Redação (04/11/2008)- O suinocultor de Santa Catarina já começa a sentir os efeitos da crise internacional. Com as agroindústrias com dificuldades para exportar, o preço do suíno que atingia patamares recordes, acima de R$ 2,70, em média, no início do segundo semestre, fechou outubro em queda e inicia novembro com o aprofundamento deste recuo.
De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária de SC (Epagri), o preço médio para o suinocultor em Chapecó fechou outubro a R$ 2,84, ainda acima dos R$ 2,78 de setembro, mas já encerrou o mês passado a R$ 2,57. E uma nova sinalização de queda foi dada ontem pelo Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados em SC (Sindicarnes-SC), referência deste mercado, que reduziu o quilo do suíno vivo para os produtores integrados para R$ 2,25.
"Há dois meses, as agroindústrias tinham um planejamento de produção para um cenário de mercado consumidor crescente, com fortes volumes, mas isso se inverteu totalmente", diz Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados em SC (Sindicarnes-SC). Segundo ele, há neste momento uma readequação das agroindústrias em relação ao que haviam planejado de vendas. "Muitos clientes no exterior estão querendo renegociar preços, há dificuldades de crédito também nos países compradores e queda de demanda", afirma.
Até agora, apenas a Coopercentral Aurora anunciou férias coletivas em uma unidade catarinense de produção de suínos localizada em Joaçaba, por conta dos estoques altos, mas Gouvêa diz que as demais empresas do setor estão também "monitorando a situação".
As agroindústrias há duas semanas eram clientes firmes no mercado dos produtores independentes (aqueles que não são integrados às empresas), comprando suínos mesmo a preços bem mais altos, com o quilo em torno de R$ 3,30, para atender contratos fechados no exterior. Mas nos últimos dias, segundo os suinocultores, essas empresas deixaram de comprar neste mercado.
"As agroindústrias saíram no mercado e o preço recuou. Foi uma perda em poucos dias de R$ 100 por suíno vivo de 100 quilos", exemplifica Euclécio Pelizza, suinocultor de Xavantina (SC). Antes, Pelizza diz que o preço do suíno de 100 quilos estava em R$ 320; agora, está perto de R$ 220. Edilson Spironelli, produtor independente de São José dos Cedros, diz que chegou a vender o quilo a R$ 3,60 no início de outubro, mas agora sofre para obter R$ 2,25.
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Wolmir de Souza, diz que a maior dificuldade do setor está na venda à Rússia, que deixou de importar carnes por falta de linhas de crédito. Embora Santa Catarina não tenha plantas habilitadas para vender à Rússia, sofre os efeitos do problema pelas dificuldades enfrentadas por outros Estados. Outros mercados, como Ucrânia, Hong Kong e Cingapura, também estariam revendo as negociações.
O recuo de preços acontece em um momento que tradicionalmente seria de alta por conta do aquecimento do mercado doméstico para as festas de fim de ano. Gouvêa diz, no entanto, que já há sinais de desaceleração de vendas no mercado brasileiro, como reflexo da crise, e afirma também que as empresas já estão se programando para o recuo mais forte que é verificado sazonalmente entre janeiro e fevereiro.