Redação (27/11/06) – O Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) deve aprovar, em reunião de meados de dezembro, uma tentativa de “blindar” a empresa dos efeitos do jogo de interesses partidários.
Escolha de dirigentes vai privilegiar a experiência de gestão, diz Silvio Crestana |
Os seis conselheiros devem estabelecer novas regras e critérios para a seleção de candidatos à direção da Embrapa, que são posteriormente submetidos à escolha do presidente da República por meio de uma lista tríplice. “Vamos estabelecer em lei um processo de escolha dos dirigentes que privilegie a competência e a experiência de gestão”, disse Silvio Crestana, presidente da Embrapa, ao Valor.
Subordinada ao Ministério da Agricultura, a Embrapa desperta a cobiça de políticos da bancada ruralista, de petistas e de movimentos sociais e sindicais ligados ao setor agropecuário. A força política da estatal está no poder para determinar a ênfase nas linhas da pesquisa agropecuária. Há grupos internos que defendem foco exclusivo na produção agropecuária. Outros, querem dirigir os esforços para a área ambiental.
Há, ainda, os defensores da prioridade aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. A empresa já foi alvo de uma feroz disputa entre esses grupos na gestão do ex-ministro Roberto Rodrigues, quando o então presidente, Clayton Campanhola, decidiu alterar as prioridades de pesquisa. Abriu-se um guerra de bastidores, que culminou com a queda de Campanhola, apadrinhado pelo ex-ministro e amigo pessoal de Lula, José Graziano.
Como ativos estratégicos, a Embrapa oferece as centenas de tecnologias patenteadas, o conhecimento agregado de seus 2,3 mil pesquisadores – outros 300 serão contratados até janeiro. Além disso, a estatal tem a infra-estrutura e a logística de seus 37 centros de pesquisas espalhados pelo Brasil. Nos últimos cinco anos, a Embrapa lançou mais de sete mil produtos.
Governadores também participam do lobby de olho na criação de novas unidades em seus Estados. Mato Grosso, Espírito Santo, Alagoas, Rio Grande do Norte, Maranhão e Tocantins não têm a presença da estatal. Cinco células regionais da nova unidade dedicada à agroenergia terão R$ 36 milhões. No ano que vem, a empresa terá um orçamento total de R$ 1,04 bilhão. Serão R$ 252 milhões para custeio e investimento. Mais importante: a Embrapa está imune aos contingenciamentos (congelamentos de orçamento) impostos a outros órgãos federais.
O Conselho de Administração da Embrapa também buscará a criação de mecanismos para evitar a “fuga de cérebros”. O objetivo é adaptar-se ao programa federal de estímulo à contratação de cientistas doutores por empresas privadas, que prevê subsídios de R$ 60 milhões. Hoje, 200 pesquisadores estão licenciados. A estratégia da Embrapa será criar sociedades de propósito específico (SPEs) com empresas privadas. “Será um modelo institucional inovador, que vai gerar a repartição de riscos e benefícios entre os setores público e o privado”, afirma Crestana.
O presidente do conselho é o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Luiz Gomes. Os demais membros são o próprio Silvio Crestana, além dos representantes da comunidade científica, Ernesto Paterniani; e do setor privado, Hélio Tollini. Também compõem o órgão os indicados pelo governo: Cláudia Santos Viegas (Ministério da Fazenda) e Alexandre Kalil Pires (Planejamento).