Os preços pagos aos criadores de aves e suínos devem se manter remuneradores pelo menos até o primeiro semestre de 2015, quando se saberá se a safra de grãos do Brasil e dos Estados Unidos repetirá a atual. O cenário positivo para o setor começou a se desenhar neste semestre, com custo de produção em queda por conta dos preços mais baixos dos grãos e de valores mais altos para as carnes, que refletem a demanda aquecida nos mercados interno e externo e em especial a acelerada alta do boi gordo.
Em Santa Catarina, principal produtor de suínos, o preço médio do animal vivo avançou 20% entre janeiro e outubro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Enquanto isso, o custo de produção caiu 3,13% no período, conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Já o preço pago ao avicultor do Paraná teve alta de 3,9% do início do ano até outubro, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura. No período, o custo de produção no Estado acumula queda de 4,09%, segundo a Embrapa.
O quadro tem sido particularmente favorável ao produtor independente, que pode negociar os insumos direto com o vendedor, o que não acontece com o integrado, que recebe os produtos necessários da indústria com a qual fechou contrato. “No caso do criador de frango, praticamente todos são integrados. Nos suínos, há maior participação de independentes, então os produtores conseguem uma margem melhor”, destacou em entrevista o pesquisador Sergio De Zen, do Cepea.
Losivânio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), diz que em Santa Catarina os criadores integrados recebem cerca de R$ 3,96 por quilo do animal, enquanto os independentes conseguem R$ 4,85 por quilo. Lorenzi relativiza a diferença, lembrando que o risco da produção independente é maior, pois é mais afetada em momentos de crise, como no ano passado, quando os produtores tiveram perdas importantes. “Com a capitalização desses últimos meses, o produtor independente conseguiu colocar as contas em dia e investir em tecnologia para melhorar a produtividade”, destaca.
No caso da criação de frango, a remuneração do criador integrado depende de seus resultados, como excelência em ganho de peso, menor índice de mortalidade ou adoção das regras de biossegurança da empresa, explica José Eduardo Santos, diretor executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). No entanto, ele pondera que, apesar das variações nos contratos, “pelo bom desempenho do setor o produtor consegue negociar com a indústria e buscar preços mais elevados”.
Investimento
No Paraná, principal produtor e exportador de frango, Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), informa que os criadores estão aproveitando o momento para investir na modernização das granjas. “Para investir em granjas de alta tecnologia o produtor tem de ser bem remunerado.” Rogério Gonçalves, diretor administrativo do grupo GTFoods, também no Paraná, observa um maior interesse na construção de aviários. “Produtores querem investir também em eficiência de produção, que irá melhorar seus resultados e refletir em melhor remuneração e redução de gastos.”
Perspectivas
Para o próximo ano, a expectativa é de que o cenário permaneça favorável. “A safra grãos volumosa nos Estados Unidos deve colocar forte pressão nos preços internacionais, o que dá tranquilidade para os transformadores de proteína, que obtêm maiores margens de lucro”, aponta Domingos Martins, do Sindiavipar. José Eduardo Santos, da Asgav, no entanto, pondera que apesar dos preços mais baixos hoje as cotações no primeiro semestre estiveram firmes, em especial no Sul do Brasil. “Agora estamos respirando um pouco, mas temos consciência de que os preços não vão permanecer sempre nesses níveis”, afirma.
Os preços da ração estão mais baixos, mas Rogério Gonçalves, do grupo GTFoods, destaca outros custos que variaram pouco ou não variaram. “No Paraná, tivemos uma redução de 20% na conta de energia no início do ano, e agora, um aumento de 28%”, afirma. “Estamos próximos dos preços de um ano atrás.” Losivânio Luiz de Lorenzi, da ACCS, diz que energia tem peso importante na atividade mas vê menor impacto neste momento. “Como temos uma lucratividade considerável, os aumentos não são significativos para tirar a boa margem”, ressalva.
Além da demanda interna aquecida por todos os tipos de carne, movimento característico de todo o fim de ano, as exportações brasileiras estão em alta, com abertura de mercados e maior volume comprado pela Rússia, que adotou restrições à União Europeia e Estados Unidos. Até outubro, a receita das exportações de carne suína avançou 16,5% na comparação anual, para US$ 1,219 bilhão, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Já com os embarques de carne de frango, a receita teve alta de 2,8%, para US$ 5,757 bilhões.
“Com o embargo russo e problemas sanitários nos EUA (no caso dos suínos), o Brasil passa a ter papel importante como exportador, e isso deve se manter nos primeiros meses de 2015”, afirma Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). Lorenzi revela que, em virtude da Diarreia Epidêmica Suína (PED, na sigla em inglês) nos Estados Unidos, o Brasil passou a exportar também para o país. “Sabemos que não vai durar muito, mas acredito que nos primeiros meses de 2015 essa demanda ainda vai ajudar o setor”, conclui.