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Crise impacta pequenos produtores independentes na suinocultura do Paraná

De acordo com uma estimativa do Sistema FAEP/SENAR-PR, no início de 2022, 35% dos produtores de suínos do Paraná eram independentes

Crise impacta pequenos produtores independentes na suinocultura do Paraná

A crise na suinocultura está causando mudanças na atividade no estado do Paraná. Apesar da queda nos preços dos grãos desde o início deste ano, as cotações permaneceram em níveis recordes nos últimos dois anos, aumentando os custos de produção. Os produtores independentes, que normalmente se dedicam ao ciclo completo da produção, foram os mais afetados. Como resultado, muitos pequenos criadores de suínos foram obrigados a buscar outros modelos de produção ou até mesmo abandonar a atividade. A tendência é que apenas os produtores de grande escala permaneçam na produção independente.

De acordo com uma estimativa do Sistema FAEP/SENAR-PR, no início de 2022, 35% dos produtores de suínos do Paraná eram independentes. Atualmente, essa parcela diminuiu para 20%. Levantamentos semestrais realizados pela entidade sobre os custos de produção nos polos produtivos do estado mostram que a produção independente de suínos entrou em déficit no início de 2021 e permaneceu no vermelho por quase dois anos. O setor teve um leve alívio no final de 2022, mas não o suficiente para manter muitos produtores na atividade.

Ao contrário dos produtores integrados, que recebem insumos da agroindústria e criam os suínos em suas instalações, os produtores independentes são responsáveis por todas as etapas, desde a compra ou produção da ração até a comercialização dos animais terminados. Em situações favoráveis, a suinocultura independente tende a obter margens de lucro maiores do que os integrados. No entanto, durante crises, as integradoras acabam absorvendo parte do impacto, amenizando o peso sobre os produtores integrados. Enquanto isso, os produtores independentes precisam arcar com os prejuízos sozinhos.

“São características dos dois modelos de produção. Quando as condições são favoráveis, os produtores independentes têm melhores resultados financeiros em comparação com os integrados. Porém, em tempos de crise, o produtor independente não tem nenhum respaldo. Ele está por conta própria”, resume Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Como a crise se prolongou, muitos produtores não resistiram”, acrescenta.

Muitos dos produtores independentes que deixaram a atividade tinham dedicado grande parte de suas vidas ao setor. Um desses produtores, que preferiu não se identificar, atuou de forma independente na produção de suínos por 47 anos. No entanto, não conseguiu suportar a crise prolongada. No início deste ano, vendeu sua propriedade, recebendo o pagamento parcelado ao longo de seis anos. Ele lamenta a falta de articulação e organização na cadeia produtiva. “Tive grandes prejuízos. Prefiro nem falar muito sobre isso, porque muitas pessoas não gostariam de ouvir”, resume.

Outro aspecto importante é que a suinocultura independente está intimamente ligada à tradição familiar, sendo uma atividade transmitida de geração em geração. “Vemos produtores com mais de 30 anos abandonando a atividade. Isso é triste porque, além do aspecto econômico, a suinocultura fazia parte da história de vida dessas pessoas. A suinocultura está fortemente ligada à cultura e à herança familiar, envolvendo o aproveitamento integral do animal e a produção de embutidos consumidos em família”, observa Nicolle. “Mas o produtor não deve encarar a saída da atividade como um fracasso. É algo resultante desse momento de rearranjo pelo qual o mercado está passando”, conclui.

Apenas os produtores de grande porte permanecem

Os pequenos produtores independentes foram os mais afetados pelos momentos difíceis. Com recursos limitados, eles tinham menos condições de resistir à crise prolongada. Os criadores de suínos em granjas maiores, embora também tenham enfrentado dificuldades nos últimos dois anos, tinham meios para reduzir, pelo menos em parte, o impacto negativo, seja negociando melhores preços na compra de insumos devido à sua escala maior, seja por meio de capital de giro. A expectativa é que os produtores de maior porte permaneçam na atividade e, em alguns casos, absorvam a produção dos menores.

“A produção independente está se orientando para a quantidade, para o volume de produção. A tendência é termos produtores muito maiores, com até 10 mil fêmeas alojadas. A produção precisará ser realizada em larga escala para diluir os custos”, projeta Nicolle. “Já temos casos de produtores independentes que estabeleceram mini-integrações, fazendo parcerias com pequenos produtores”, destaca.

Deborah de Geus, presidente da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura da FAEP, destaca outro fator econômico que pressionou os produtores independentes: os constantes aumentos nas taxas de juros. Isso fez com que os suinocultores não conseguissem ter acesso a crédito para enfrentar momentos de crise aguda. Além disso, as altas taxas de juros impediram que os produtores fizessem melhorias em suas granjas, o que afetou os indicadores zootécnicos do negócio. Mais uma vez, os produtores de pequeno porte foram os mais prejudicados.

“O produtor independente precisa ter capital de giro para sustentar a atividade. No entanto, eles não têm dinheiro para obter empréstimos bancários porque os limites de crédito estão restritos. Quando há disponibilidade de dinheiro, as taxas de juros são muito altas. Então, há produtores que realmente decidiram abandonar a produção. Outros optaram por migrar e buscar integração em que possam ser incorporados”, diz Deborah. “Na região Sul do Brasil, todos os produtores independentes de suínos estão sofrendo”, destaca.

“Vários fatores nos levaram a fazer a mudança”

A própria presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP, Deborah de Geus, também passou pelo processo de adaptação que a atividade está enfrentando. A agroindústria de sua família, localizada nos Campos Gerais, está envolvida na produção de grãos e suinocultura independente. Os suínos são entregues a uma cooperativa regional, que optou por verticalizar a produção, centralizando a criação de leitões e transferindo as demais fases produtivas para os cooperados. A família de Deborah, por exemplo, agora se dedica à fase de terminação, com 5,5 mil animais finalizados.

“Houve vários fatores que nos levaram a fazer essa mudança. Houve um novo planejamento estratégico da cooperativa ao qual tivemos que nos ajustar. Além disso, nossa granja já é antiga e estamos em uma área consolidada. Não tínhamos como expandir mais, o que dificultaria a redução de custos”, explica.