Redação SI 22/04/2003 – A falta de abatedouro local e os baixos preços pagos aos suinocultores estão impedindo o escoamento de animais das granjas do noroeste gaúcho. Na Grande Santa Rosa, cerca de 35 mil exemplares estão represados nas propriedades.
O período de mais de 45 dias em que o Frigorífico Chapecó não recebe e comercializa animais é um dos motivos apontados para a superpopulação nas granjas. Responsável anteriormente pelo abate de 2,2 mil animais por dia, a empresa suspendeu a atividade no final de fevereiro e deve retomá-la com o reinício das exportações para a Rússia e a definição de cotas de importação pelo país.
Com a interrupção, os frigoríficos próximos não conseguem absorver toda a oferta da região, afirma o presidente da Associação de Criadores de Suínos de Tuparendi e Tucunduva, Roque Avrella:
– Teria que vender de 400 a 500 animais por semana, mas consigo negociar apenas 120. Já tenho mais de 2 mil suínos prontos para abate.
Avrella acredita que o ingresso de animais de Santa Catarina está aumentando a oferta nos frigoríficos. O preço pago aos criadores é outro entrave para o escoamento. Muitos aguardam que o Chapecó retome os abates com valores diferenciados, devido às exportações. Em média, o quilo está cotado em R$ 1,48, valor que não cobre os custos de produção, de R$ 1,85.
Frete representa custo adicional
Com o Chapecó parado, os suinocultores ainda têm prejuízos no transporte para outros frigoríficos.
– Não temos como negociar a esse preço. Ainda teremos custos com frete e a queda de peso dos animais no transporte – diz Vitor De Conti, presidente do Núcleo de Criadores de Santa Rosa.
Mais de mil suínos do plantel de 4,8 mil da família de Emar Marin já estão passando do ponto ideal para o abate: o peso entre 90 e 110 quilos. Represados nas granjas do interior de Tuparendi, os animais, alguns com 140 quilos, representarão prejuízo de R$ 40 mil se forem vendidos com o preço de mercado. Estão incluídos no cálculo os custos com a alimentação dos suínos que já deveriam ter sido abatidos. Marin tem esperança de que o Chapecó retome os abates nesta semana e implante preço diferenciado devido às exportações:
– Há duas semanas, vendi duas cargas (de 125 animais cada) só para não acumular. Na semana passada, tive que carregar outra.
Marin diz que há dois anos opera no vermelho, devido à crise no setor. A atividade, que passou de pai para filho, garante 14 empregos diretos.
A reportagem de Zero Hora tentou contato com a direção do frigorífico Chapecó, em São Paulo, ao longo da semana passada, mas não obteve retorno.