a junho de 2003), mas sobressaíram-se os grupos paulistas – como Coperscuar e Carol -, responsáveis por 35% do total.

Afora a provável interrupção da tendência de crescimento observada nos últimos anos, os dois gigantes paranaenses confiam que atravessarão esta fase menos fértil sem maiores sobressaltos. Mas nem todas as cooperativas terão a mesma sorte. É o caso da Cotrel, uma das maiores cooperativas do Rio Grande do Sul. Abalroada pela conjunção negativa, o grupo de Erechim está negociando a transferência de ativos para outras cooperativas, mesmo caminho trilhado pela Copalma, de Palmeira das Missões.

Na crise de hoje, como na fase difícil de décadas passadas, a incorporação de uma cooperativa por outra parece uma saída natural. Mas especialistas lembram que incorporações como essas que estão em curso no Rio Grande do Sul se multiplicaram nos anos dourados, num movimento autofágico que não causou indigestões quando os negócios iam de vento em popa, mas que no momento é alvo de preocupação e discussões. Bem ou mal, necessários ou não, tais negócios representam a extinção dos já desgastados e aposentados assistencialismo e paternalismo.