As vendas de etanol hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos, seguiram fortes no mês de setembro para desconforto de alguns agentes do mercado que acreditam que não haverá oferta suficiente para esse nível de demanda. As opiniões são divergentes, mas há os que estimam que os preços do etanol ao consumidor podem aumentar até 21% daqui até o primeiro trimestre de 2014, caso se confirme o reajuste da gasolina na casa dos 5%, conforme declaram representantes do governo.
A alta seria necessária para que não haja uma explosão do consumo de etanol após a alta da gasolina. Com esse ajuste, a paridade do preço do etanol com o da gasolina, hoje na casa dos 64% no Estado de São Paulo, chegaria a 73%. O Estado concentra 40% do consumo nacional do biocombustível. Ao motorista, só é viável do ponto de vista econômico abastecer com etanol quando o preço do combustível vale menos que 70% da cotação da gasolina.
Mas, segundo o especialista da consultoria FG Agro, Thiago Campaz, é no patamar de 73% de paridade que tende a ocorrer uma redução de consumo de etanol em níveis suficientes para reduzir o consumo do biocombustível a patamares mais condizentes com a oferta projetada.
Essa demanda de “equilíbrio” seria, segundo cálculos da FG Agro, na ordem de 1,120 bilhão de litros de hidratado por mês até fim de março do ano que vem. Mas há três meses, as usinas vendem às distribuidoras de combustíveis mais do que esse volume.
Em setembro, foram 1,144 bilhão de litros. Em julho e em agosto, essa comercialização mensal ficou acima de 1,2 bilhão de litros, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Analistas consideram que o número de setembro mostra estabilidade em relação aos dois meses anteriores. Isso porque, segundo Campaz, julho e agosto têm cada um 31 dias, enquanto setembro, 30. “Cada dia significa vendas de 40 milhões de litros. Assim, tecnicamente, o consumo permaneceu o mesmo”, diz o especialista da FG Agro.
Campaz avalia que, para trazer o consumo atual para os patamares de “equilíbrio”, os preços do etanol hidratado para a usina teriam que sair dos níveis atuais de R$ 1,10 por litro, para R$ 1,27 – líquido de impostos, posto em Paulínia (SP).
Mas, se de fato, houver um aumento de 5% no preço da gasolina A, o etanol hidratado na usina vai ter que subir mais para frear o consumo nos postos. A FG Agro calcula que esse valor teria que sair do patamar de R$ 1,10 por litro para R$ 1,33, um aumento de 21%.
O presidente da SCA Trading, uma das maiores comercializadoras de etanol do país, Martinho Seiiti Ono, concorda que a oferta de hidratado é apertada até o fim da safra, em março. No entanto, acredita que será suficiente para atender uma demanda de 1,080 bilhão de litros mensais daqui até meados de abril.
O volume é menor do que o consumo efetivo de 1,1 bilhão a 1,2 bilhão de litros registrado nos últimos três meses. Mas Seiiti Ono defende que os meses de janeiro e fevereiro tendem a trazer compensações nesse equilíbrio uma vez que, sazonalmente, são os de menor demanda.
Assim, considerando as projeções atuais de produção de etanol – oferta para o mercado interno de 7 bilhões de litros -, Seiiti Ono acredita que não será necessário frear o consumo e nem será preciso aumentar os preços. “Essa avaliação não considera o imprevisível, ou seja, excesso de chuvas neste fim de safra, por exemplo”, diz o executivo da SCA.
O quadro de abastecimento também não muda se houver um reajuste nos preços da gasolina A de 5% na refinaria, segundo Seiiti Ono. Isso significaria, segundo ele, um aumento de R$ 0,10 por litro no preço do derivado fóssil ao consumidor e de R$ 0,07 no preço final do etanol hidratado. “Se a paridade se mantiver a mesma, na casa dos 64% em São Paulo, a condição de oferta e demanda continua a mesma”, afirma.
Além do Estado de São Paulo, também é viável ao consumidor abastecer com etanol em Goiás, Paraná e Mato Grosso, onde a paridade com o preço da gasolina é de 64%, 66% e 65%, respectivamente.