Redação SI (14/08/06)- A cadeia suinícola gaúcha começou o ano temerosa e deu a volta por cima. O setor que ansiava pelo fim do embargo russo à carne brasileira devido aos focos de febre aftosa detectados em Mato Grosso do Sul e no Paraná no final de 2005 vive, agora, um segundo semestre estável e marcado por um recorde histórico na fatia de exportações em contexto nacional.
Desde o começo de abril, o Rio Grande do Sul é, oficialmente, o único Estado brasileiro a vender carne suína para o mercado russo. Respondendo normalmente por uma média de até 27% nas exportações brasileiras, o Estado costuma figurar em segundo lugar no ranking de principais produtores do país, ficando atrás de Santa Catarina.
O Sindicato da Indústria de Produtos Suínos no Estado (Sips) estima que o Rio Grande do Sul esteja exportando 75% da carne suína produzida no Brasil, a maior parte para a Rússia, o principal mercado consumidor. O reflexo imediato do incremento nas vendas pode ser verificado no campo, nos frigoríficos e na projeção de crescimento do faturamento para o ano de 2006. A suinocultura gaúcha, que fechou 2005 tendo arrecadado US$ 285 milhões, neste ano prevê ganhos de US$ 360 milhões.
Até abril, estávamos apreensivos. Hoje, vivemos um período estável e histórico. Estamos trabalhando na plenitude da nossa capacidade de criação e de abate de suínos comenta o diretor executivo do sindicato, Rogério Kerber.
Outros fatores explicam o atual contexto favorável na suinocultura gaúcha. Os preços do milho e do farelo de soja, usados como ração animal, se estabilizaram.
O clima de estabilidade no setor fez com que o suinocultor Orlando Germano Konzen, 56 anos, investisse este ano na instalação de biodigestores nas granjas que mantém em Nova Candelária e Santa Rosa. Dessa forma, Konzen poderá dar melhor destinação aos dejetos dos animais. Dos 131 mil suínos que Nova Candelária produziu no decorrer do ano passado, 121 mil animais saíram das propriedades deste suinocultor, considerado um dos maiores no Estado.
É um projeto antigo que pude colocar em prática. Estou investindo cerca de R$ 250 mil afirma.
Em Picada São Gabriel, no interior de Cruzeiro do Sul, o suinocultor Ilânio Pedro Joner, 61 anos, também se diz satisfeito com o mercado suinícola. Na propriedade, onde cria uma média de 120 suínos ao mês, entre matrizes, reprodutores e animais para abate, a renda cresceu 10% em relação ao mesmo período do ano passado.
E, para ajudar, os insumos estão com um preço controlado este ano. Acho que vivemos um período bom, de calmaria diz o produtor.
O presidente da Associação de Criadores de Suínos do Estado (Acsurs), Valdecir Luis Folador, concorda que deva haver um controle sanitário animal mais efetivo e organizado em território nacional. Mas além desse desafio, o dirigente ainda levanta a problemática do consumo da carne no mercado interno. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Suínos e Aves, de Concórdia (SC), os brasileiros consumiram 2,084 milhões de toneladas de carne suína em 2005. Deste total, 70% correspondem a produtos industrializados.
O brasileiro ainda não tem a cultura de comer a carne suína in natura. Ele prefere comê-la industrializada, como embutidos de lingüiças e salames. Acho perigoso dependermos tanto do mercado externo para fazermos nossa cadeia produtiva funcionar analisa Folador, que propõe a oferta de cortes suínos melhor elaborados nos supermercados como medida para se conquistar o paladar do brasileiro.