Da Redação 29/07/2004 – 06h28 – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu ontem que o governo não tem capacidade de atender à procura do setor agrícola por crédito. “A demanda por financiamentos cresceu muito”, afirmou, ressaltando que isso é resultado do aumento da área plantada, da elevação do padrão tecnológico e do aumento do custo dos insumos, principalmente dos importados.
“Eu vivo reclamando que o Estado acaba se transformando num freio para o desenvolvimento e não numa alavanca”, disse o ministro, ao instalar a Câmara Temática de Financiamento e Seguro do Agronegócio. Rodrigues disse ainda que a implementação do seguro rural, outro ponto que será debatido pela câmara, depende de recursos para a criação de um fundo para equalização de taxas e verbas adicionais para prêmios subsidiados, entre outros aspectos.
“E esses recursos não estão visíveis”, admitiu. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, informou que serão liberados R$ 20 milhões para subvenção do prêmio do seguro este ano e acrescentou que os recursos para 2005 estão sendo negociados com a área econômica. O Ministério da Agricultura defende uma verba de R$ 50 milhões.
Rodrigues observou que, junto com o Plano Agrícola e Pecuário 2004/05, o governo lançou papéis para aumentar o financiamento do setor, mas ressalvou que a absorção desses papéis pelo mercado “é demorada”. “E nós temos pressa, a demanda é maior do que nossa capacidade de atender”, disse o ministro, lembrando que a iniciativa privada havia pedido R$ 56,2 bilhões em créditos de custeio, mas o plano de financiamento anunciado pelo governo prevê apenas 60% desse total. Rodrigues destacou ainda a necessidade de parcerias com a iniciativa privada para investimentos em logística e infra-estrutura.
Mesmo com a limitação de recursos, os financiamentos para o setor têm crescido. De acordo com Wedekin, na safra 2003/04, encerrada em 30 de junho, o setor agrícola recebeu R$ 37,905 bilhões, incluindo todas as fontes de recursos. A previsão inicial era de liberação de R$ 32,55 bilhões. No ano-safra anterior, 2002/03, haviam sido aplicados R$ 29,974 bilhões.
Para programas de custeio e comercialização da produção agrícola, foram liberados R$ 19,246 bilhões na safra passada, valor acima dos R$ 16,4 bilhões programados para o período. Na semana passada, Wedekin havia informado que as liberações para projetos de investimento chegaram a R$ 7,011 bilhões, ante previsão inicial R$ 5,75 bilhões. Para a safra 2004/05, o plano do governo prevê R$ 39,45 bilhões para a agricultura comercial e R$ 7 bilhões para pequenos produtores familiares.
Durante a reunião de instalação da nova câmara, o presidente da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Manoel Félix Cintra Neto, apresentou dados sobre a negociação de contratos de comercialização de produtos agrícolas. Segundo Cintra, que foi escolhido para presidir a câmara, no primeiro semestre foram negociados 484.762 contratos na BM&F, um crescimento de 43,24% em relação aos 338.431 contratos dos primeiros seis meses de 2003. Ele avaliou que o aumento foi puxado pela negociação de contratos de boi gordo (elevação de 112%), milho (71%), café (49%) e açúcar (29%).